Capítulo VI - O Epitáfio e o Espetáculo / Parte 3: Edgar Visco

1.5K 160 0
                                    

Ainda com a roupa da noite anterior e com o coração sentido, acordei. Espreguicei-me, checando o visor do celular ao lado. Nenhuma ligação. A raiva que sentira de mim dera espaço para tristeza.

Disquei mais um par de vezes. Nada.

Linda... O que foi que eu fiz?

Fui ao banheiro e mal me olhei no espelho; sentia vergonha do meu próprio reflexo. Banhei-me e voltei ao quarto, com a toalha enrolada na cintura. Lembrava-me de ter jogado o casaco próximo à cama – o casaco que guardava alguns trocados que ganhei do Sr. Keller. Encontrei-o e peguei o envelope.

Vesti roupas limpas – camisa, calça, sapato e um outro casaco, no qual coloquei o envelope – e desci para o carro. Felicitava-me não ter vomitado dentro do veículo; o cheiro seria nauseante.

Dirigindo, não sabia ao certo para onde iria. Se houvesse a opção, desejaria dirigir para algum lugar que me levasse alguns dias de volta ao passado... Faria diferente.

Parado em um sinal vermelho, olhando os casais passando pelas calçadas, senti uma pontada no peito. Recordei-me de quando andava da mesma maneira com Linda frente à uma exuberante floricultura; lembrei-me, sorrindo, inclusive das palavras de minha amada. "Que lindas, Eddie! Quando ganharei flores assim?", referia-se às rosas vermelhas. Nunca reparara muito nas flores que via ao longo de sua vida, mas duvido ter visto outras tão belas quanto aquelas; porém eram tão caras quanto poderiam ser.

O sinal ficou verde e por um momento não soube para onde seguir. Escutei algu¬mas buzinas atrás, mas estas não importavam. Acelerei, devagar, até que me lembrei do envelope no casaco. Sorri; um sorriso tão esperançoso quanto meu ouvido momentos antes, esperando por ouvir a voz de Linda do outro lado da linha. Compraria aquelas rosas. Oh, sim, compraria!

A despeito de ser um maldito domingo, segui para a Flor da Noite – a maior floricultura de Circodema e provavelmente da região –, à medida que o sol se punha. Lugares que cobravam aquele preço possuíam esta vantagem: todo dia era dia de ganhar uma nota. Domingo não seria diferente.

Liberte-seOnde as histórias ganham vida. Descobre agora