Capítulo 30

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Antes que eu pudesse pegar um pouco de água para engolir os comprimidos, a campainha da minha casa soou, o que fez meu coração disparar como uma metralhadora.

Por um momento, eu fiquei em choque assimilando o que eu estava prestes a fazer. Corri para o banheiro do quarto dos meus pais, peguei uma toalha e cuspi todos os comprimidos lá. Estavam babados e nojentos, mas se eu secasse direito, bem, é aquele ditado: o que os olhos dos meus pais não veem, o coração não sente. Ou seja, eles não me xingariam.

Sequei-os rapidamente com a toalha e os devolvi ao potinho. Deixei a caixinha de remédios e o pote em cima da cama, me fazendo um lembrete mental de guardá-los assim que eu atendesse a campainha. Escancarando a porta do quarto dos meus pais, eu corri até lá fora.

Chegando ao portão eu vi Thomas, ainda com a mochila da escola (que horas seriam?) e com seu moletom de sempre, o cabelo preto desgrenhado e com olheiras de sono. Eu achava que meu coração não podia acelerar mais. Estava tão enganada.

-O que você está fazendo aqui? -Minha voz saiu mais hostil do que eu esperava. -Você não deveria estar na escola?

-Eu só... fiquei preocupado com você. -Ele disse dando de ombros. Para ele, aquilo parecia a melhor justificativa. 

Eu mal consegui esconder meu sorriso. Abri o portão para ele entrar. Eu não ia fazer nada, mas ele fez menção de me abraçar, o que me pegou meio desprevenida e o que acabou resultando num abraço um pouco sem jeito.

-Vamos entrar. -Falei assim que nos afastamos.

Entrando em casa ele falou:

-Desculpa ter vindo cedo é que, sei lá, senti um impulso de ver você hoje. A Catarina não sabe que eu estou aqui. Acho que ela ficaria chateada se descobrisse.

-Não vou contar pra ela. Mas você também não pode contar para ela porque estou de suspensão. -Suspirei. -Eu mesma devo contar.

Ele apenas assentiu e se jogou no sofá.

Logo percebi que por ser de manhã eu ainda estava de pijama. Senti uma pontada de constrangimento de Thomas me ver com meu pijama rosa de oncinhas. Definitivamente nada a ver comigo, mas super confortável.

-Ah...Eu vou trocar de roupa antes. -Disse olhando para o meu look nada maduro. -Fica a vontade, tem café novo. Eu mesma fiz. 

-Você está linda assim com esse pijama. -Thomas disse me encarando, dando um sorriso de derreter o coração. -Vou querer uma xícara de café. -Disse ele se levantando indo até a cozinha e pegando minha caneca de Harry Potter e se servindo. -Adorei a caneca. Se importa se eu fumar?

-Ah, pode. Mas tem que ser no terraço. É só subir as escadas no final do corredor. Meus pais não podem sentir o cheiro, sabe. Mesmo que eles fumem muito, pode ser suspeito. -Ele entendeu e assentiu.

Na verdade era muito mais do que meus pais apenas sentirem o cheiro. Fumar em ambientes fechados era algo que me deixava extremamente desconfortável, devido a minha infância em que eu fiquei em muitos ambientes fechados com fumantes. O mundo dá voltas, não é mesmo?

Segui para o meu quarto e falei para Thomas que poderia subir e me esperar lá.

Só quando eu já havia entrado no meu quarto que lembrei da porta aberta e os remédios jogados em cima da cama dos meus pais. Meu peito doeu de pânico. 

Respirei fundo e torci para Thomas não ter percebido e passado reto. 


Uma vida vazia [COMPLETO]Where stories live. Discover now