Capítulo 2

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   Eu iria matar a Catarina depois da aula por ela ter desenhado aquilo na minha mão. Eu nem tinha percebido. Que tipo de primeira impressão o novato vai ter de uma garota que tem um pênis desenhado na mão? 

   Logo soltei o maço de cigarros, deixando cair no chão e escondi a minha mão na blusa de frio.
O novato se agachou e pegou o maço rapidamente.

- Por favor, não conte para ninguém. -Ele pediu. - Se meus pais ficarem sabendo eles me matam.

   Dei um sorrisinho cúmplice.

- Relaxa. -Falei. - Esse foi o motivo pelo qual foi transferido?

- Deixa eu ver...- Ele fez uma cara como que se estivesse pensando, mas estava sendo sarcástico. - Não é da sua conta.

   Ele já não parecia tão tímido assim.

- Eu não vou contar para ninguém. Eu também fumo.

- Querendo impressionar o novato aqui falando que também fuma? Só pra deixar claro já me surpreendeu o suficiente com esse pau na sua mão. -Ele estava com aquele ar de deboche novamente.

- Meu Deus! Pode abaixar esse ego só um pouquinho? Caramba. Nem acredito que achei você bonitinho.

- Bonitinho? -Ele ergueu as sobrancelhas e deu um sorriso.

- Lembre-se que 'bonitinho' é um feio arrumado.

   Ele apenas revirou os olhos.

- Então esse lugar isolado já tem dono no intervalo? É aqui que você fica sempre? - Thomas perguntou.

   Me encaminhei para sentar na bancada e ele me seguiu e sentou ao meu lado, com um espaço entre nós considerado ok.

- Só venho aqui quando quero ficar sozinha, ou quando Catarina falta, ou quando ela está com o namorado.

- Achei que tinha achado o lugar perfeito para fumar escondido. Acho que me enganei.

- Ah, sabe... -Falei tentando soar despretensiosa. - Você pode ficar aqui vez ou outra, mas com uma condição.

- Não vai pedir pra eu te beijar, vai?

- Você realmente tem que começar a controlar esse ego. Não tem nem 10 minutos que estou com você e já me sinto sufocada. -Falei meio brincando.

- Então qual é a condição?

- Vai ter que dividir seus cigarros comigo.

- Sem chance! Eu dou duro pra conseguir comprá-los.

- E como você os compra?

- Identidade falsa. Difícil de arranjar uma decente.

- Fumando cigarros e porte de identidade falsa. Você é um menino ousado. -Falei zoando a cara dele. -E já me deu dois motivos para expulsão.

- Ok, ok, você venceu... -Ele franziu o rosto como se tentasse lembrar de algo. - Espera, qual seu nome?

- Lilian. Mas gosto quando me chamam de Lily.

- Lily... Mas qual o seu sobrenome?

- Gomes. Lilian Costa Gomes, para ser mais exata. Por quê?

- Hmm... Deixa eu ver. - Ele mexia na tela do seu celular. - De acordo com o sistema, você é uma ótima aluna.

- Eu não diria dessa forma, mas... é tipo isso.

- Como sou novo, você poderia me ajudar a por a matéria em dia?

- Difícil... Caderno muito incompleto. Tipo em todas as matérias. Mas a Catarina pode te emprestar, ela é boa aluna.

- Tudo bem. Mas como tira notas boas? - Ele falou enquanto colocava um cigarro entre seus lábios e o acendia.

- Segredo.

- Misteriosa você, hein?

    Apenas dei de ombros.

   Ele me ofereceu o cigarro e eu o peguei. Traguei. O ar encheu meus pulmões. Senti um certo alívio, prazer. E um nervoso, porque estava quebrando a minha primeira regra sobre fumar: sempre fumar no terraço e mais em nenhum outro lugar. E também porque nunca tinha fumado com alguém perto de mim antes. Nunca tinha fumado com alguém.

   Havia certa intimidade naquela troca de cigarros e os dedos se encostando toda vez que eu passava o cigarro para ele, e ele para mim. Eu sentia algum laço sendo formando ali, e tinha muito medo que se eu falasse algo, eu poderia estragar isso. Então fiquei calada e o observei.

   Ele quase sempre fechava os olhos quando tragava e expelia a fumaça. E eu não queria admitir, mas ele parecia muito um garoto tumblr. O pomo de adão proeminente, mas não ao ponto de ser feio. O cabelo liso castanho escuro, quase negros, levemente grande e bagunçado. A postura despojada. As veias no seu pescoço e antebraços. O rosto sereno... Não era só a questão de aparência, mas alguma coisa no seu jeito me atraía.

   Ele deve ter percebido que eu o encarava, porque abriu levemente os olhos e olhou para mim de lado.

   Ele provavelmente ia soltar algum comentário sobre eu o estar observando, mas o sinal bateu, e era hora de voltar para a sala de aula.

Uma vida vazia [COMPLETO]Where stories live. Discover now