12. Inversão De Papéis.

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Depois de bons minutos deitado no colo da minha mãe, resolvo me levantar e me preparar psicologicamente para a conversa. Dizer que estou nervoso é uma atenuação dos fatos. Me sinto em uma montanha russa, subindo lentamente há dias e finalmente prestes a descer pela grande queda.

Volto para o meu quarto, passando pelas gêmeas brincando com suas bonecas e as mais velhas assistindo série. A cena é tão comum e caseira que me faz ficar tranquilo por cerca de um segundo antes da realidade me estapear na cara. Quando Harry chegar, o que eu vou fazer?

Confrontá-lo? Acusá-lo? Gritar com ele de uma vez ou esperar que ele comece a falar por conta própria?

Tenho medo de não conseguir fazer uma única palavra sair e simplesmente começar a chorar, mesmo que agora eu me sinta estável. Sem vontade de sair correndo pela ideia de tê-lo perto, mas sem a mesma coragem que eu costumava ter. Ele destruiu isso, ninguém pode me julgar por estar ressentido, nem mesmo a minha mãe.

- Louis, aquele rapaz está esperando você na sua sala. - Mandy aparece na moldura da porta do quarto, se referindo à sala de música como "minha sala". Agradeço o aviso e suspiro, deixando que ela se vá.

Assim que consigo respirar tranquilamente, começo a andar rumo ao meu cantinho da casa. O cheiro de Harry está por todo o caminho que me leva até lá, se diferenciando do de Dan de uma maneira inexplicável. É como se eu sentisse que é ele, dentro de mim.

Uma melodia conhecida vem do piano, acompanhada da voz grave que eu conheço bem. Abro a porta devagar, evitando emitir qualquer som que o fizesse parar de tocar. A música é Demons e de certa forma se aplica, então eu apenas o deixo quieto tocando até ele acabar a última estrofe.

- É realmente a sua música. - De todas as coisas eu poderia ter dito primeiro, essa é a que resolve sair. Ele se vira abruptamente e os seus cachos se movem como os de um comercial de shampoo, os olhos verdes se tornando assustados.

Que inversão de papéis.

- Eu nem percebi você aí, desculpa. - Ele parece atordoado, quase tropeçando no banco do piano ao se afastar rapidamente. Olhando agora, não se pode dizer que esse é o mesmo alfa de antes. - Eu não queria mexer em nada.

- Eu não sabia que você tocava piano. - Não sei ao certo porque estamos falando tão casualmente se existe tanta tensão das duas partes, mas também não quero ser quem vai começar a conversa. Procuro não me aproximar, me mantendo longe ao sentar no puff do lado oposto ao dele na sala e ele parece perceber.

- Liam me ensinou algumas notas. - Ele diz e sua voz parece desgastada, mais rouca que o comum. Noto as bolsas escuras sob os seus olhos sem brilho e a pele pálida, o cabelo bagunçado e a expressão abatida.

- Você esteve doente ou algo assim? - Pergunto do nada e ele fica estático, ainda em pé próximo ao piano preto. O garoto abre e fecha a boca várias vezes e passa as mãos pelos cabelos longos, se virando e apoiando os braços no instrumento.

- Eu tenho tomado doses mais fortes de um remédio. - Ele responde vago e a luzinha da curiosidade se acende na minha cabeça, típico meu. Debato por algum tempo e bufo audivelmente, me levantando e passando por Harry ao me posicionar como ele do outro lado do piano.

- Que tipo de remédio? - Tento soar casual mas falho, sua cabeça se levantando e seus olhos ficam vidrados nos meus. Desta vez, fazer contato visual com ele não me transmite medo; me traz uma certa calma.

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