Capítulo 34

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Charles

Não posso ficar com ela, sei disso, sempre soube, mas meu egoísmo não me permitiu deixa-la.

Porém, depois da visão que tive com aquela mulher, algo mudou. Senti um mal pressentimento forte dentro do peito, como se coisas ruins estivessem por vir. Isso me fez parar para refletir o quão complexa e perigosa pode ser a vida de um demônio e notei a besteira que havia feito.

Quando decidi trazer Blair para minha casa, não tinha me dado conta do perigo em que havia nos metido. Meu ego estava ferido e minha cabeça tão confusa, que simplesmente fiz, sem pensar nas consequências.

Quando a sequestrei, não cogitei a possibilidade de outro demônio vir me procurar e encontrá-la. Não levei em consideração que as chances de mata-la aumentariam desproporcionalmente ao vivermos debaixo do mesmo teto, sendo obrigado a sentir diariamente sua energia que, sabe-se lá o porquê, sempre me pareceu mais saborosa e reluzente que as demais.

Blair ainda estar viva e sem nenhum arranhão é quase um milagre.

Ao notar a situação, corri para o mais longe que pude e acabei com meu estoque de Kiu para tomar coragem e liberta-la.

Definitivamente, nunca havia sido tão covarde, mas voltei decidido. Dessa vez seria para sempre.

A despedida final.

Então, Blair me encarou com aqueles olhos castanhos quase pretos e toda minha certeza caiu por terra.

Por um momento, eu podia jurar que vi medo em seu olhar após me ouvir dizer que não nos veríamos mais.

Meu poder de ouvir pensamentos estava falhando por conta da bebida e da visão que, aparentemente, havia me afetado bastante. Não conseguia entender o que a humana pensava e me amaldiçoei por isso.

Seria muita prepotência acreditar que ela ainda me queria em sua vida?

Eu não sabia responder. Sabia apenas que era inevitável estar tão próximo e não me sentir tentado a toca-la.

Eu devia romper qualquer laço que ainda nos ligasse, era a coisa certa, mas a vontade de beija-la foi mais forte e me cegou.

Seus lábios rosados estavam tão perto que pareciam chamar pelos meus e, quando me aproximei, pela primeira vez em muito tempo, ela não recuou.

Blair também me queria e eu a teria beijado se não fosse por um anjo estúpido arrombando a porta e invadindo minha casa.

Estava prestes a pular em cima dele e arrancar toda pluma daquelas asas ridículas e, se Blair não tivesse entrado em minha frente e me impedido, eu o teria matado com prazer.

Não entendi muito bem o que houve comigo naquele momento, mas a voz e o toque da humana me controlaram de uma maneira assustadora.

Não é a primeira vez que sinto como se uma parte de mim respondesse a Blair e isso tem me deixado inseguro.

Para completar a desgraça, uma humana loira e escandalosa entrou pela porta como uma desesperada aos berros.

Nem pensei duas vezes e os expulsei, mas Blair ignorou minha ordem e os convidou para dentro e, como se não bastasse, insistiu que passassem a noite por conta da tempestade que havia caído de repente.

Autoridade na minha própria casa? Aparentemente nenhuma.

Humanos são tão imbecis!

Cogitei expulsar os dois a ponta pés mesmo debaixo de neve e contra a vontade de Blair, não era como se eu me importasse com eles, mas a humana se importava e estávamos próximos de uma despedida. Eu não queria que sua última lembrança comigo fosse uma briga, então resolvi deixar os intrusos ficarem.

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