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Eu estou, ou melhor, estava muito confusa. Me sentia em um carrossel, com muita vontade de vomitar e uma sensação de dormência na boca.
Porém, meu coração batia muito fortemente com a sensação de irrealidade que me acompanhava.

Os médicos, Larissa e minha mãe, todos me fizeram muitas perguntas e
eu incapaz de responder a maioria delas. Principalmente quando me perguntavam o que eu me lembrava antes de apagar.

Misteriosamente, eu apenas tinha lembranças até o disparo. O som alto, tão agudo que criou um zumbido em meu ouvido e o clarão. Não me lembro sequer de cair no chão.

Minha mente estava inquieta, perturbada por cada informação que recebi. Saber que apaguei por uma semana era desconfortavel, principalmente quando penso em tudo que deixei para trás mal resolvido.

Os médicos disseram que eu ficaria assim por um tempo, pensando em muita coisa, em pouco tempo.
É muito para processar.

Todos também perguntavam se eu lembrava de algo durante o côma, e não, eu não lembrava. Sequer foi como um sonho. Foi como um nada, um pulo no tempo.

Quando acordei, meus olhos se abriram e eu não conseguia me mover, como uma paralisia do sono.

Eu apenas sentia que, já havia se passado um bom tempo desde a minha última lembrança, mas sequer cheguei perto do número de dias que fiquei desacordada.

Sei que estava no hospital, gracas a minha visão periférica, conseguia ver ao meu lado, aparelhos que monitoravam da minha respiração ao meu coração. E a minha direita, um buquê de flores, mais precisamente lírios brancos, dentro de jarro d'água.

Eu não conseguia ver mais nada além do que a minha visão periférica permitia.

Tive a sensação que encarei o teto por mais ou menos vinte minutos até que eu finalmente conseguisse mexer outra coisa que não fosse meus olhos.

Movi meu pescoço a esquerda e senti os tambores do meu coração rufarem após eu ver um rosto conhecido, o da minha melhor amiga; Sentada em um sofá cor cinza, usando um vestido verde musgo com mangas, eu me lembro muito bem quando
compramos juntas, dois ano atrás. Ela estava distraída no celular.

Noto um coque desesperador de bagunçado na sua cabeça e olheiras profundas em seu rosto. Isto me deixa preocupada, a ultima que Larissa em sua vida, é desleixada com sua aparência.

Levanto meu pulso tentando chamar sua atenção e imediatamente seu celular foi ao chão. Se eu não me sentisse tão molenga, com certeza eu riria disso.

Seu olhos ficaram vidrados em mim e lágrimas que surgiram, fazendo as luzes ao seu redor, reluzirem nos seus olhos. Ela continuava silênciosa e me encarando com um olhar descrente.

"Oi". Era a única coisa que saiu da minha boca internamente seca. Uma palavra coberta da minha voz falhosa e quase roca acompanhada de um riso.

Com toda essa emoção, senti a emoção tomar-me, aos poucos.
Lágrimas calmas escaparam pelas beiradas dos meus olhos e desceram aos cantos do meu rosto, chegando ao meu travesseiro.

Ela tentou ligar para minha mãe imediatamente, mas os tremores não a deixavam sequer pensar ou escrever os numeros, então eu fiz isso para ela. Pegar em um telefone parecia tão surreal.

Minha mãe não atendeu mas Larissa disse que ela estava vindo. Afinal segundo ela, minha mãe ordenou seriamente que ela apenas a ligasse caso, eu morresse ou acordasse.
E pela primeira vez, estou feliz em ser a segunda opção.

Kate chegou em minutos, sozinha.
Novamente me senti emocionada com o modo como tudo aconteceu, sua palavras de perdão e amor.

Meus olhos estavam vidrados nas duas, e na tamanha felicidade que escapavam por suas pelas íris, do sorriso á lágrimas. Eu me sentia incrível, até agora.

Meu meio irmão! [EM REVISÃO]Where stories live. Discover now