Uma vida vazia [COMPLETO]

Capítulo 36

Eu não sabia como reagir diante aquilo. Tudo estava uma confusão na minha cabeça, muitos problemas ao mesmo tempo. E eu entendo agora o porquê do Peter Pan não querer crescer. Quando você cresce, as coisas se tornam muito mais reais, mais sérias e você tem noção de tudo de ruim que acontece a sua volta e não faz ideia de como lidar com tudo isso, pois você está tão perdido como se tivesse 10 anos de novo. 

É assim que me sinto diante de Catarina machucada. Perdida, e sem saber o que fazer. Mal sei de onde tiro forças para perguntar algo. Meu corpo agora fervilhava de raiva, do Breno, de homens machistas, do mundo.

-Como aconteceu? Você já o denunciou? EU O VI NA ESCOLA HOJE, CATARINA! ELE TEM QUE PAGAR PELO QUE FEZ!

-Shhhi...Fala baixo, Lily! Não quero que ninguém ouça a gente.

-Mas eles vão me ouvir sim! ELE TEM QUE SER PRESO! -Eu falava com tanto ódio que já havia até esquecido do meu próprio caos. O que eu sentia não era nada comparado ao que Catarina passou. 

-Posso explicar? POR FAVOR? -Ela levantou a voz, me olhando séria e firme. Logo fiquei em silêncio. Não havia lágrimas em seus olhos. Catarina sempre foi mais forte que eu. -Nunca havia acontecido, até o fim de semana da resenha. Por isso que não tive a oportunidade de te contar, com tudo que aconteceu com você, a suspensão, etc. No dia da resenha o Breno mentiu para nós, ele havia bebido e estava dirigindo, e fez isso mais uma vez. Descobri isso, no sábado à noite, quando você já havia ido embora lá de casa. Breno tinha voltado para casa do Fruta depois que deixou a gente, para um social pós resenha com o que havia sobrado, sei lá. Tinha bebido. Muito. Foi até a minha casa depois, no sábado à noite, meus pais já estavam dormindo, sono pesado, sabe? Ele estava bêbado, havia dirigido embriagado, então eu briguei com ele, discutimos feio. Porém ele me ignorou na maior parte, ficou me puxando, queria transar, mas eu disse que não estava no clima, e quando ele chegou perto de mim, senti o cheiro de álcool exalando da sua boca. -Eu arregalei os olhos nessa parte, com medo do que estava por vir. -O Breno não me estuprou, se é isso que está pensando. Mas ficou bravo. Bravo por eu não querer transar com ele e eu ter chamado sua atenção por ele ter bebido, só piorou tudo. As coisas saíram do controle. Ele me deu alguns socos no estômago, e eu... -Pela primeira vez percebo sua voz falhar. Catarina engole em seco, segurando as lágrimas -E eu não fiz nada. Aceitei os golpes. Não que eu achasse que eu merecia, não sou besta. Mas não fiz nada porque fiquei paralisada, em choque. Não consegui me mover por um bom tempo depois que ele saiu disparado da minha casa. Não foi pela dor, foi pelo que ele fez. Isso me paralisou. E ainda depois de um tempo tive a ousadia de me preocupar com ele...Se chegou bem em casa por ter bebido e tal. Eu sou uma idiota. 

As lágrimas finalmente vieram e eu a abraço. Não falo nada, apenas a abraço enquanto ela chora silenciosamente. Sem soluços, sem gritos, sem gemidos. Apenas lágrimas rolando dos seus lindos olhos castanhos esverdeado. 

Catarina funga o nariz e continua.

-Ele veio falar comigo na segunda, sabe? Na escola. Você já havia sido levada embora. Ele pediu perdão, e tudo mais, fez o maior show para mim. Quase acreditei que estava arrependido. Quase. -Ela soltou um longo suspiro. -Terminei com ele. Por mais que esteja arrependido, seja o álcool o motivo que ele fez o que fez, seja lá o que for... ele não é bom para mim e não é uma boa pessoa agora. E não há nada que eu consiga fazer para esquecer isso. Não sou boba de voltar com ele, nunca mais. Deus tenha misericórdia da garota que casar com ele. Mas o sentimento de impotência não vai embora, Lily, é horrível. -Ela dá uma leve soluço e começa a chorar de novo.

-Cat...-Ela me olha de soslaio fingindo cara feia, e da um meio sorriso. Catarina odeia que eu a chame assim. -Eu sinto muito. Sinto muito por não estar lá quando você precisava de mim e por ser tão egocêntrica. Eu foquei tanto em mim, achando que eu que tinha problemas e não reparei em você. Eu sou uma péssima amiga. Me desculpa mesmo. Isso tudo vai passar. Você é a pessoa mais forte que eu conheço. -Abraço ela. -Eu só espero que o filho da puta vá logo para a cadeia. Ele já tem 18 anos mesmo, espero que apodreça lá!