Incubus

Capítulo 41

Serena

Blair alegou cansaço e subiu para o quarto, mas entendi seus planos quando Charles sumiu da sala de jogos logo depois, seguindo-a.

Nathaniel também havia percebido, mas nada disse. Permaneceu sentado, encarando-me tranquilo com seus lindos olhos azuis.

Abaixei o volume do som e sentei ao seu lado. Iniciamos uma conversa divertida, mas era eu quem falava mais. Ele apenas ouvia com atenção e, algumas vezes, deixava escapar uma risada ou um comentário.

- E a Blair caiu de cara na piscina! - gargalhei. - Foi uma loucura!

Não conseguia parar de rir e Nathaniel me observava com um sorriso largo. Quando me acalmei, encarei o rosto do anjo que esboçava uma expressão diferente dessa vez.

- Você é linda. - elogiou, de repente. Senti meu rosto corar.

- Você também é lindo.

- Seus olhos me deixam completamente perdido. - chegou mais perto. - E você é tão intensa... - se aproximou ainda mais, fazendo-me prender respiração com o coração enlouquecido dentro do peito.

Ele faria o que eu estava pensando?

O anjo chegou perto o suficiente para quase me beijar.

- Nathaniel, você bebeu. - alertei contra minha própria vontade, mas era possível notar sua embriaguez e não era justo. - Devíamos dormir.

O anjo ignorou o que eu havia dito e nossos lábios se tocaram levemente, enquanto nossos olhares permaneciam presos um ao outro.

- Você vai se arrepender de ter feito isso amanhã.

- Eu sei. - respondeu, mas me beijou mesmo assim.

Seu beijo era calmo e seus lábios macios e ágeis. Levei minhas mãos ao seu peito duro e escorreguei-as para seu pescoço, puxando-o para mim sem me importar com nada.

O beijo foi ficando mais sedento e Nathaniel parecia estar perdendo a timidez e entregando-se aos poucos. Ele não me tocava de forma ousada, em momento algum tirou as mãos dos meus braços, mas eu podia sentir seu desejo.

Toquei a barriga definida por debaixo da camisa e o anjo se arrepiou, levando uma mão para minha nuca e segurando-a mais grosseiramente.

Lentamente e com cuidado, ele foi me empurrando para trás e deitando em cima de mim, mas quando comecei a descer as alças do meu vestido, de repente, o anjo se afastou, dando fim ao beijo com uma expressão assustada.

- Me desculpe! - levantou-se, passando as mãos nervosamente pelo cabelo. - Eu não devia ter feito isso, não sei o que deu em mim! - suas mãos tremiam. - Serei expulso do céu, eu vou...

- Nathaniel, se acalma. - segurei seu braço, interrompendo-o. Ele me olhou. - Está tudo bem, não acho será expulso por causa de um beijo. Aliás, ninguém precisa saber. Não contarei para ninguém, eu juro. - completei, sem conseguir conter a tristeza por sua reação.

- O beijo não foi o problema, Serena. - respondeu, encarando meus olhos com intensidade e confusão. - Ao menos, não o único.

- Então, qual foi?

- Eu gostei, foi esse o problema. - revelou, afastando-se. - E eu queria mais.

- Nathaniel... - chamei ao vê-lo caminhar em direção a porta.

- Preciso de um tempo para pensar. - e sumiu pelo corredor.

***

Dan

Entrei pelas portas gigantescas dos aposentados de Lúcifer e encontrei-o sentado em seu trono olhando para o nada, mas ao notar minha presença focou a atenção em mim.

- Mestre. - cumprimentei respeitosamente.

- Dan, que bom que está de volta. - respondeu com a voz tranquila e imponente. - O que descobriu?

- Charles está apaixonado por uma humana. - revelei, sem conseguir conter a careta de nojo. - E acho que dessa vez é ela.

- Droga! - resmungou inconformado. - Você tem certeza?

- Não, senhor. - neguei, sentindo medo de sua reação. - Charles notou minha presença antes que eu pudesse chegar perto o bastante para me certificar. - expliquei. - Mas a forma como ele a olhava... nunca vi em nenhum outro demônio.

- Você é mesmo um inútil, Daniel. - cuspiu a frase. - Mas fez bem, pois Charles não pode descobrir que estamos observando-o. Acha que ele sabe de algo?

- Não, senhor. Tenho certeza que não sabe de nada.

- Menos mal. - levantou-se. - Apagar a memória de Charles outra vez não vai adiantar e não acho que tentar afasta-lo dessa humana seja uma opção agora que se encontraram. Não sabemos o quanto estão ligados e pode ser pior. - disse com raiva. - Como deixaram isso acontecer, seu incompetente?

- Fizemos de tudo para que eles não se encontrassem, mas não poderíamos ficar próximos o tempo inteiro ou Charles suspeitaria. - Lúcifer rosnou. - Infelizmente, sabíamos que era uma questão de tempo. Era inevitável. Tentamos acha-la antes dele, mas nem mesmo nós temos poder suficiente para contra o destino. Está escrito, mestre. É a profecia.

- Essa garota vai estragar tudo! - socou o braço do trono. - Se Charles descobrir a verdade, tudo que planejamos estará acabado. - deu alguns passos. - Precisamos de um novo plano ou é o fim da linha para nós.