Interlude: First Love

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ATENÇÃO: Interrompemos a nossa programação para transmitir um comunicado extraordinário importante. Com vocês, Interlude: First Love.

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3 anos atrás

Yoongi tinha acabado de bebericar o segundo gole na latinha de cerveja trincando de gelada, quando o celular em cima da pequena mesa na sacada, tocou. Levantou da rede aos tropeços, a cabeça zonza e os pés leves denunciavam que não estava sóbrio, e ele abriu um sorriso torto, feliz com essa constatação. Era apenas o segundo gole da bebida alcóolica, mas aquela estava longe de ser a primeira latinha de cerveja.

— Alô? — Atendeu ao telefone todo desengonçado, e depois de ouvir um "é uma chamada de vídeo, seu idiota" vindo do alto falante do celular, tirou o aparelho do ouvido com um resmungo, tornou a se deitar na rede e esticou os braços com o celular em mãos, apenas para ser amaldiçoado com a cara de Seokjin tomando todo o visor.

Estava a vinte horas de distância do melhor amigo, mas este parecia determinado a vencer toda a distância e os oceanos que existiam entre os dois com o auxílio da — atual — pior inimiga de Yoongi: a tecnologia.

— O que você quer? — resmungou com o cenho franzido para o Kim, segurando o celular com uma mão enquanto a outra alcançava a cerveja no chão. Seokjin fez uma careta quando reconheceu a bebida alcóolica e perguntou:

— Então é assim que você está curtindo suas férias? — Yoongi revirou os olhos para o nariz torcido de Seokjin. Ele era tão certinho. — Bebendo na hora do almoço?

Yoongi abriu um sorriso convencido, deu outro gole generoso na bebida e estalou a língua com satisfação. Quando respondeu, saboreou cada palavra que faria a arrogância de Seokjin cair por terra:

— São duas horas da tarde aqui. Não é mais hora de almoço. — Seokjin resmungou alguma coisa ofendendo o fuso horário entre os países e Yoongi riu feliz. — Enfim. Como estão as coisas por aí?

— Não posso beber na praia. Não posso comprar bebida em lojas de conveniência, nem no supermercado, simplesmente porque não vende. E o preço da cerveja na merda da loja especializada nisso, que fica meia hora de distância do hotel, é quase o triplo do que pagamos em Seul. Sabia que já cogitei largar tudo em Seul para começar a traficar cerveja barata para esses pobres cidadãos? Um crime em nome do bem maior, você não acha?

Ah, coitadinho. Quem iria imaginar que a Austrália seria um péssimo destino para uma viagem de última hora? — O tom de Seokjin praticamente pingava ironia e Yoongi aceitou a repreensão, porque além do Kim ser seu hyung, ele também estava certo. Duas semanas atrás, quando estava em Seul se sentindo um lixo de ser humano e completamente frustrado pelos zeros adicionais na sua conta bancária, seu pai sugeriu em uma ligação que ele fizesse uma viagem para espairecer a cabeça. Yoongi gostou da ideia, porque ficar em Seul estava consumindo sua perspectiva de vida lentamente, o dinheiro extra na sua conta bancária estava fazendo-o se sentir mais sujo que um político que vive a base de propina, e ele nunca tinha feito uma viagem de férias sozinho. Em uma conclusão rápida e precipitada, considerou que os três motivos eram bons o suficiente para ouvir o conselho do pai e seguiu em frente com a ideia.

Comprou a passagem três horas da madrugada, em mais uma noite recheada de tentativas frustradas para compor. Não conseguia compor nada, nem um mísero verso free style idiota e sem conteúdo, há quase duas semanas, e isso não seria preocupante para ninguém, se Yoongi fosse um amador ou novato na área de composição musical. Mas ele era formado nisso, tinha um diploma que havia conquistado com esforço e mérito próprio, e já trabalhava com música há alguns anos, era um profissional. Duas semanas sem compor nada para um cara que costumava escrever no mínimo duas músicas por dia não era preocupante, era uma tragédia. Para piorar a noite, conseguiu uma promoção relâmpago idiota e o preço das passagens diminuíram consideravelmente, o que quase o fez desistir de tudo (o dinheiro na conta não era bem-vindo, não tinha sido adquirido por mérito próprio, então Yoongi queria gastá-lo da maneira mais irresponsável possível, só para ver se a raiva que borbulhava no seu estômago iria embora), mas acabou concluindo a compra mesmo assim.

Segundo tempoWhere stories live. Discover now