Capítulo 53

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Charles

Sem ela tudo se tornou breu. Outra vez sinto-me isolado na escuridão.

Não achei que seria tão difícil ficar distante. Não devia ser.

Mesmo que eu tenha tamanho poder celestial como dizem, ainda sou um Incubus. Um demônio fornicador criado para viver dos prazeres carnais. Então, porque é como se estivesse morrendo por dentro?

Se passaram quatro meses e ainda sinto algo dilacerando meu peito dia após dia.

Tentei de tudo para fazer essa maldita sensação passar, mas nada é capaz de amenizar esses sentimentos.

Nos últimos meses, tenho me alimentado do máximo de energia possível, tomando tudo de toda e qualquer humana. Eu acreditava que assim me sentiria melhor e logo esqueceria dela, mas estava errado.

Era ironicamente engraçado, pois eu havia conseguido energia e muito poder, mas continuava sem vontade de levantar da cama.

...

Numa noite qualquer, ao possuir outra humana por meio de seus sonhos, notei que ela lembrava Blair, fisicamente. Me senti ainda mais vazio que antes. Lembrava ela vagamente, mas não era ela. Não chegava nem perto.

Depois daquela noite, percebi que todas as anteriores também assemelhavam-se a Blair de alguma forma. Eu estava procurando-a em outros corpos sem me dar conta e a sensação de descontrole me deixou frustrado.

Vivi mais de um século sem ela, mas depois que a deixei, ficou difícil viver mais trinta dias.

"Vocês estão destinados a ficarem juntos, não há como fugir disso." - as palavras de meu tio ecoavam em minha mente.

Nunca acreditei em destino. Uma força maior pré-definindo o que irá ou não acontecer?

Não mesmo. Isso sempre me soou ridículo, no mínimo.

Acredito em escolhas. Pessoas fazem escolhas e elas desencadeiam o futuro. Tudo que vivemos é fruto do que escolhemos e devemos conviver com as consequências, sejam elas boas ou ruins. É nisso que acredito. Ou acreditava.

Mas que outra explicação teria para esse sentimento avassalador, se não destino? É como se uma força poderosa me puxasse para ela, impedindo-me de seguir em frente.

Eu a vejo em tudo que faço, em qualquer lugar que vou e não sei mais quanto tempo conseguirei viver assim.

...

Estava sentado no alto de um prédio aleatório de Nova York, frustrado por ainda não ter encontrado uma brecha no selamento que Lúcifer havia feito em Blair.

Venho pesquisando e procurando respostas incansavelmente desde que a deixei, mas a única maneira que encontrei para desfazer a maldição foi um ritual de quebramento de selo, mas para isso precisaria dos dois juntos em algum lugar, quietos dentro de um maldito triângulo.

Seria necessário tempo e cooperação, ambos são impossíveis. Lúcifer jamais se renderia, eu seria obrigado a entrar numa luta e subjulga-lo, o que era inviável, pois não havia forma de feri-lo sem ferir Blair no processo. Ou seja, continuo andando em círculos. Sinto que não importa o quanto me esforce, Lúcifer está sempre um passo a minha frente.

E o pior é saber que, caso ele entre numa batalha, mesmo que não seja enfrentando-me, qualquer ferimento ou mal que sofrer refletirá em Blair. E eu não posso fazer nada.

"Talvez eu não seja tudo o que o destino esperava." - pensei.

Suspirei derrotado, ao mesmo tempo que vi Nathaniel, o anjo amigo das humanas, pousar e sentar-se ao meu lado com cautela no alto do prédio, mantendo distância o suficiente para que suas asas enormes e desnecessárias não batessem em mim.

IncubusWhere stories live. Discover now