Capítulo 47

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Eleonor

Deitada na cama, não conseguia dormir. Lembranças me atormentavam como nunca.

As memórias jamais haviam saído da minha cabeça e do meu coração, mas desde que conheci Charles, o namorado da minha filha, elas tem voltado com mais frequência.

***

- Ai meu Deus! - corri até Harold desmaiado sobre o chão. Suas roupas brancas estavam ensopadas de sangue e ferimentos cobriam quase toda a pele visível. - Menino? Acorde!

Eu tentava não gritar apesar do desespero. Não queria acordar meus pais, pois sabia que eles chamariam a polícia e, talvez fosse a coisa certa, mas algo dentro de mim dizia que eu precisava ajudar o jovem desmaiado em minha frente.

Tentei puxa-lo para o banheiro com toda minha força, mas foi em vão, ele era pesado demais. Após mais algumas tentativas frustradas, desisti e fui atrás de toalhas molhadas.

Voltei para o quarto e tentei limpar sua pele ao máximo para enxergar os ferimentos.

Alguns eram muito profundos e precisariam de pontos, mas como não era uma alternativa, corri o mais silenciosamente possível pela casa, atrás da caixa de primeiros socorros que ficava guardada no banheiro principal.

Quando voltei, Harold permanecia desacordado. Fiz o melhor que pude para higienizar e cobrir seus ferimentos, mas todos os curativos ficaram verdadeiros desastres. Tentei refaze-los duas ou três vezes, mas acabei me conformando que não ficariam melhores do que estavam, forrei algumas cobertas pelo chão e, com muito esforço, empurrei-o para cima delas.

Três dias se passaram até que ele acordasse. Foi quase impossível esconde-lo dos empregados e de meus pais durante esse tempo, mas consegui manter todos afastados do meu quarto.

Harold abriu os olhos assustado quando o céu estava prestes a escurecer.

- Onde estou? - perguntou perdido, parando o olhar em mim.

Ele tentou levantar, mas deitou novamente com uma careta de dor.

- Em minha casa. - esclareci, observando-o. - Você apareceu machucado de madrugada e simplesmente desmaiou no chão do meu quarto. - Harold olhou ao redor.

- Sim... agora eu me lembro. - murmurou. - Quanto tempo fiquei desacordado?

- Três dias. - houve um curto silêncio antes que eu prosseguisse. - Você chegou aqui num estado assustador, seus ferimentos eram tão profundos. Teve momentos em que achei que morreria a qualquer instante. - continuei. - Mas os ferimentos foram curando inacreditavelmente rápido. Cada vez que eu trocava os curativos, notava a diferença. Não tem como alguém curar-se tão rapidamente assim. Ferimentos daqueles precisariam de pontos, deixariam cicatrizes e sua pele está quase intacta. - ele apenas observava-me. - O que aconteceu com você? Como seu corpo se curou dessa forma?

Harold respirou fundo e piscou algumas vezes antes de responder.

- Não é tão simples. - suspirou. - Não posso explicar.

- Como não pode? - questionei irritada. - Cuidei de você mesmo sem fazer a mínima ideia de onde havia se metido para acabar nesse estado. - apontei para seu corpo. - Talvez seja um bandido procurado fugindo da polícia ou um psicopata assassino que matou uma família inteira. - disse nervosa. - Meu Deus, o que eu fiz? - coloquei a mão na boca, horrorizada pelas hipóteses. - Vou chamar a polícia!

- Não! - Harold gritou fracamente. - Não sou nenhum bandido, muito menos assassino de famílias. - passou as mãos pelo rosto. - Mas também não posso contar o que aconteceu. Precisa confiar em mim.

- Porque deveria? - encarei-o. - Eu nem te conheço!

- Olhe nos meus olhos. - pediu. - Se puder enxergar a verdade neles, então, por favor, acredite em mim.

Ao encarar seus olhos naquele momento, algo mudou. Eu não via apenas verdade neles, mas um sensação estranha tomou-me inteira.

Desviei o olhar, despertando do transe, ao ouvir passos no corredor.

Dei uma última encarada no jovem misterioso deitado no chão e corri porta a fora para evitar que alguém entrasse e o descobrisse.

***

Despertei de minhas lembranças com gritos e reconheci a voz no mesmo instante. Era Blair.

Por alguns segundos foi como sentir o coração parar de bater, mas apesar do pânico, levantei e corri em direção ao quarto da minha filha.

Mas era tarde.

Consegui apenas o deslumbre de um homem alto de cabelos escuros e ondulados, com minha filha desacordada nos braços, pulando a janela.

- NÃO! - gritei, tentando alcança-los, mas quando olhei para fora, haviam sumido.

Confirmei naquele momento que não havia sido um humano e foi impossível controlar as lágrimas.

- De novo não! - lamentei, ajoelhada no chão frio.

O medo de perde-la estava de volta, mais forte que nunca. A culpa também. Novamente eu estava prestes a perder a única coisa que havia me restado.

Senti como se estivesse prestes a desmaiar, não sabia o que fazer e nem para quem ligar pedindo ajuda, se é que havia de fato alguém para ligar. Quem entenderia ou acreditaria?

***

Blair

Deitada na cama, eu encarava aleatoriamente meus pés, enquanto esperava Charles que, como sempre, estava atrasado.

O silêncio era absoluto quando fui surpreendida por um homem desconhecido entrando pela minha janela.

- Quem é você? - levantei assustada, afastando-me.

O homem tinha cabelos escuros e ondulados, corpo parcialmente magro e pele pálida. Seu olhar era doentio e assustador.

- Então, é você? - me analisou cuidadosamente, aproximando-se devagar.

- Do que está falando? - questionei apavorada. - O que está fazendo aqui?

- Agora consigo entender Charles. - sorriu como um maníaco. - Apesar de inojado, não posso negar que para uma humana, você é bem atraente.

Soube naquele instante que se tratava de um demônio e lembrei de todas as vezes que Charles havia alertado do perigo que eu corria caso nos descobrissem.

Não disse mais nada, apenas corri em direção a porta, mas ele me alcançou antes que eu pudesse abri-la. Consegui gritar, mas foi tudo muito rápido depois disso e, em alguns segundos, minha visão escureceu.

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