Capítulo 39

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Quando o velório de Min Iseul aconteceu, Yoongi estava completamente submerso.

O velório foi marcado para terça-feira às quatro da tarde. Kiyoung quem resolveu tudo e optou pela data, pensando nos amigos mais próximos de Daegu, que fariam o trajeto até a capital para comparecer a cerimônia. Se Iseul fosse enterrada, eles fariam o caminho contrário: o corpo seria transferido para Daegu, onde os Min estavam enterrados, e pai e filho fariam a viagem até a cidade natal. Mas, em seu testamento — que Yoongi só foi saber da existência com a fatídica notícia da morte da mãe —, a mulher pedia explicitamente para ser cremada. Então, não fazia real diferença onde o velório acontecesse.

A manhã e a parte da tarde passaram tortuosamente devagar. Ao contrário de si, seus amigos não foram liberados das respectivas rotinas no trabalho, então quando acordou às nove e vinte da manhã, era apenas os Min no apartamento frio e silencioso. Kiyoung ainda estava ocupando o quarto de Seokjin e tinha feito café da manhã, deixado tudo organizado na cozinha e um bilhete dizendo que saíra para espairecer. Yoongi entendia o sentimento: quando ficava triste, sua primeira vontade também era de se isolar em algum lugar onde não pudesse ser encontrado, ter um momento a sós até que conseguisse se recuperar e retomar a rotina normal.

Mas, além de ter um filho pequeno e não poder abandonar ou ignorá-lo, independente de como se sentisse, aquela também não era uma tristeza banal, comum. A queda era muito maior, mais dolorosa e avassaladora, e Yoongi não conseguia imaginar um futuro onde conseguiria voltar para a normalidade.

Taeshin acordou pouco tempo depois, reclamando de fome e falando alto, visivelmente feliz por ter faltado à aula mais um dia. Ele adorava ficar na companhia do pai e, quando Yoongi sugeriu que assistissem um pouco de desenho na sala, ganhou um sorriso brilhante da criança, mas nem aquilo foi capaz de animá-lo. Ele tentou retribuir o sorriso do filho e deixou um cafuné em seus cabelos, é claro que tentou, mas a impressão que Yoongi tinha era que o seu coração sempre tão emotivo e sensível estava envolto por águas escuras e geladas, como as águas mais profundas de um oceano, onde a radiação do sol não consegue alcançar e, consequentemente, não consegue aquecer.

Fazia um pouco mais de quarenta e oito horas desde a notícia da morte da mãe e, toda vez que Yoongi pensava sobre isso, afundava um pouco mais. Não sabia como parar ou diminuir a rapidez com que era tragado pela tristeza descomunal que se apossava do seu peito e, como toda vez que sentia emoções fortes demais, Yoongi ficava desorientado. E a desorientação o deixava imóvel, paralisado.

E isso apenas contribuía para ele continuar afundando, afundando.

Kiyoung voltou a tempo de prepararem o almoço, Jimin apareceu no intervalo de uma aula e comeu com eles. Ele explicou em um tom baixo e tristonho que tinha uma prova importante naquele dia e que não conseguiria ficar a tarde inteira no velório, mas que apareceria à noite. Yoongi agradeceu-o com um meio sorriso, sem conseguir reunir forças para bagunçar o cabelo brilhante e ruivo como costumava fazer, e disse que o que ele estava fazendo já era mais do que o suficiente.

O tempo escorria lento, melancólico. Era como se a própria vida estivesse tentando adiar o último adeus, a despedida final, mas Yoongi só queria que acabasse logo. Queria que arrancassem o band-aid imediatamente para que ele pudesse sofrer tudo que tinha para sofrer de uma vez só, porque chorar em intervalos curtos parecia ainda pior.

Trocou mensagens durante a tarde com Jungkook, recebendo várias mensagens preocupadas e carinhosas do namorado. Pensar em Jungkook, agora, também era algo que fazia seu coração se apertar, porque Yoongi tivera a oportunidade de apresentar o jogador como seu namorado para a mãe, mas tinha deixado passar. Fora tão idiota, inocente. Confiou na positividade da mulher, acreditou com todo o coração que teria mais tempo e agora nunca teria a chance de dizer para a mãe o quanto estava feliz com o namoro recente. O quanto se sentia em paz ao lado dele e o quanto queria que eles dessem certo, para que pudessem ficar juntos por muito tempo.

Segundo tempoWhere stories live. Discover now