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— Ei, cuidado com isso, por favor! — Exclamo observando a força bruta que os homens usam para descarregar minhas caixas do caminhão.

— Calma Mendy, eles não vão quebrar nada. — Disse minha mãe enquanto se aproxima.  A voz calma e clara. Seus braços se enrolam ao redor do meu ombro como um cachecol.

Há duas semanas desde o casamento. Ontem, ela retornou da sua lua de mel. Por todo esse tempo acabo sendo obrigada a ficar na casa de Carol, irmã de Bruno, uma solteirona adorável e engraçada. Era incrível como aquela mulher era cobiçada no bairro. Sempre apareciam homens prontos para carrega-la em um date.
Apesar das histórias, eram tempos tediosos longe dos meus amigos.

A última vez em que eu pude ver a minha casa foi hoje, mesmo que por alguns instante, isso me causou um turbilhão emocional apesar da nossa real despedida ter acontecido três dias depois do casamento, tal como meu namorado e amiga.

Todos decidiram não romper laços. A conversa foi séria e intensa com Josh, haviamos iniciado a nossa relação há pouco tempo e não queriamos terminar então, optamos por continuar.
Agora não há mais volta para casa, apenas com um divorcio. E quanto a mim, continuo pensativa, sobre eu estar pronta ou não para viver essa nova vida.

— Apenas... não quero nada quebrado. — Resmungo para minha mãe enquanto cruzo os braços.

— Eu sei. — Respondeu compreensiva. Kate vai em direção ao caminhão e pega uma das caixas e retorna para mim. Espio a brecha da caixa e consigo enxergar algumas roupas e troféus meus de infância. — Leve isso para dentro. —Diz empurrando a caixa para as minhas mãos. — Cabeça vazia é oficina do Diabo.

Minha mãe me dá um peteleco na testa e
instantáneamente lanço meus olhos aos céus. Giro em meus tornozelos e me direciono para a casa. Subo os pequenos degraus da varanda e dou de com cara Dylan, soube através da minha mãe que durante a lua de mel o mesmo continuou em casa, sozinho. Nos encaramos e percebo o pequeno sobresalto que os seus olhos dão ao me ver. Não há interação entre nós apenas um silêncio acompanhado da brisa de verão. O garoto deve me odiar por invadir sua vida.

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O meu dia seguiu com muita arrumação envolvida. Pessoas entrando e saindo do meu quarto, colocando e retirando caixas. O cômodo em comparação ao meu antigo é um palácio, não tenho do que reclamar. A porta do banheiro é praticamente em frente ao meu quarto, e poderia ser, se não houvesse o quarto de Dylan. Apesar disso, é
melhor do que descer as escadas durante a madrugada, como na minha antiga casa.
A pior parte de tudo é arrumar a decoração e guardar as minhas coisas.

Já havia anoitecido e ainda restavam-se duas caixas. Me sento na cama e inicio mais um desencaixotamento. Dessa vez é uma caixa de velharia. Me espanto ao retirar uma moldura e conter uma foto antiga.

Era uma foto apenas minha e do meu pai, abraçados e sorridentes. Este foi o meu último dia com ele. Uma angustia conhecida estaciona no meu peito, sem qualquer freio ela aperta minha garganta.
Aquele foi um dia importante e eu, não consigo me lembrar.

— Mas que saudades... — Sussurro e inevitávelmente esfrego a moldura com meu polegar. Meus olhos marejam e não consigo conter as lágrimas. — Por que você me deixou aqui? — Indago sozinha, como uma doida.

De repente ouço uma batida na porta do meu quarto. Jogo a moldura dentro da caixa e rápidamente enxugo meu rosto com a barra da minha blusa. Caminho lentamente e giro maçaneta, espio através da fenda da porta. Dou de cara com Dylan, ele está encarando seu celular e tecla frenéticamente. Em dúvida com o motivo de sua presença não consigo evitar de cerrar os olhos.

Meu meio irmão! [EM REVISÃO]حيث تعيش القصص. اكتشف الآن