Capítulo 43

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Quando eles finalmente acalmaram os nervos e se sentaram para comer, a comida já havia esfriado. Yoongi se ofereceu para esquentar o udon, mas Jungkook negou, mentindo que ainda estava morno o suficiente e engolindo garfadas do macarrão grosso à força. O pouco apetite que lhe restava momentos antes de sair do treino havia desaparecido completamente agora, e cada vez que mergulhava os hashis em um hossomaki, era como se estivesse maltratando o próprio corpo, ignorando os avisos da falta de apetite enquanto mentia para si mesmo, dizendo que aquele seria o último sushi, a última garfada de macarrão, até que o prato diante de si estivesse limpo e a barriga dando voltas e voltas, o estômago embrulhando em desagrado.

Jungkook se lembrava de uma conversa aleatória que tivera com Taehyung tempos atrás, e o mais novo havia comentado que seu apetite nunca era afetado, não importava o quanto seu estado emocional estivesse abalado — ele era o tipo de pessoa que arrumava desculpas para comer se estivesse feliz, afogava as mágoas em comida, e aliviava o estresse comendo também. Jungkook sentia um pouco de inveja nesse sentido, porque era um polo oposto ao Kim, seu organismo funcionava completamente diferente:à menor mudança de humor ou qualquer problema na sua vida que surgisse e afetasse seu emocional, também interferia diretamente no seu apetite, levava para longe a vontade de comer e ele era obrigado a conviver com aquele oco no estômago que doía, mas que era mais suportável quando estava sem comer nada, do que quando forçava a natureza a engolir um almoço completo. Uma das poucas coisas que tinha facilidade de ingerir, independente da falta de apetite, era os famosos shakes proteicos: misturava com água ou com leite e engolia de uma vez, sem pensar e sem demoras. Era fácil porque não precisava mastigar, e era quase como se o estômago não registrasse a presença do líquido saudável, então não sofria com náuseas, como acontecia com os outros alimentos.

Sentado frente a frente com Yoongi, Jungkook tentou fingir que o silêncio na mesa não o abalava, como se a nuvem escura da briga recente ainda não estivesse pairando sobre suas cabeças, envolvendo-os em um temporal que tinha dado uma trégua, mas que parecia longe de terminar. Eles não seguraram as mãos na mesa de mogno como costumavam fazer (como fizeram na ilha de Jeju, no restaurante chique à beira-mar em um jantar romântico que parecia ter acontecido com outras pessoas, em outra vida) e o jogador pensou que era quase como se estivessem de volta a época que eram apenas amigos, mantendo uma distância respeitosa enquanto se reuniam para almoçar e jogar conversa fora.

Mas a ilusão era frágil e durou pouco, porque nem mesmo nos dias iniciais de amizade recente e tímida, Yoongi e Jungkook eram tão silenciosos e quietos. Eles não davam as mãos e trocavam carinhos nos primeiros meses de amizade, mas sorriam e riam na presença um do outro, conversando sobre tudo e qualquer coisa com a leveza de uma vida boa, de um dia tranquilo. Naquele almoço não havia nada daquilo, apenas feições cansadas e machucadas, uma exaustão profunda e a vontade de permanecer em silêncio partia de ambos porque se ficassem calados, a possibilidade de voltarem a brigar e da tempestade em suas cabeças despejar com força total era menor, mais improvável de acontecer.

Em meia hora o casal já havia terminado e Jungkook notou que Yoongi comeu tão pouco quanto ele próprio. Guardaram as sobras na geladeira e repartiram as tarefas em silêncio, Jungkook lavando a pouca louça suja e Yoongi secando e guardando no lugar. Trocaram poucas palavras sobre precisar sair, o horário de almoço de ambos estava acabando.

Do lado de fora, Jungkook foi surpreendido com a aproximação repentina de Yoongi. O produtor musical segurou sua mão antes de entrar no carro e puxou-o para um abraço, os braços magros encontrando caminho para as costas de Jungkook, envolvendo-o pelo torso com facilidade, porque ele ainda se lembrava daquele costume, ainda era um movimento familiar que parecia uma memória muscular. E Jungkook devolveu o carinho, sem hesitar, as mãos segurando os ombros de Yoongi e apertando-o mais contra si, enquanto o Min devolvia a ação com as mãos firmes agarradas no tecido que cobria suas costas.

Segundo tempoWhere stories live. Discover now