Uma vida vazia [COMPLETO]

Capítulo 27

Meus pais conversaram com a diretora. Ficaram calmos, assentiram, e disseram que também iam conversar comigo sobre isso. Eu sabia que ia ser muito pior do que apenas uma conversa. Fiquei de cabeça baixa nos poucos minutos que eles conversaram. 

Minha mãe e meu pai ainda vestidos de terno dos seus respectivos trabalhos. Advogada e empresário. 

Ambos pareciam muito sérios com aquelas vestimentas. Eu gostava mais da época em que meu pai usava seu uniforme de enfermeiro, antes de trabalhar na área empresarial; quando minha mãe passava as tardes comigo, antes de ter que voltar a exercer o direito para termos mais dinheiro; e quando Dave morava conosco, antes de ter que se mudar devido a sua carreira.

Tudo girava em torno de trabalho e dinheiro. Não só na minha família, mas no mundo todo e isso me fazia querer morrer. WAKE UP WORLD! YOU NEED TO MAKE MONEY! Me lembro da música, do viaduto e de Thomas por um momento.

Meus pais me chamaram para ir embora e fomos em silêncio até o carro. Quando entramos, começou.

-Lilian, me dê seu celular. -Minha mãe ordenou.

Eu entreguei. Sabia que não adiantaria nada brigar com eles, não havia argumento.

Meu pai dirigia em silêncio, carrancudo. Minha mãe parecia que ia começar a falar a qualquer momento, mas ainda tentava encontrar as palavras.

-Por quê?- Ela finalmente resolveu começar. -Por que você fez isso Lilian?

Eu não sabia. Nem o porquê, nem o que responder. Então eu apenas dei de ombros com cabeça abaixada.

-NÃO FAÇA ISSO!- Minha mãe explodiu. -Não aja como se não soubesse o que você fez, você sabe! Isso é sério. Não me faça sentir pena de você, porque eu não vou. Você é uma garota muito mal acostumada! Eu e seu pai damos duro, fazemos de tudo por você e é assim que você retribui? Mentindo para nós? Burlando as leis? Você se acha melhor do que alguém naquela escola para isso?  Você se acha melhor do que seu irmão que estudou a vida inteira e trabalha hoje? Pois você não é! Você é uma vergonha para nossa família! 

Minha mãe berrou tudo isso a plenos pulmões. Seu rosto estava vermelho e as palavras me cortavam como facas, mas eu de fato, estava com medo dela ter um AVC de tanta raiva.

-Maria, se acalme, por favor. -Meu pai tentou suavizar as coisas. Mais para minha mãe parar de gritar do que retirar o que ela disse, porque sei que no fundo ele concorda com ela.

Minha mãe respirou fundo e continuou.

-Sem celular, computador e internet por tempo indeterminado.

-Mas mãe, vou precisar disso pra estudar.

-Sob a minha supervisão ou do seu pai quando chegarmos do trabalho. E você não vai sair para lugar algum até você fazer essas provas.

Eu apenas assenti, discutir seria inútil.

Minha mãe queria falar mais alguma coisa, provavelmente reclamar que eu tirei ela do seu trabalho, mas no fundo ela está agradecendo a mim, afinal, todo santo dia ela reclama de lá. 

Olhar para o meu pai era o pior de tudo, ele não disse nada, estava apenas decepcionado, triste. Olhava perdido para estrada tentando entender a situação.

Com minha mãe era fácil de lidar. Explosiva, raivosa. No entanto o olhar do meu pai, era mais profundo que isso. Ele provavelmente está se perguntando onde errou comigo, e logo minha mãe também irá se perguntar qual foi a falha na minha criação e educação. Eu queria dizer para eles que eu sinto muito, que não é culpa deles, que o problema sou eu, apenas eu, que não sei lidar com as coisas da vida, mas meus lábios não conseguiam se mover para dizer uma palavra. 

O caminho foi feito em silêncio.