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— Então é isso? — Pergunto enquanto a observo bebericar a xícara de café em suas mãos que estão quase cobertas pelo seu robie branco, assim como o seu corpo. Ela balançou sua cabeça confirmando com a xicara ainda em seus lábios.

Após escutar seu plano, repenso se eu deveria realmente ter aceitado o seu chamado de vir aqui. Ele é tão louco quanto insano, e sim, há uma diferença.

Depois da nossa conversa "estritamente formal" no estacionamento, suas palavras se impregnaram na minha mente, como o perfume do meu namorado. Que tipo de pessoa eu sou, se eu não faço nada? Apenas mais uma cúmplice.

— A maioria dos departamentos policiais daqui são corruptos, tudo isso é muito extremo. — Pousou a xícara na emadeirada mesa de centro.
— Ele está planejando o golpe que, poderia ser o maior do nosso estado.
E não será apenas de empresas fantasmas. Ao menos foi o que o maldito segurança dele disse lá em baixo.

— Qual golpe será? — Pergunto intrigada.

— Isso eu ainda não sei, mas o farei falar. — Revelou e não pude mentir que isso me frustrou — Tenho um amigo polícial, ele irá me ajudar a convencer um departamento longe desses aqui a me ajudar com o Bruno.

— E você? — Pergunto tentando me certificar do que acontecerá com ela.

— Eu? — Indagou e assenti rapidamente. — Quando ele for preso daqui em média uma semana, eu vou me entregar. — Contou e seu tom mudou, me sinto mais aliviada por ela não sair impune dos seus atos. — Tudo sairá perfeitamente.

— E como eu sei que posso confiar em você? Que você não vai querer me ferrar no final das contas. — Pergunto, alisando meus joelhos cobertos pelo tecido grosso da calça jeans.

— Não tem como. Mas... tem algo que eu possa fazer por você? — Indagou, e em segundos, eu já sabia o que eu precisava, apenas não sabia se ela aceitaria. Martha parou de se movimentantar, analisando calmamente o meu rosto. — Me diga então.

Qualquer coisa?

Encaro com receio seus olhos escuros e cerrados e posso notar todos os recheios de desconfiança nesse olhar

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Encaro com receio seus olhos escuros e cerrados e posso notar todos os recheios de desconfiança nesse olhar. Aperto a alça da mochila preta pesada em minhas costas, quase como um movimento involuntário.

— Vamos lá, Mendy. Diga, já está ficando tarde.  — Carly me incentivou apoiando-se na árvore ao lado e observou o céu monotamente estrelado. — O que tem pra me dizer? —  Indagou, posso sentir a impaciência em sua voz por minha demora mas, apenas mordisco meu lábio inferior e observando se não há ninguém aos arredores. — Mendy?
— Chamou-me rapidamente.

Em um movimento lento, tiro alça da mochila dos meus ombros, lançando-a no gramado e me abaixando em seu ritmo. Carly cruzou os braços parecendo confusa.

— Não surta. — Digo com os olhos erguidos a Carly que continua de pé, durante o processo de mover o zíper da mochila, um conflito interno parece crescer em mim. — É isso. — Expando a abertura da mochila e mostro a enorme quantidade de dinheiro que recebido noite passada.

Analiso a expressão paralisada de Carly, seus olhos parecem querer soltar pra fora.

— Que porra é essa? — Indagou agachando-se bruscamente até a mochila, como eu. — Onde você achou isso, Mendy? — Perguntou com um tom preocupado e suspirei.

— Eu prometi que lhe ajudaria com o seu pai, e é isso que estou fazendo. — Empurro lentamente a mochila em sua direção. Seus olhares confusos ficaram dividos entre mim e mochila. Seu físico demonstrava apenas querer simplesmente pegar aquela mochila, mas seus olhos assombreados não.

