Capítulo VII - Olho por Olho / Parte 13: Edgar Visco

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O primeiro tiro acertara o braço do infeliz.

Não iria permitir que ele escapasse para ter outra chance de arruinar minha vida. A forma como o filho da puta passara a faca no pescoço da inocente mulher não saía da minha cabeça.

O rapaz me olhara nos olhos. Déjà vu? Já o havia visto em algum lugar? Onde? Não importa!

Tornei a atirar... mas errei.

"Porra!"

Ele tornou a correr, segurando o braço atingido. Tentei acompanhá-lo. Tentei... Após alguns passos eu caí no meio da rua. Cãibra. A arma fora lançada para frente e tive que usar as mãos para impedir meu rosto de se esborrachar no chão. Minha perna direita doía de uma maneira que me incapacitava de caminhar. Deus, incapacitava-me de me levantar!

"PORRA!", levei a mão à perna. Meu queixo tremia e algumas lágrimas brotavam em meus olhos. Lágrimas de ódio. "AAAAAAAAHHHHHHHH!"

O desgraçado voltou a ser apenas uma silhueta. Perdera.... Perdera de novo...

Após uma breve pausa, outra música dos anos 1970 voltava a tocar.

***

Arrastando-me, consegui alcançar minha arma. Jogado no meio da rua, sem nem ao menos conseguir me levantar, tive a sorte do tráfego naquele local beirar o nulo.

Recuperando as forças, aos poucos, consegui me colocar em pé.

"Merda!".

Não conseguia afastar a ideia de que o deixara escapar. Edgar Visco falhara mais uma vez. Talvez a única que não poderia falhar... Um caminho sem volta se formava em minha frente, mesmo que eu não o percebesse.

A imagem da mulher tendo a jugular cortada voltou aos meus pensamentos. Será que Donnie teria conseguido evitar sua morte? Esperava, mais que tudo, que sim. A esperança me banhava, tal como um homem sequestrado sonha em ser resgatado. Não poderia ter duas derrotas na mesma noite. Alcancei uma parede na calçada e me encaminhei para o local. Num primeiro momento apoiado pelas paredes, muros e grades, até recuperar a força da perna, que ainda doía.

Aproximando-me de onde tudo começara, notei um cheiro de queimado. Olhei para cima e pude vê-la: uma chuva de cinzas caía sobre meus cabelos como se um anjo de asas negras sobrevoasse os céus perdendo suas preciosas penas.

Apressei o passo, tomado pelo mau presságio.

A primeira coisa que vi ao dobrar a esquina foi o lote vago ao lado do bar em chamas. Do outro lado, deitado em um lago de sangue, estirava-se o corpo da mulher.

"Donnie, seu covarde, desgraçado!"

Corri em direção a ela.

Tomado pelo medo, o calvo homem deve ter saído correndo no momento em que me virei de costas para ele. Covarde!

Ajoelhei-me perante a moça, colocando os dedos em seu pescoço. Seu frio pescoço. Ainda havia dúvidas? Estava morta. E as cinzas continuavam a cair à medida que o calor aumentava. O fogaréu crescia rumo aos céus.

As lágrimas atacaram novamente meus olhos – fato que se repetia muito ao longo daqueles dias. Saquei o celular, levantando-me.

Do outro lado da rua, o balconista saía pela porta. Desesperando-se com o fogo, correu de um lado para o outro com as mãos junto à cabeça.

"Gostaria de reportar um incêndio", disse, ao telefone. Passei todas informações e desliguei.

Era hora de colocar o rabo entre as pernas e fazer outra ligação.

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