Capítulo 12

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Era minha primeira resenha. Catarina sabia disso, mas não comentou, até porque não era relevante, então quando eu cheguei lá foi meio que uma decepção.

Bem, a casa do Fruta era enorme e muito bonita, tipo mansão de gente que tem grana mesmo.

Estava uma barulhada lá dentro com quase todos os famosinhos do tão estimado"terceirão", que estavam em uma posição na pirâmide social que eu e Thomas não estávamos. Catarina até que conseguia se misturar, afinal, a dedicação que ela tinha pelos estudos começara ano passado, devido a bomba que tomou no primeiro ano do ensino médio; mas ela ainda era bem amiga do pessoal e já namorava o Breno. Cat era linda, alta, magra, cabelos longos castanhos de um tom bem claro, talentosa, esforçada, gentil, extrovertida; tudo o que eu não era. E seus olhos eram da cor de âmbar, naquele meio termo entre o castanho e o verde, e você percebia uma maturidade ali que eu não tinha, com meus olhos da cor de chocolate e sempre arregalados, com o olhar perdido, mas ao mesmo tempo alerta. No entanto, eu e Thomas demos nosso próprio jeito de nos "enturmarmos" (bem entre aspas meeeeeeesmo).

A casa tinha dois andares, mas o pessoal estava na sala que tinha sofás muito brancos para o meu gosto e eu apostava que antes de dar 00:00h alguém já o teria manchado. A cozinha era logo em frente, com a bebida dentro da geladeira e alguns petiscos espalhados em uma bancada bonita. Do lado da sala havia enormes portas de vidro que davam para uma piscina enorme e um jardim, e graças a Deus estava aberto para podermos tomar um ar, porém estava frio de mais para alguém querer ficar lá fora.

O Fruta disse um "oi" geral para nós, e falou para ficarmos a vontade para pegar bebidas e comer, que era por conta da casa, depois disso ele nos deixou e se enfiou num amontoado de adolescentes com camisas polos e saias coladas bebendo, conversando, se pegando e mexendo ao som de Wesley Safadão. Era a visão do inferno. Mas resolvi abrir minha mente, estava disposta a ser social naquela noite (maior mentira já contada na história da humanidade).

Catarina e Breno foram conversar com os seus amigos, e eu e Thomas ficamos encostados na bancada da cozinha, meio excluídos.

-Quer beber alguma coisa? -Perguntou Thomas.

-Claro. Vamos ver o que eles tem.

Fomos até a geladeira, e tinha um grande estoque de vários tipos de bebidas alcoólicas, mas também havia alguns refrigerantes e sucos. 

Fui logo de cara pegando a Coca-Cola mas Thomas me parou.

-Sério que vai beber refri? Achei que fosse querer, sei lá, extravasar hoje?

-Querendo me levar pro mau caminho, Tom?

-Me chamou de Tom?

-Saiu sem perceber, foi mal. -Falei sem graça.

-Não, eu gostei. Meu irmão me chama assim às vezes. -Ele disse sorrindo.

Franzi o rosto.

-Nunca me disse que tinha um irmão.

Ele parou por um momento, como se tivesse percebido que tinha acabado de me dar uma informação sobre sua família, mas logo deu de ombros.

-Nunca perguntou. -Disse ele bebendo alguma coisa.

Apenas levantei as sobrancelhas como "É sério que você disse isso?", entretanto ele não pareceu notar.

-O que está bebendo aí, hein? -Perguntei e olhei seu copo. - Depois fala de mim! Você tá bebendo refrigerante!

-Com um pouco de limão e vodca para aquecer. Quer?

-Por que não? Você que vai ter que me aturar mesmo se eu ficar bêbada.

Ele riu e preparou minha bebida. Depois nos sentamos no sofá e eu bebi um gole. Não achei que estava forte, a coca predominava, mas no fundo eu sentia aquele doce apimentado do álcool.

- Está bom? -Perguntou Thomas do meu lado. E eu estava muito consciente do braço dele apoiado no sofá, mas que também estava bem perto do meu ombro, e das nossas pernas se tocando. Apesar disso tudo ser apenas pelo sofá estar abarrotado de tanta gente.

-Tá ótimo.

Começamos nossa conversa interna, já que não sabíamos socializar. E eu estava muito bem com Thomas falando perto do meu ouvido, e eu do dele pelo sertanejo universitário na última altura. Mas parece que Catarina cismou que estávamos excluídos demais, porque ela fez algo que ainda estou ponderando perdoar ou não.

-Ei, Lily! -Ela disse gritando meu nome e todos pararam para me olhar, o que foi desnecessário. -Vem cá!

Fui até ela. Ela estava com umas meninas que eu só conhecia de vista.

-Canta aquela música, que você estava cantando outro dia lá na sala de aula. Eu não lembro o nome, e é viciante. As meninas também querem ouvir você cantar.

-O quê!? Por quê?

-Porque você canta bem. Dã! - Thomas disse chegando por trás de mim e passando o braço sobre meus ombros. Eu devo ter ficado da cor de um tomate. Não bastando isso, Catarina tinha que comentar.

-Awwwn, você está toda vermelha, Lily! 

-É seu namorado? - Perguntou uma garota do grupinho bem bonita, com cachos longos da cor de caramelo.

Antes que eu pudesse dar uma resposta sem educação tentando esconder o que eu sentia, Thomas respondeu:

-Somos amigos. - Ele falou com um tom natural, como se não precisasse provar nada a ninguém. E o seu braço continuava em volta dos meus ombros. Mas eu definitivamente não gostei do sorriso que aquela garota deu quando ele disse isso.

-Vou pedir para o Fruta abaixar o som para você cantar. -Disse Catarina, já levemente alterada, batendo palmas e correndo para o outro lado da sala.

-Não, Catarina, espera! - Quis correr atrás dela, e impedir isso, mas estava sem paciência. Qual a necessidade de ter toda a atenção voltada para mim?

- Relaxa. Você canta bem. - Thomas disse, e eu consegui sorrir. 

Meu coração já estava a mil por hora, mas quando o Fruta pegou o microfone eu só consegui pensar: "FODEU!".

- A amiga da Catarina, Lilian, vai cantar uma música agora! Galera, SILÊNCIO!

Todos pararam o que estavam fazendo e começaram a procurar a tal amiga da Catarina, porque ninguém me conhecia muito. Eu queria desaparecer. 




Uma vida vazia [COMPLETO]Where stories live. Discover now