Capítulo 51

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A terapia ajudou muito. 

Acho que nunca me aceitei tanto. Não só a mim mesma, como minhas próprias escolhas.

Minha autoestima está longe de estar alta, mas a Dr. Junia tem me ajudado a filtrar meus sentimentos. É necessário sentir, e você vai sentir, mas pode decidir o quanto isso é verdadeiramente importante.

A psicóloga disse que eu deveria falar seriamente com meus pais sobre cursar Música e correr atrás do que eu quero. Após uma conversa contraditória com eles, por fim, aceitaram que quase nada vai tirar essa ideia da minha cabeça. Posso falhar, mas tenho que tentar.

Sobre como eu enxergava o mundo: Não posso mudar tudo de um dia para o outro, mas posso mudar um pouquinho aos poucos. Diferenças sempre vão existir, pessoas ruins vão continuar existindo. Tenho que aceitar certas coisas.

Na real, tudo ficou mais fácil depois que eu contei tudo à ela. Um peso saiu dos meus ombros.

Claro que foi um pouco caótico ter que ir no psiquiatra depois, para ele me receitar alguns remédios, e meus pais tentando compreender tudo; mas em um sessão coletiva que eu pedi com a Dr. Junia, nós três resolvemos tudo aos poucos e eles estão sendo incrivelmente legais e compreensíveis comigo. Até Dave veio passar uns dias com a gente, conversou comigo, pediu desculpas - apesar de nada ser culpa dele - fomos no cinema juntos. Foi a melhor decisão que já tomei, mas também a mais difícil.

Não precisei falar quase nada com Thomas e Catarina diretamente. Só falei que estou tomando umas coisas e indo nas consultas toda semana. Catarina quase explodiu de felicidade. Nós duas juntas estávamos numa vibe de positividade irritantemente boa. Thomas ficou mais no seu canto. Era difícil para ele. Eu tinha uma família que compreendia minha situação. Ele carrega sua família nas costas. Apesar de toda as conversas que eu tive com ele sobre ir procurar ajuda, ele sempre desviava do assunto, se isolava. E eu estava cansada. Não posso ajudar quem não quer ser ajudado. Meu maior medo, no momento, é perdê-lo.

No entanto, as coisas melhoraram um pouco para Thomas também. Me contou que seu pai estava saindo com uma mulher do trabalho. Ele deixou transparecer que não gostava dessa ideia, senti que ele temia por essa mulher; entretanto, de certa forma, era uma folga para ele, um alívio momentâneo. Tom não aparecia machucado e fortemente abatido tinha umas boas semanas, porém também via nos seus olhos a culpa por se sentir um pouquinho bem com isso. Era um sentimento agridoce.

Quando chegou a sessão em que conversei sobre Thomas com a minha psicóloga, ela me recomendou manter certa distância. Foi a única indicação que não segui. Sei que podemos ser gatilhos um para o outro, mas não vou abandoná-lo. Eu sou, provavelmente, o único apoio real que ele tem. Eu não estava nem aí se me destruísse de dentro para fora, se isso significasse ajudá-lo.

Apesar da minha insegurança irracional ter acabado um pouco, eu ainda estava em um processo de me aceitar. Também por dentro e por fora. Óbvio que eu e Thomas estávamos sedentos um pelo outro. Mas eu me segurava sempre que ia longe demais, e ele também. Basicamente não tínhamos passado da terceira base (1º beijo, 2º mão boba, 3º oral, 4º sexo). Em minha defesa - ou não, risos-, isso aconteceu em uma maratona de uma série muito ruim na minha casa. E só havia eu e ele. O que você espera de dois adolescentes com hormônios à flor da pele? Dá para sobreviver, por enquanto, na terceira base tranquilamente, e sem preocupação de ficar grávida.  

Por fim, com a chegada da primavera e o fim do ano eminente, tudo passou muito rápido. Afundamos na rotina da escola, escola e escola. Terapia uma vez por semana, estudando no ônibus desesperada para conseguir pontos, fins de semana na minha casa em que o trio (eu, Thomas e Catarina) combinávamos de estudar, mas acabava sempre em gravações de vídeos engraçados na história do Instagram e filmes de terror muito ruins, e claro, o brigadeiro de índole duvidosa de Cat.

Uma vida vazia [COMPLETO]Where stories live. Discover now