Incubus

Capítulo 50

Blair

Fiquei deitada em minha cama, deixando as lágrimas rolarem e encarando o teto como se ele pudesse me dar as respostas que eu precisava.

Charles havia mesmo me deixado?

Passei por coisas horríveis nesses dezenove anos de vida, coisas que em muitos momentos, acreditei do fundo do coração que não superaria, mas superei. Sobrevivi todo esse tempo. Isso. Sobreviver era a palavra. Eu me sentia apenas meio viva.

Então, Charles apareceu e, na teoria, ele devia tomar todas as coisas boas que ainda restavam dentro de mim, mas não foi o que houve. O demônio as trouxe a tona e me fez sentir viva de todas as formas possíveis.

Quando encarei seus olhos de escuridão pela primeira vez, foi como se, enfim, eu tivesse encontrado o que faltava. De repente, eu não precisava mais fingir felicidade com medo de voltar para clínica, pois era o que eu realmente sentia.

Mas agora ele se foi. Me deixou.

Será que vai ser sempre assim?
Todos que são importantes para mim me deixarão?

"Você não basta!" - a frase que Charles havia dito antes de partir, se repetia sem parar em minha cabeça.

Eu não bastava. Não era o suficiente.

No começo, pensei que estivesse blefando, mas não tinha tanta certeza agora.

...

Ouvi o barulho da porta e me inclinei levemente para ver uma Serena furiosa entrando.

Eu havia ligado para ela e contado o que havia acontecido, foi a única pessoa que veio em mente naquele momento desesperador. A loira se prontificou em dizer que logo chegaria em minha casa para me fazer companhia. Eu insisti que estava muito tarde e que não era necessário, que a ligação seria suficiente, mas minha amiga não me deu ouvidos.

Voltei a deitar, encarando o teto e ouvindo seus passos aproximando-se.
Quando alcançou a cama, tirou os sapatos, deitou ao meu lado e me abraçou. Minha respiração estava pesada e algumas lágrimas ainda desciam dos meus olhos.

Achei que ela diria algo, mas não fez. Ficamos assim, em silêncio, até pegar no sono.

...

- VOCÊ FOI SEQUESTRADA POR UM DEMÔNIO? - Serena gritava e descontava todo seu silêncio da noite anterior.

- Pelo amor de Deus, Serena! Para de gritar! - pedi pela milésima vez, enquanto tomávamos café sentadas a mesa. - Estou com dor de cabeça. - tomei mais um gole do suco de maracujá. - Sim, foi exatamente o que aconteceu.

- E Charles te salvou?

- Sim. - respondi com um aperto no peito ao ouvir aquele nome. - Quer dizer... acho que sim.

- Como assim acha?

- Não lembro de tudo com clareza. - expliquei. - Lembro que estava em meu quarto quando um homem esquisito entrou pela janela e me atacou. Depois disso, acordei num lugar horripilante e muito quente. - forcei um pouco mais as memórias ainda confusas. - Quando acordei, o homem que me sequestrou apareceu com mais um homem ao seu lado que se apresentou como Lúcifer. - senti calafrios ao recordar dos olhos vermelhos.

- L-LÚCIFER? - minha amiga engasgou. - Está me dizendo que você foi sequestrada pelo diabo?

- Não sei bem, mas acho que sim. - passei as mãos pelo cabelo nervosamente. - Posso afirmar apenas que ele era medonho e tinha olhos assustadores.

- Tá repreendido! - fez o sinal da cruz. - Mas e depois?

- Ele disse coisas estranhas.

- Que tipo de coisas?