Capítulo 50

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— O prédio tem cinco andares — a corretora explicava enquanto guiava o caminho pelo corredor iluminado em direção a única porta presente no andar. — O térreo é um atelier. O terceiro e quarto andares também são compactuados, eles servem como uma galeria de arte. O proprietário os mantém fechados a maior parte do tempo, mas todas as exposições dele são feitas aqui. O último andar é um estúdio fotográfico.

Im Hanwool era uma moça alta, cabelo escuro caindo perfeitamente sobre os ombros, olhos redondos e expressivos e um sorriso perfeitamente manipulável; as curvas da boca levantavam nos momentos e medidas certas, moldavam suas palavras e conseguiam mascarar com maestria suas intenções. Seu caminhar era altivo, costas retas e saltos do sapato estourando como canhões no piso de porcelanato branco, e falava movimentando as mãos, construindo os morfemas no ar e enfeitiçando quem prestasse atenção. Era uma das profissionais mais experientes da sua área, embora ainda fosse consideravelmente jovem, e os músicos só tinham conseguido contato com ela porque Seokjin tinha amizade com um empresário do ramo alimentício, que havia feito faculdade consigo, e esse os recomendou para a Im.

A presença forte de Hanwool, no entanto, era estranhamente reconfortante para Yoongi. Era muito mais fácil, para ele, lidar com seu nervosismo diante a imponência da mulher do que com a toda a situação apreensiva e aterrorizante que o cercava no último mês. Situação essa que começou em uma sexta-feira comum, quase três semanas após a conferência de Jungkook, quando o Min arrastou sua cadeira para perto de Namjoon, no estúdio que dividiam na gravadora, e entregou-lhe um envelope branco. Estava carregando-o desde o começo da semana, completamente ciente da existência dele em sua bolsa a cada segundo do dia, e tinha precisado de inúmeras tentativas falhas de entregá-lo ao amigo, conversas com o namorado e um monólogo de autoajuda dito diante um espelho — ele se sentiu completamente patético falando consigo mesmo, mas não podia negar que não havia ajudado — para, enfim, conseguir atender o desejo do seu coração inseguro.

— Carta de demissão? — Namjoon franziu as sobrancelhas para as palavras escritas no exterior do envelope. — Você está formalmente se demitindo do cargo de meu amigo, é isso?

Yoongi revirou os olhos.

— Não, seu besta — repreendeu o mais novo, sentindo-se um pouco mais descontraído diante a brincadeira dele. Com um tiquinho maior de coragem, explicou: — É minha carta de demissão para o senhor Jo. Espero que você já tenha escrito a sua porque eu não vou montar uma gravadora e provavelmente falir sozinho não, ouviu? Isso foi ideia sua.

Namjoon o respondeu com um sorriso. Um sorriso grande e genuinamente empolgado, que estufou as bochechas, transformou os olhos em meia-luas cintilantes e cavou covinhas adoráveis no rosto. Era um sorriso que Yoongi presenciara poucas vezes na extensa quantidade de anos em que conhecia o Kim e que, na última vez que o recebera, apenas foi capaz de retribuí-lo com uma dor encarcerada repleta de lágrimas não bem-vindas. Naquele momento, no entanto, o Min foi capaz de espelhá-lo com a mesma segurança, a mesma ansiedade extasiante, a mesma visão de um sonho que ficou tanto tempo esquecido embaixo das obrigações que a vida jogou em seus caminhos que sequer parecia ter uma forma agora.

Contrariando os dizeres populares, o primeiro passo não foi o mais difícil. Yoongi não se sentiu acanhado e inseguro em caminhar ombro no ombro com Namjoon até o escritório do senhor Jo, entregar a carta de demissão nas mãos do velho que significava tanto altos quanto baixos em sua carreira, ouvir seus conselhos venenosos — Vocês sabem que esse mundo não é fácil. É uma pena que estejam abrindo mão de uma posição segura para se arriscar dessa forma desnecessariamente, mas boa sorte — e deixar o prédio da gravadora com uma pequena caixa abrigando os poucos pertences pessoais que se permitiu trazer para o lugar desde o momento que colocou os pés nele, anos atrás. O mais complicado foi o dia seguinte. Acordar sem uma obrigação, sem ter para onde ir. Acordar e perceber, enfim, a magnitude do que estavam fazendo.

Segundo tempoWhere stories live. Discover now