— Eu não posso aceitar... — Sua voz saiu tensamente trêmula e posso ver o suor em sua testa — eu não sei de onde isso veio, quanto tem aqui? E melhor, de quem você pegou tudo isso? — Transbordou de perguntas.

— O dinheiro é limpo. E de quem eu peguei... — Digo pensativa em omitir essa informação e ao perceber que eu hesitava, seu olhar preocupado se tornou ameaçador e decidir não fazer isso. — Martha. — Conto me encolhendo em meus ombros, um pouco constrangida.

— O que!? — Exclamou e rapidamente fiz um gesto para que ela diminuisse seu tom de voz. Carly suspirou parecendo pasma, encarando mais uma das partes isoladas do parque. — Você não tinha parado de ver esta mulher?

— Carly... — Toco levemente seu ombro em um movimento cautelosos
— eu vou te contar tudo, mas não hoje. Você é uma garota esperta, vai saber como apresentar esse dinheiro a sua familia sem saber que foi você. Apenas... salve o seu pai. — Peço,  posso sentir as batidas do meu coração ficarem mais alteradas após eu sentir a emoção tomar conta de mim.

— Mas e se... — tentou acrescentar porém a impedi.

— E se, nada. Ai tem dinheiro a mais, até para recuperação do seu pai. — Digo bruscamente. — Faça isso por favor, por mim. Faça o que eu não consegui fazer. — Peço e sinto a brisa leve do ambiente abraçarem meu rosto enquanto meus olhos se encheram rapidamente de lágrimas.

— Estou confiando em você. — Contou agarrando a alça da mochila e em um movimento só jogando-a em suas costas. Ambas nos levantamos em silêncio, Carly me encarou e arfo quando seu braços me envolveram de repente. — Muito obrigada. — Agradeceu entre pausas e por sua voz posso sentir que ela está chorando.

— Apenas retribuindo o favor. — Conto em um sorriso leve e aproveitei para aperta-la mais em meus braços e posso finalmente me sentir aliviada em relação a ela.

Quando Carly se afastou, ela rapidamente limpou suas lágrimas e sorri. Ela infelizmente me agradeceu novamente, e nos separamos ali mesmo. Pude observa-la sair dali com  a pressa em seus pés e mais um sorriso brilhou em mim.

Logo comecei a me mover do local para casa, por sorte o parque fica a apenas uma quadra da minha casa, que se o plano de Martha der certo, não será mais.

Abro a porta e entro cinicamente em casa. Durante a minha passagem pelo hall pude ver os restando moradores dessa casa jantando, e a cara de Dylan não é das melhores.

Subi as escadas na ponta do pé em direção ao meu quarto, rezando para que não fosse notada. E por sorte, eu não fui. Todos devem achar que eu estou no quarto, eu apenas tranquei a porta e sai de casa. E como minha mãe está tranquila e não procurando por mim, deve estar tudo bem.

Fiz uma rápida troca de roupas, substituindo-as pela minha clássica camisola de seda, o que me fez pensar em Dylan e na nossa discussão de ontem. Não tivemos sequer tempo de conversar após tudo aquilo. Ontem não voltamos juntos para casa, ele teve que dormir na casa de Bruce graças a algum tipo de projeto da aula que ambos frequentam e ainda por cima, ele cortou metade do seu almoço para treinar mais.

Arfo me jogando na cama enquanto penso na sua fisionomia que sinto tanta falta. Sem conseguir esperar até mais tarde, acabo rapidamente pegando meu celular e deslizando meus dedos freneticamente pelo teclado e deixando uma frase para Dylan: "Pode passar aqui mais tarde?"

Um suspiro falho saiu meus pulmões e soltei o celular encarando o teto. Conforme o tempo que esperei Dylan chegar no quarto, senti meus olhos pesarem com a leve brisa que entrava pela minha janela e meu corpo parecer mais leve, como se ele adormecesse ao poucos e minutos depois, por completo.

Meu meio irmão! [EM REVISÃO]Where stories live. Discover now