Capítulo 44

877 121 63
                                    

Recomendação: escutar a segunda parte do capítulo com a música acima.

×

Certa vez, enquanto esperava Hoseok sair do seu plantão na sala de espera do hospital no qual o Jung trabalhava, Jungkook leu em uma das revistas disponibilizadas na mesa de centro do local que as luzes dos semáforos de trânsito deveriam demorar no mínimo dois minutos para mudar de uma para outra. Era uma matéria sobre o desrespeito dos motoristas com uma norma tão simples, o que vinha causando uma crescente no número de acidentes nas ruas ultimamente.

Jungkook se considerava um ótimo motorista. Na auto-escola em que teve suas aulas, seu instrutor era bastante rígido e, ironicamente, também era amigo da sua mãe. Ainda conseguia se lembrar do homem pedindo para ele recitar as regras básicas de trânsito toda vez que tinha que mudar as marchas, e Minyoung fazendo-o repetir assim que chegava em casa. Então, é. Para o Jeon, obedecer as luzes verdes, amarelas e vermelhas era tão natural quanto respirar.

Mas não naquele momento.

Os dois minutos que a luz vermelha supostamente deveria ficar acesa pareciam estar durando todo uma eternidade insuportável e Jungkook precisou apertar o volante, resistir a tentação de pisar no acelerador e relembrar a si mesmo mais de uma vez que não precisava de uma multa de trânsito na sua lista de problemas. Ela já estava longa demais.

O jogador estava em uma reunião com seu time, o treinador explicando as novas táticas para o próximo jogo do campeonato, quando a voz de uma das recepcionistas soou pelos alto falantes do vestiário, chamando-o pelo nome. Aparentemente, havia uma ligação para ele.

Jungkook nem precisou pedir licença. Hajoon sabia tão bem quanto o atleta que o número da recepção do campo de treinamento dos Tigers só era de conhecimento dos funcionários do time e familiares selecionados, para o caso de haver emergências. No caso do Jeon, ele também estava escrito na ficha escolar de Hyerin porque nem sempre a escola conseguia se comunicar com Jihyo ou Hoseok, os outros números emergenciais da menina.

Enquanto atravessava os corredores até a recepção, Jungkook sentia as mãos começando a suar. Hoseok estava em plantão aquele dia, Taehyung tinha viajado com seu grupo da faculdade para assistir uma conferência em Daegu — só voltaria no fim do dia — e Yoongi não tinha o número do centro de treinamento, então a ligação só podia ser da escola de Hyerin.

Alguma coisa tinha acontecido com sua filha.

Não foi uma surpresa para o atleta quando ouviu a voz da professora da menina do outro lado da linha, informando que Jungkook precisava vir buscá-la naquele instante, assim que ele apanhou o telefone que o aguardava na recepção. Quando perguntou o que tinha acontecido, apenas foi informado que a Jeon não estava se sentindo bem. Como assim não estava se sentindo bem? Hyerin estava perfeitamente saudável e alegre quando o pai a deixou na porta do colégio. Lembrava-se também de ter guardado a bombinha e o remédio da menina no bolso da frente da sua mochila e os funcionários da escola estavam cientes da sua condição médica, por isso era muito raro ligarem caso Hyerin tivesse alguma crise de asma.

Se estavam ligando, era porque algo mais sério tinha acontecido e aquilo foi o bastante para fazer Jungkook correr de volta ao vestiário, pedindo apressadamente a Hajoon permissão para sair, e se enfiar no carro ainda com a roupa do treino — calça tactel e uma regata com o emblema do time, escondida sob uma jaqueta puffer preta —, onde agora estava, tentando não descomprir leis de trânsito enquanto o maldito semáforo parecia muito determinado a ficar vermelho para sempre. Irritado, ele socou a buzina do volante com força, como se isso fosse fazer com que a luz verde aparecesse mais rápido. Não fez.

Segundo tempoWhere stories live. Discover now