Capítulo 38

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Yoongi tinha onze anos. Não podia se gabar da sua memória — certa vez, esqueceu a senha do seu estúdio na gravadora e precisou esperar Namjoon aparecer no prédio para que tivesse acesso ao cômodo —, mas aquela lembrança ainda era vívida.

Tinha onze anos e sua família tinha se mudado para um novo distrito há mais ou menos um mês porque a mãe conseguira um emprego em uma escola nova, melhor. Era um colégio grande, a mensalidade alta demais para que um ano de salário dos seus pais pudessem pagar, mas, por ser filho de uma funcionária e ter um histórico admirável de notas e disciplina, conseguiu uma bolsa. Não queria ter conseguido, queria continuar estudando na sua escola antiga, com seus poucos amigos, longe de todas aquelas crianças que pareciam viver em um mundo tão distante, tão diferente. Não conseguiu se adaptar e, um mês depois, tinha ganhado a fama do garoto esquisito que era filho da professora de História.

Yoongi nunca foi bom em fazer amigos. Geralmente, conseguia se enturmar através de uma pessoa específica, alguém extrovertido e animado que o adotava e o apresentava a novas pessoas. Era assim na sua antiga escola com seu pequeno grupo de amizades. No entanto, ninguém parecia disposto a ajudá-lo a se sentir melhor no ambiente novo e, tudo bem, Yoongi não se importava em comer sozinho no intervalo, em nunca ter com quer fazer dupla nas aulas, em ficar sentado em frente a porta da sala dos professores esperando Iseul sair para irem embora enquanto seus colegas de turma brincavam de futebol na quadra.

Era uma sexta e o dia tinha sido como todos os outros. Yoongi estava mais cabisbaixo que o normal e a razão fora a aula de Educação Física do dia. Jogaram basquete, o esporte favorito do menino, mas não pôde participar porque ninguém o escolheu para seu time e, como as equipes já estavam completas, precisou ficar esperando no banco sua vez. A sua vez não chegou. E estava tudo bem, de verdade. Ele não se importava. Não podia reclamar; sua mãe tinha um emprego melhor agora, o pai podia trabalhar menos por causa disso e Yoongi estava estudando em das melhores escolas de Daegu sem precisarem pagar um absurdo. Não estava no seu direito reclamar, precisava ser agradecido.

— Yoonie-ah. — Iseul chamou da cozinha. Ela estava desembrulhando os pacotes de comida que tinham comprado no caminho para casa. O pai não tinha chegado ainda, então deixou uma das marmitas no forno. — Você pode ir pegar uma coisa que eu deixei em cima da minha cama para mim?

O garoto assentiu e seguiu até o quarto dos pais. Ao abrir a porta, os olhinhos pequenos dobraram de tamanho e ele não conseguiu acreditar no que estava vendo, talvez fosse uma brincadeira. Havia uma bola de basquete em cima da cama, enrolada em uma fita amarela, e era o modelo que Yoongi tinha visto certa vez no departamento de esportes, mas não se atreveu a pedir aos pais porque era uma marca cara, não podiam comprar.

Apanhou o objeto nas mãos e voltou correndo para cozinha, o coração batendo agitado em seu peito. Uuuah, não acreditava no que estava acontecendo! Ela era tão pesada e igualzinha as bolas de basquete de verdade, aquelas que via na televisão em partidas da NBA. Tinha até o símbolo da marca costurado em seu couro legítimo!

— Mamãe, é 'pra mim? — perguntou animado, os olhinhos brilhando.

Iseul riu da reação do garoto e ajoelhou-se a sua frente, tirando os fios de cabelo presos a sua testa suada. Tinham vindo andando do restaurante e era um dia quente.

— Para quem mais seria? — Ela retrucou bem humorada. Yoongi desviou o olhar para o presente em suas mãos, o peito enchendo e enchendo, e, quando piscou, lágrimas desceram repentinas por suas bochechas. — Yoonie, o que foi? Você não gostou? — Iseul assustou-se com a reação do filho, tentando apanhar a bola para livrá-lo do peso, mas o garoto agarrou-se com força ao objeto.

— N-não me de-deixaram jogar hoje, mas eu que-queria. — Soluçou, lembrando-se do quanto seu coração apertou quando o professor pediu para que fosse se sentar no banco e esperar a sua vez. Yoongi queria a sua vez. — Ninguém me escolheu. Eles n-não gostam de mim.

Segundo tempoWhere stories live. Discover now