Capítulo VIII - Liberte-se / Parte 6: Paul Thompson

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Amanhecia. O sol, porém, já não conseguia espantar a sombra da morte que pairava sobre Circodema neste dia.

Cochilava com as pernas cruzadas, em uma das diversas mesinhas da sala principal de nossa delegacia. Eram dias cansativos, destrutivos, nos quais perdia-se a fé na humanidade. A senhora Morte desfrutava a temporada na cidade, mas todos concordavam que sua estadia já se prolongava demais. O que era verdade; era hora de partir, sra. Morte. Porém, como pode-se imaginar, a misteriosa, sedutora e temida Morte não é um hóspede comum. Não, não... Não sairia do hotel sem antes convidar todos para o salão e fazer sua última e grande festa. Todos se lembram da última festa, do último dia, das últimas palavras, ou a última vez que tiveram o próprio coração partido. Não basta um bom começo, tudo requer um grandioso final. Isto é consenso entre os homens; e a doce senhorita Morte, com todo o seu respeito pela raça que dá sentido à sua existência, não iria decepcioná-los.

"TRAGAM TODOS!", ela clamava.

***

George cruzou a porta principal. O barulho de seus passos me despertou.

"Mas... O quê?". Notei o tenente e me levantei. "George!".

"Paul", cumprimentou-me, mas continuou andando.

"George!". Levantei-me desajeitado, mas alcancei o tenente, segurando-o pelo braço. "O que o senhor faz aqui? Não deveria estar descansando? Eu consigo cuidar das coisas por aqui, senhor. Eu consigo!"

"Está tudo bem. Até tentei ir para casa descansar", suspirou. "Mas com tudo que está acontecendo..."

"Eu entendo." Soltei o seu braço.

"Notícias do laboratório?"

"Temo que não, senhor. Creio que Rachel ainda esteja lá. O cansaço me venceu e não consegui evitar o sono".

"Não se preocupe, Paul", postou a mão sobre meu ombro. "Qualquer coisa, estarei em meu escritório."

Ele caminhou para o escritório e eu retornei para a cadeira na qual descansava. Esfregava os olhos quando ouvi novos passos.

Edgar.

"O que você faz aqui?", questionei-o. "Você some e desaparece quando bem entende; isso, te pergunto, é conduta que se preze?!"

"Paul, agora não... Onde está George?"

"George? Você desaparece e aparece, dispara a porra de uma arma sem nem ao menos ter um distintivo e..."

"Edgar!". George apareceu na porta de seu escritório. "Venha aqui!"

O desgraçado sorriu. "Talvez uma outra hora, Paul", piscou para mim.

"Que se foda isso!", levantei-me e me coloquei em direção à saída.

Se prezavam homens como ele naquele lugar, não precisavam de mim.

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