Capítulo 1

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   Parece que quando você está irritado, o mundo conspira para te tirar ainda mais do sério. 

   Tem dias que são ruins, tem dias que são dias. Eu estava num dia particularmente ruim.

   Acordei atrasada, e eu nunca acordo atrasada, eu sempre acordo antes do que deveria porque odeio atrasos. Por correr na hora de me arrumar, bati meu dedinho na quina da cama, e eu já havia perdido o primeiro ônibus e nem tinha tomado café. Tudo que eu queria era fumar um cigarro, mas eu não podia porque: 1) eu impus uma regra para mim mesma na hora de fumar que é: apenas no terraço. Não no meu quarto, não no banheiro, nem mesmo lá fora. Apenas no terraço, e não dava tempo de ir lá. 2) eu estava sem cigarros. Geralmente, eu pegava escondido nos cigarros da minha mãe ou do meu pai, e quando eles notavam a falta deles, eu apenas dava um sorrisinho e falava que havia jogado fora por raiva. E eles acreditavam. Enfim, não deu tempo de fazer isso ontem.

   Ou seja, estava sem cigarros e estava atrasada. Merda.

   Tomei um copo de café puro sem adoçante, que desceu rasgando, escovei os dentes correndo, e peguei o ônibus. Quando entrei no ônibus percebi todos me olhando um pouco torto, então olhei para mim mesma e percebi que minha blusa do uniforme estava do avesso. Fiquei morrendo de vergonha. Como eu não podia trocar ali tive que esperar chegar na escola.

   Cheguei na escola e como eu tinha chegado atrasada ninguém notou minha blusa do avesso, então fui no banheiro correndo e troquei. Fui para a sala de aula logo depois, vários olhares para a garota que chegou atrasada, um olhar reprovado da professora, mas fora isso nada demais.

   Sentei no meu lugar, e minha amiga Catarina começou a conversar comigo.

- Por que chegou atrasada?

- Acordei tarde demais.

- Estudou para a prova?

   Eu sabia que tinha prova, mas me dispensei do trabalho de tentar estudar. Eu não conseguia me concentrar, e já tinha parado com essa baboseira de estudar faz tempo. A vida é muito curta pra ficar tentando achar o valor de X.

   Como eu não dava trabalho para os meus pais com o estudo? Simples. A resposta está na Internet. Com algum esforço, dedução, sorte, e uma certa habilidade que eu nem sabia que tinha, aprendi a hackear os sistemas de notas e presenças da minha escola. Em sala de aula, fazia o possível para não chamar atenção e copiava um dever de alguém vez ou outra para não levantar suspeitas.

- Na verdade, não. -Respondi a Catarina. -Mas aposto que a matéria é fácil. É filosofia, não?

- Sociologia, Lilian! Porra! Como consegue ter notas na média se mal sabe que prova nós temos? É magia negra ou o quê?

- O segredo está todo aqui dentro. -Falei apontando para minha cabeça. - Sou um gênio por natureza. Sinto muito.

- Isso é tão injusto! -Catarina bufou. -Então me ajude a estudar pelo menos.

- Nem sei a matéria. -Respondi e ela revirou os olhos e voltou a se virar para frente e prestar atenção na aula.

   Assim que tocou o sinal para o segundo horário, um pessoal da minha sala foi para o corredor até o professor chegar. Mas aí eu comecei a ouvir algumas vozes mais altas, e cheguei a ouvir "novato".

Uma vida vazia [COMPLETO]Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz