Capítulo 3 | Anna

9.7K 997 95
                                    


O despertador toca, mas já estou acordada, aliás como eu poderia dormir tranquilamente tendo tanta coisa na cabeça. Fiquei passando todos os pontos da apresentação mentalmente nos momentos em que acordava durante a madrugada. Teve uma hora até que peguei um bloquinho para anotar ideias que tive para pontuar durante a reunião; será um dia muito importante, não posso deixar nada passar.

Para ter tempo de fazer tudo calmamente e não esquecer de nada importante, me levanto às 6h, tomo um banho bem caprichado, seco o cabelo para que ele fique minimamente "domado" e faço uma maquiagem leve para esconder as olheiras de uma noite mal dormida, afinal ninguém merece ver esta minha cara assim.

Vou até a cozinha e tomo meu cappuccino com torradas, lavo a louça e dou um tapa no lugar – preciso me desfazer desta neurose de só sair de casa se tudo estiver com um mínimo de organização – dou uma última passada no banheiro para escovar os dentes e checar o conjunto da obra.

Depois de quase uma hora de trânsito, chego com 40 minutos de antecedência e fico esperando na porta de entrada para chegar mais próximo do horário.

Gosto de ser pontual, nem para mais, nem para menos. Como está muito cedo ainda, decido passar em uma cafeteria charmosa ao lado do prédio e tomar um suco de maracujá, espero que ele acalme os meus nervos. Engulo praticamente de uma vez só, o suco está bem forte e desce quase que queimando minha garganta, mas a sensação é boa e me ajuda a parar de tremer. Dou mais uma respirada profunda e me dirijo à recepção.

Peço para falar com o Sr. Theodor, CEO da rede de hotéis Cosmopolitan. É uma nova e pequena rede de hotéis de luxo, destinada à executivos que estão na cidade à negócios.

Depois de passar pela recepção do térreo, pego meu crachá e subo até o quinto andar daquele prédio luxuoso e cheio de vidros; chega até ser um pouco intimidador, mas graças à Deus o suco está surtindo algum efeito e assim consigo andar sem que minhas pernas tremam, facilitando muito minha vida em cima destes 10 centímetros de salto. Deveria ter vindo com algo mais confortável, mas ele me deixa poderosa e confiante. Balanço novamente a cabeça para fugir dos meus devaneios, só eu mesmo para pensar nisto em uma hora destas.

Chegando no andar, acho estranho, pois não tem nenhuma recepcionista, nem área de recepção, apenas algumas cadeiras que são bem chiques, mas provavelmente desconfortáveis.

Decido ficar em pé para não correr o risco de acontecer algo constrangedor com minha saia lápis. Definitivamente deveria ter escolhido algo mais confortável, para não me distrair em um momento tão importante.

O lugar é todo fechado por vidros, quase não dá para identificar o que é parede do que é porta, mas possui uma TV exibindo mensagens da rede.

Esse Sr. Theodor deve ser um tiozinho de uns 60 anos, quem tem um nome desses!? Será que ele é muito arrogante? Não gosto de pessoas assim, acho que capacidade e profissionalismo independem do grau de arrogância.

Depois de uns 15 minutos, sai de uma das portas uma loira muito elegante, bem longilínea, com um tailleur preto. Quem ela pensa que é para ter dentes tão perfeitos? Vaca, deve ter bafo, chulé, qualquer coisa... Cordialmente ela me cumprimenta.

- Bom dia, o sr. Alex a aguarda na sala de reuniões, pode me acompanhar por favor?

Aceno com a cabeça e a sigo. Mas espera ai?! Não é esse nome que vim procurar. Mesmo assim a sigo. Entro na sala e há um senhor sentado em uma das cadeiras. Já tem cabelos e bigode bem grisalhos e sua cara é bem agradável, diria até que parece o tiozinho do KFC. Vamos lá, Anna, foco! Foco! Me aproximo estendendo minha mão em forma de cumprimento.

- Bom dia, sr. Theodor?

- Ah não, sou o Alex, gerente financeiro. O Theodor teve que sair às pressas para alguma emergência e eu conduzirei a reunião.

- Sem problemas, vamos começar então?

A reunião transcorre normalmente e sr. Alex parece gostar muito do trabalho apresentado. Diz que irá conversar com o CEO e depois entrará em contato conosco. Me predisponho a apresentar novamente se achar necessário, mas ele diz que não, pois acredita que já tem tudo que precisa. Nos despedimos e saio do escritório.

Como já está próximo da hora do almoço decido comer algo pela região. O lugar é um centro comercial e tem vários lugares bacanas que gostaria de conhecer. Deve ser um pouco caro, mas hoje eu mereço. Se bem que, também não quero voltar e correr o risco de encontrar o Trevor, não sei como me sinto com esta situação.

Será que ele gostou tanto assim de mim? Ou será que ele é um tarado pervertido? "Você pode fugir, mas não vai se esconder por muito tempo", aquelas palavras ficam ecoando em minha cabeça. Ao mesmo tempo em que sobe um frio na minha espinha, desce um calor para o meio das minhas pernas. Parece algo proibido querer ele. Não sei, vou deixar rolar.

Meu almoço foi delicioso, pedi uma saladinha, afinal não posso fugir da minha eterna dieta.

Volto para o escritório e vou direto para a sala da Malu, que não está. Sento no meu lugar e neste momento estão chegando, Léo, Bruna e Lana. Léo está com uma cara que não consigo decifrar, meio retraída. Muito estranho nunca o vi tão fechado. A Bruna se aproxima toda sorridente.

- E aí! Como foi sua grande reunião? Que blusinha mais sem graça é essa amiga? Deveria ter colocado um decotão e enfiado seus peitões na cara deles, assim eles fechariam qualquer contrato.

Dou uma risada sem graça e falo:

- Ah tá, até parece que isso iria mudar alguma coisa... Mas a reunião foi ótima, parece que gostaram da proposta. E a Malu, vocês sabem onde ela está?

- Ela ligou dizendo que não vem para cá hoje – afirma Lana

- Que estranho ela me garantiu que estaria aqui. Mas e aí, como foi o almoço de vocês?

- Ah que bom que mencionou... vieram perguntar de você. – Continua Lana.

- É mesmo e perguntaram o quê? – pergunto sem jeito.

- Se você estava fugindo dele? Acho que está apaixonado por você; dá uma chance para o garoto, coitado. Amanhã vamos almoçar naquele restaurante assim vocês podem conversar direito.

- Não sei se é uma boa.

- Mas por quê? Eu o pegava fácil – comenta Bruna

- Ela já pegou o cara, vocês se esqueceram? – Léo fala e vai para seu lugar.

- Nossa o que foi isso? – Lana pergunta.

- Acho que é porque ele acha que o certo mesmo é ficar com uma pessoa por noite e nada mais. Relacionamentos bem descartáveis... – Falo olhando agressivamente para o Léo. - Mas não sei, tem algo que me diz que não devo investir nele. Mas tudo bem, amanhã vemos quais são as cenas dos próximos capítulos. Agora vão trabalhar suas fofoqueiras, se vocês não têm trabalho, tenho um monte para dividir!

Elas voltam para seus lugares rindo e eu rolo minha cadeira para perto do Léo.

- Pode falar, o que está se passando nesta cabeça? Nunca o vi deste jeito?

- Nada, só uns problemas com meus pais, mas vai passar.

- Tudo bem se não quiser me contar. Vou preparar umcappuccino para você, não há nada que ele não cure. – Sorrio e me levanto parapreparar sua caneca.    

WAKE ME UP  | ONE (Disponível 01/09)Onde histórias criam vida. Descubra agora