Capítulo VIII - Liberte-se / Parte 11: Edgar Visco

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O almoço fora extremamente bem-vindo, ambos nos satisfizemos.

Voltando à delegacia, já na entrada, fomos surpreendidos por Rachel Lull. Começava a tarde.

"George. Edgar", cumprimentou-nos. "Estava procurando vocês".

"Os resultados saíram?", George perguntou.

"Sim."

"E...", emendei.

"Há traços de fortes medicamentos, mas mesmo com o sangue não temos registro em nossa base de dados. É como se não tivéssemos saído do lugar." Entreolhamo-nos. "Lamento muito..."

"Está tudo bem", George a confortou.

"E o que faremos agora, senhor?"

"Aguardamos", intervi. "Cubra essa maldita cidade com viaturas. A não ser que ele tenha fugido ou morrido, irá aparecer e, quando isto acontecer, temos que estar preparados." Suspirei. "Preciso descansar..." Segui para o escritório de George.

Frustrante. Muito frustrante.

"Continuarei na busca", Rachel afirmou, voltando-se para o laboratório.

"Edgar..." George postou a mão sobre meu ombro. Virei o rosto. "Algo o incomoda?"

"Não sei, George... Tenho essa sensação, esse sentimento forte, de que não podemos falhar. Eu não consigo explicar melhor, mas isto está me inquietando há algum tempo já."

"Não se preocupe, encontraremos o bastardo".

"Sei que sim..." Uma hora o encontraríamos, isto era tão certo como o sol que brilharia no outro dia. "Só temo que quando o fizermos seja tarde demais."

George acompanhou-me até o escritório. Sentou-se em sua mesa, ao mesmo tempo em que me sentei no sofá.

"Você se importaria se eu descansasse um pouco, George? Foi uma noite extremamente longa para mim".

"À vontade, Eddie. Não podemos fazer nada, a não ser aguardar, mesmo. Caso algo novo aconteça eu te aviso." Levantou-se. "Aproveitarei para ver Gisele", colocou a mão sobre o peito. "Ela tem estado preocupada desde... bom...", apontou para o rumo do coração.

Já saía quando me chamou novamente.

"Edgar."

"Sim?"

"O encontraremos. Não se preocupe."

Assenti em resposta, tornando a descansar a vista.

***

Os sonhos nos dizem muito sobre nossas próprias vidas. Um mundo que cons¬truímos e apenas nós temos acesso. Questiono-me se no universo há algo tão ín¬timo; tão sublime. Fora-nos dada a capacidade de criar uma infinidade de coisas, um escape da realidade. Tão generoso quanto cruel, visto que todos já tivemos maravilhosos sonhos como terríveis pesadelos. Cada um trazendo suas metáforas sobre a própria vida e sobre nós mesmos, nossos desejos e medos em sua singu¬laridade. Alguns subestimam o poder dos sonhos, outros preferem vivê-los como se fossem uma segunda vida – e quem dirá que não são?

É sábio, porém, não ignorá-los.

***

"Eddie... Eddie! Acorde!", uma voz me chamava.

Abri meus olhos, lentamente, reconhecendo a voz. Meu coração acelerava.

"Vamos, Eddie! Acorde, meu caro! O tempo está correndo e você está ficando para trás."

Meus olhos se abriram completamente. "Glenn?" Entrei em choque. "É você mesmo? Como é possível?!" Apoiei-me em meus braços, confuso.

"Isso não é importante, Eddie boy", Glenn disse, olhando o horizonte. Estávamos no topo de uma porra de uma montanha. "Você tem que agir", virou-se pra mim. O rosto mal barbeado, o cabelo castanho ondulado e os olhos firmes faziam com que fosse impossível confundi-lo. Era ele. "E logo."

Vestia roupas casuais e o vento batia, soprando sua franja.

"Agir? Mas como?" Olhei para os lados. "Eu estou morto?"

"Não, Edgar... Mas você está ficando sem tempo. Acorde!", insistia.

"Eu não entendo, Glenn! Tempo para quê? O que vai acontecer?"

"Você sabe, Eddie. O tempo corre! Acorde!!"

"Como posso saber? Me diga! Como você está aqui, afinal? E onde estamos?!"

"Sou apenas a porra de uma manifestação da sua mente, Eddie... Deus! Você precisa me ouvir... ACORDE!"

Fitei o vazio infinito atrás de Glenn. O céu azul que cercava a montanha. "Como..?", perguntei.

Glenn olhou nos meus olhos. Senti o meu peito apertar. Uma lágrima corria por sua branca pele. Ele se virou e se jogou da montanha.

"Glenn!!!!!!!" Levantei-me e corri em direção ao precipício, onde Glenn voava. "Glenn? Mas o que... Para onde você está indo? O que devo fazer?! MERDA! GLENN!!!"

"Já não importa, Eddie...", sua triste voz ecoava por todo o universo. "Me desculpe, mas... Já é tarde demais".

"GLENN!! ESPERE!! GLENN!!!"

O céu escureceu e começou a cair. Deu-se início a um forte tremor sob meus pés e a montanha começou a desabar. Levei as mãos ao rosto, chorando. "O que está havendo?", perguntava-me, mas, como Glenn disse, eu sabia. No fundo eu sabia... Sempre soube.

Caía junto com a montanha, observando o próprio céu me acompanhar. Mesmo com a morte eminente no final da queda, desejei nunca mais acordar.

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