Capítulo 4

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    Eu não fazia aquilo com muita frequência. Me tocar. Eu sempre me sentia estranha depois, para não dizer com nojo, da mesma forma quando eu via alguma gif de sexo no tumblr e me sentia excitada. Sabia que não era errado, outras garotas faziam aquilo, apesar de ninguém admitir abertamente. Mas parecia errado para mim. Para os meninos aquilo parecia um assunto tão banal...

     Eu só me masturbava quando estava deprimida, e queria sair um pouco da órbita desse mundo por pelo menos alguns segundos. E não gostava de fazer aquilo dia de semana porque meus pais estavam em casa. Os fins de semana eram melhores. Sozinha em casa, música alta, a tristeza e a solidão pairavam. Logo após fumar um cigarro no terraço, não havia momento melhor.

    Eu não entendia as mulheres que se tocavam porque estavam de fato felizes ou animadas. Não fazia sentido para mim. Mas também não lembrava da última vez que tinha me sentido verdadeiramente feliz.

    Eu estava deprimida comigo mesma naquele dia, com mil coisas na cabeça, e os hormônios à flor da pele. O culpado disso era claro: Thomas.

    Foi bom, mas era aquele dilema de sempre. Eu me sentia culpada, mas não havia um porquê. Era tudo coisa da minha cabeça.

    Me peguei várias vezes pensando no que Thomas estaria fazendo, mas eram 3 da manhã. Ele estaria dormindo. Eu só teria 3 horas de sono se eu dormisse naquele exato momento, então resolvi faltar de aula no dia seguinte. Meus pais nem notaram, e eu também não comentei. Eles saim para trabalhar cedo.

    Acordei e vi que um número desconhecido tinha me enviado 5 músicas. Provavelmente era o Thomas. Olhei a foto de perfil mas não dava para perceber se era ele, pois ele estava de lado.

    Fiquei tentada a responder. Mas apenas visualizei.

    Passei o dia ouvindo as músicas que Thomas havia me mandado. E mais tarde fui ver um filme qualquer, porém dava pausa de 5 em 5 minutos para ver se ele estava online do Whatsapp, e aquilo estava me matando, porque eu estava parecendo um pouquinho obcecada, talvez.

    Ele ficava online vez ou outra, e meu coração parou por um momento quando vi que ele estava digitando, mas parece ter mudado de ideia porque não chegou nenhuma mensagem. Constatei que talvez ele só ia perguntar porque faltei, mas deixou para lá.

    No dia seguinte fui para a escola a reboque, como todos os dias praticamente. Chegando na sala, fui conversar com Catarina, que já estava na carteira dela fazendo algum dever de última hora.

- Bom dia. -Falou ela quando passei, e me sentei atrás dela.

- Dia...

- Por que faltou ontem?

   Dei de ombros

- Não estava afim.

- Curioso. Porque o novato...Thomas o nome dele, né? Então, ele faltou também. Vocês combinaram, ou algo do tipo?

- Não.

- Certo... -Ela falou, mas dava notar pelo tom dela que não acreditava em mim. - Vocês dois tem um trabalho de história para fazer, é em dupla. 

- Por que eu não posso fazer com você?

- Porque você faltou ontem quando foi passado o trabalho, e já comecei a fazer com a Lara.

   Bufei. Não queria fazer o trabalho com Thomas. Na verdade, eu queria sim, tipo muito. Mas eu não queria querer isso.

- Falando nele... -Catarina disse. - Bom dia, Thomas!

- Bom dia. - Respondeu ele com um sorriso tímido.

   Não falei nada, fingi que estava mexendo no celular, quando na verdade só estava passando meu dedo de um lado para o outro sem motivo aparente.

- Você e a Lilian tem que fazer um trabalho de história juntos. Para semana que vem. Uma pesquisa.-Disse Caratina

- Tudo bem. Lily, quando podemos fazer?

   Parecia que algo em meu coração amoleceu quando ele me chamou de Lily, e eu tive que me esforçar para conter um sorriso.

- Eu não sei, quando você pode? -Perguntei.

- Nesse fim de semana, na sua casa?

- Ok. Marcamos direito por Whatsapp.

   Ele assentiu. E depois nós três continuamos a conversar até a aula começar sobre como os professores são uns sem noção por passarem trabalho em plena semana de prova.

   Quando bateu o sinal para o intervalo Catarina chamou Thomas para andar junto com a gente. Ficamos num grupinho do 3º ano, amigos do Breno, namorado de Catarina. Ficamos meio excluídos por sermos do 2º ano, mas Catarina enturmou a gente.

- Galera, na próxima sexta tem resenha lá na minha casa, falou? -Disse um cara que parecia um brutamonte do qual as pessoas chamavam de "o Fruta". Não sabia seu verdadeiro nome. - Vai ter bastante bebida. E Breno, pode levar sua namorada e os pirralhos do 2º ano, eu deixo. -Ele brincou.

- Você já bebeu? -Perguntei apenas para Thomas.

- Algumas vezes. -Deu de ombros como se não fosse importante. - E você?

- Algumas vezes.

- Aposto que no máximo foi uma garrafinha de ice, e ficou se achando a bêbada por isso.

- Nem isso, na verdade. Bebi pinga por engano e ai fiquei me achando a bêbada por isso, mas o gosto era horrível.

   Então rimos. Ninguém parecia notar que estávamos lá.

- Já fumou outra coisa? -Perguntei chegando bem próximo ao seu ouvido para ninguém ouvir. Mas senti ele engolir em seco, e talvez, só talvez, ele tenha se arrepiado.

- Maconha. - Ele sussurrou também próximo ao meu ouvido.

- Mentira. Você está brincando.

- Juro. Viajei para os Estados Unidos com meus pais uma vez, lá na Califórnia é permitido certa quantidade.

- Que sorte. Sempre quis ir para lá.

- É um lugar incrível, mas é meio chato com os pais. Tive que sair escondido pra comprar, e nem era tão bom assim.

- Não?

- Cigarros são melhores. É mais... prazeroso.

   Mordi o lábio e não disse nada.

- Ainda mais quando se tem companhia. - Ele falou e mostrou o maço escondido em sua blusa de frio. Era nossa deixa. Saímos do grupinho com a desculpa de que íamos beber água.

   Na bancada do estacionamento, trocando cigarros um com o outro, começamos tipo um jogo de perguntas e respostas. Comecei fazendo perguntas sobre a família e seu dia-a-dia, mas ele sempre desviava do assunto, então deixei pra lá, e começamos a fazer perguntas mais leves.

- Livro favorito. - Disse ele.

- Por Lugares Incríveis, Jennifer Niven. Theodore Finch é o meu héroi. E o seu?

- O Pequeno Príncipe. Não conheço esse seu livro, é bom?

- Você não será mais meu amigo se não ler ele para ontem! 

- Lerei em breve. Isso é uma promessa. Série favorita.

- My Mad Fat Diary e American Horror Story.

- Nunca ouvi falar dessa primeira, e sim, eu sei, também vou assistir se não perco sua amizade. American Horror Story, pesado, mas muito bom.

- E a sua série favorita?

- The Walking Dead, -Concordei com a cabeça, porque também era boa. - e não conte a ninguém, mas Skins.

- Você assiste Skins, e vem me falar que American Horror Story é pesado! -Falei rindo.

- Você já assistiu?

- Algumas temporadas, sim.

- Effy Stonem, minha heroína.



Uma vida vazia [COMPLETO]Όπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα