Capítulo 29

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Os dias começaram a ficar cada vez mais longos. Eu não sei como nem quando as coisas ficaram tão difíceis de lidar. Era apenas o meu primeiro dia em casa, mas parecia que eu estava um lixo havia semanas. 

Meus pais haviam saído cedo para trabalhar, mas antes minha mãe fez questão de me acordar alegando que o dia precisava ser produtivo, que eu deveria estudar por agora, porque quando ela chegasse de tarde ela me daria umas boas tarefas para fazer.

Eu tentei até dormir de novo, mas não conseguia dormir bem faz tempos, e o peso na minha consciência não deixava. Eu olhava para os livros em cima da minha escrivaninha e eles me encaravam de volta. Pareciam me julgar. Achei rude a atitude deles.

Fiquei pensando em como meu irmão Dave conseguia aquilo: estudar. Ele sempre fora muito dedicado para chegar onde ele está. Ele devia gostar muito do que faz. Orgulho do papai e da mamãe.

Era inevitável imaginar se minha mãe já havia ligado para Dave, ou comentado até mesmo com a namorada dele, Helena, e agora futura noiva sobre o meu fracasso na escola, na fraude que eu era.

Suspirei, olhando para o teto do meu quarto. O nó na garganta se formando novamente, a visão embaçada. Eu estava cansada. Não importava mais o quanto eu dormisse, eu estava sempre cansada. Meus olhos já não aguentavam mais chorar. Meu estômago e minha cabeça doíam. 

Eu estava cansada de mim mesma. Eu não fazia ideia de como as pessoas estavam me aguentando. Eu estava um caos.

Corri até o quarto dos meus pais num impulso. Parei em frente ao guarda-roupa, me sentindo tentada ao abri-lo. Lá estaria a caixinha de remédios deles, com tudo o que eu precisava.

Não era a primeira vez que eu fazia isso, não era a primeira vez que eu considerava isso. Apenas tinha se tornado menos frequente depois que eu conheci Catarina, e quando voltei a ficar mal de novo procurava refúgio nos cigarros. Mas o esgotamento emocional que eu vinha sentindo esses dias, preocupada com Thomas, preocupada com as provas, medo constante de falhar, eu sabia que eu ia falhar...Tudo tinha virado uma bola de neve gigante que eu não conseguia mais aguentar.

Eu abri o guarda-roupa, peguei a caixinha de remédios, me sentei na cama e a abri. Fiquei encarando todos aqueles nomes esquisitos e me perguntando para que serviam, e o que fariam comigo. Seria o suficiente? E se não desse certo? O que eu faria depois? 

E se desse certo?

Eu já havia parado de chorar, no entanto fiquei um bom tempo encarando a caixinha. Me sentindo vazia e pensando em todas as consequências que eu geraria se fizesse isso. O sentimento de culpa não me deixava ir pra frente. Eu pensava em tudo que eu poderia causar para as pessoas ao meu redor. 

Eu sabia que eu era amada, mas eu não me sentia tão amada no momento. E por mais que eu me preocupasse com o que eu causaria para os outros, eu estava cansada de viver por eles. Estava na hora de começar a viver por mim. E eu estava decidida que eu não queria mais viver.

Então peguei um potinho de remédios qualquer e enfiei um punhado de compridos na boca.


Uma vida vazia [COMPLETO]Where stories live. Discover now