Liberte-se

Capítulo I - Ligados por Sangue / Parte 23: James Morris

"Porra, porra, PORRA!", soquei o volante de meu carro.

Queria muito olhar nos olhos dele, enfrentá-lo, matá-lo naquele momento, mas tive medo... Não estava preparado. "Você não passa de um moleque." Senti-me fraco e hesitante, pois o desgraçado não demonstrava o menor grau de preocupação; como se não desse a mínima para o bilhete que recebera. Ele estava feliz! Por Deus, ele estava feliz!

Acendi um cigarro; precisava acalmar-me. Perder a calma não era bom. Nunca fora. Não. Não. Lembre-se do que acontecia quando você perdia a calma! Não perca a calma! Tantas vozes; tantos pensamentos.

Podia vê-lo naquele instante, conversando com um garçom. Por que diabos ele estava tão bem? Perguntava-me. Talvez eu o tivesse subestimado; talvez ele... E então vi o infeliz entregando uma pequena caixa para o rapaz com quem confabulava – estava do outro lado da rua, mas era possível vê-lo, pois estava muito próximo a uma das grandes janelas. Senti-me um estúpido por não ter notado antes; o lugar, o sorriso, as vestimentas que usavam, o vinho – e como ele ainda tinha a audácia de colocar um maldito trago na boca? Era tão óbvio que eu tinha passado despercebido para ele.

"É CLARO!", gritei dentro do carro. Ele iria pedi-la em casamento naquela noite. Desgraçado...

Dei um último trago e lancei o cigarro pela janela. Sabia exatamente o que seria feito; para onde deveria ir. Seria um maldito descaso de minha parte não presenteá-lo por tal momento; deveria oferecer meu tributo ao noivo.

Girei a chave do carro e postei minhas mãos sobre o volante; minha camiseta afastou um pouco com o movimento, revelando as escritas na altura de meu pulso.

"Lembre-se do motivo e não se desvie do caminho."

Apertei o cordão em volta de meu peito antes de acelerar o carro.

"Sua hora chegará em tempo oportuno, Edgar Visco. Está na hora de pagar suas dívidas, Edgar. Pagar seus pecados... E eu... Eu serei o cobrador. Aguarde-me."

A noite estava apenas começando.