Capítulo 47

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Quando a manhã chegou, Jungkook, impulsionado por uma coragem repentina — ou talvez um medo avassalador demais —, caçou seu celular em meio às cobertas da cama e, sem pensar duas vezes, procurou pelo número de Kim Seokjin na sua lista de chamadas e ligou para o mais velho.

Jungkook-ah, a que devo a honra de ouvir sua voz essa hora da manhã? — Foi o cumprimento, bem-humorado, do mais velho poucos toques depois.

O jogador sentou-se na cama, tentando organizar os pensamentos. Por que estava ligando mesmo? Estava se sentindo um completo idiota. Não sabia o que queria, do que precisava. Noite passada, depois que Taehyung e Jimin foram embora, recebeu o email de Ahn Hyejin, confirmando que aceitaria ser a sua advogada e perguntando se o Jeon poderia encontrá-la uma hora antes da reunião com a Direção do Tigers, para que pudessem combinar como apresentar a proposta aos manda-chuvas do time. Depois de ler a mensagem da advogada, Jungkook sentiu um estranho e assustador frio percorrer o seu estômago e subir pelas veias até o coração.

Estava fazendo mesmo aquilo. O plano de Jimin era bom, obviamente, mas tanta coisa imprevisível poderia acontecer. A Direção poderia muito bem não se importar com a repercussão, ou arrumar uma maneira de abafá-la, e negar a proposta do anúncio oficial e concordar em ir para tribunal, onde era quase certo que Jungkook perderia o caso — além de perder o seu emprego também. Se aceitassem o anúncio, poderiam querer ditar tudo o que Jungkook falaria, distorcer o seu discurso e transformar em algo para benefício próprio. Se ele falasse o que pretendia — eu estava ajudando alguém com quem me importo —, como as pessoas iriam interpretar? Também transformariam suas palavras em estopim para mais uma onda de ódio, de tapas na cara? E Yoongi, ele conseguiria voltar com o relacionamento dos dois diante tantas incertezas?

Jungkook não sabia. Não sabia o que precisava priorizar, qual deveria ser o seu verdadeiro objetivo. Tudo o que ele sabia era que estava com tanto, tanto medo. E a única pessoa no mundo que conseguia calar as vozes ruins da sua ansiedade, que conseguia fazê-lo respirar fundo e enxergar as situações com mais clareza, era a pessoa que pediu um tempo, que o queria longe.

O Jeon descobriu que se afastar de Yoongi não tinha sido a parte mais difícil do problema, e sim se manter distante. Tudo o que ele queria, insuportavelmente, era voltar correndo para os braços do mais velho. Mas não sabia como explicar tudo isso ao melhor amigo dele em uma ligação repentina, cedo pela manhã.

Ei, você ainda tá aí? — A voz de Seokjin o chamou, despertando-o dos seus devaneios.

— Oi, tô. Tô sim. — Engoliu em seco, mãos apertando o cobertor ainda jogado sobre suas pernas. — Vo-você vai trabalhar hoje, hyung?

Infelizmente. Alguém tem que pagar as contas dessa casa. — O mais velho brincou, tentando aliviar o clima para o mais novo, que apenas o respondeu com um "hum" e permaneceu em silêncio. Do outro lado da linha, Seokjin suspirou e resolveu perguntar logo: — Você ligou para saber do Yoongi?

Ligou, Jungkook? Ele pediu para você ficar longe, lembra? Você deveria respeitar isso. Não é só porque está com medo que tem que ir incomodá-lo quando ele claramente pediu distância.

— Não sei — respondeu, sincero.

Jungkook não sabia, mas Seokjin ainda estava deitado na cama com Namjoon e afastou o celular da boca para que pudesse reclamar aos sussurros com o namorado:

— Eu vou trancar os dois em um porão até eles se resolverem, aposta quanto? — Namjoon riu baixinho, enquanto o mais velho voltava o celular para orelha e dizia ao mais novo: — Se você estiver interessado, ele está aqui morrendo, quase cuspindo os pulmões para fora e contaminado cada cômodo do nosso pobre apartamento. Nós tentamos convencê-lo a não ir trabalhar ontem, mas você o conhece. Resultado? Ele obviamente piorou.

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