Capítulo 25

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Para a primeira parte desse capítulo, gentileza escutar o cover do Jungkook da música "Purpose", disponível na mídia acima!


Seis anos atrás.


Hospitais deixavam Jungkook acanhado. O cheiro de antisséptico, as cadeiras duras, o clima artificial gelado demais e o silêncio — tudo isso contribuía para o garoto sentir como se o menor dos barulhos que fizesse fosse proibido, como se existisse um acordo silencioso sobre ali não ser lugar para ser feliz ou para barulhos que pudessem atrapalhar os outros.

Jungkook sempre levava as coisas ao pé da letra. E era em respeito à regra silenciosa que ele mal respirava, sentado naquela sala de espera. Ou talvez, sua respiração simplesmente não estivesse funcionando direito por causa do motivo que lhe trouxera ali: Choi Yanghee estava em trabalho de parto.

Ela estava esperando uma criança. Sua, porque aos dezenove anos de idade, Jeon Jungkook seria pai.

— Vocês já assinaram todos os papéis? — Sua mãe questionava, sentada em uma cadeira dura e estreita ao seu lado. Ao contrário do próprio filho, a senhora Jeon parecia muito confortável no recinto, o suficiente para tagarelar desde o momento que chegaram ali e o que era pior: em um tom nada discreto. — A assistente social já foi comunicada sobre Yanghee-ssi estar em trabalho de parto? E quanto à família adotiva, você já sabe se foi escolhida uma?

— Eu... ainda não assinei. Yanghee pediu para assinar primeiro, mas precisa falar com o juiz ainda... E não sei nada sobre a assistente ou sobre a família. — A voz de Jungkook falhou um pouco, ele tinha a impressão de ter alguma coisa entalada na garganta desde mais cedo, quando recebeu a ligação da família Choi. Mas é claro que ignorou os próprios sentimentos, dizendo para si mesmo que a garganta entalada era fruto do esforço para falar baixinho. — Eu estava no treino quando ligaram... Não era para a criança ter nascido hoje — murmurou.

Nos seus dias mais revoltados, Jungkook pensava que, na verdade, não era para aquela criança sequer existir. Foi um erro idiota; a camisinha estourou. Yanghee não tomava anticoncepcional e a pílula do dia seguinte era apenas 89% de garantia. O casal achou que estava tudo bem, contudo, semanas mais tarde, os inchaços na namorada tornaram-se constantes, bem como os enjoos e, de repente, bum: Jeon Jungkook e Choi Yanghee foram lançados no pequeno percentual dos 11% em que a pílula do dia seguinte não funcionava.

— Você também nasceu antes do previsto e nem por isso eu uso esse tom amargurado. — Sua mãe replicou, lançando um olhar firme que fez o filho se encolher. Ao contrário da mãe de Yanghee, a senhora Jeon não era nada a favor de doar a criança. Ela insistiu por meses que os dois deveriam casar, formar uma família e lidar com as consequências das próprias ações, e sua insistência acabou gerando uma briga colossal entre famílias, porque os Choi apoiavam a filha na decisão da doação; eles eram muito novos, era o que diziam. Yanghee tinha um futuro brilhante pela frente, com sua determinação e inteligência. Não deveria jogar tudo fora por causa de uma gestação não planejada, diziam.

E completavam afirmando que os orfanatos existiam justamente para isso, para que famílias incapacitadas de gerar filhos pudessem arrumar de outra maneira. A senhora Jeon, ouvindo essas palavras, disse que não interferiria porque não cabia a si tomar tal decisão, mas que nunca mais falaria com essas pessoas que tratavam uma criança como um bichinho ou um objeto que fosse fácil de ser descartado ou passado para frente.

— Desculpe — respondeu baixinho para a mãe. — Eu só 'tô nervoso. Você não acha que 'tá demorando demais? Será que a Yanghee está bem? — Era idiota da parte dele se preocupar com a garota, mas não conseguia evitar. Durante os meses de gestação, eles não conversaram sobre o que aconteceria entre eles, com o relacionamento, mas o jeito que a Choi lhe olhava já deixava tudo claro: a existência daquela criança significava o fim do relacionamento deles. Quando namoravam, Yanghee sempre deixou claro que o próprio futuro vinha em primeiro lugar independente de qualquer coisa, porque ela queria dar uma vida melhor para os pais e para si mesma, mas isso não significava que não amava Jungkook.

Segundo tempoWhere stories live. Discover now