✧❦Cap 68❦✧

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(N/A: Esse capítulo será narrado)

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Rafael entrou em casa, ele planejava ir para o seu quarto como ele fez durante os dias anteriores mas foi interrompido pela voz de João. 

Parece que os dias de tratamento silencioso chegaram ao fim.

Rafael se vira para olhar para o sofá. João está parado ali, sentado no sofá. Ele está com uma expressão culpada no rosto, Rafael está bravo por João o ter ignorado durante quase uma semana inteira, mas aqueles dias de tratamento silencioso parecem ter tido um grande efeito em João, Rafael apenas não sabia dizer se aquilo era bom ou ruim.

— O que você quer? - Ele responde com o tom de voz rude.

Eles se observam silenciosamente. As linhas cansadas no rosto de João, a bagunça que está seu cabelo, os remendos em seu ombro e bíceps, que mais tarde se curarão sozinhos. Ele parece terrível, e ainda assim, há algo diferente nele.

João nem sabe o que sentir, que emoção escolher. A raiva nos olhos do loiro é terrível, mas também há outra coisa. A mesma dor que João sente agora.

João se levanta, colocando o livro na mesinha de centro antes de ir na direção do outro homem. 

— Cellbit-- - Ele começa a falar, mas o outro o impede de terminar a frase.

— Explique. - Sua voz é baixa e rancorosa. Não há um pingo de afetividade em seus olhos. É uma coisa terrível ter essa raiva direcionada a ele.

— Eu precisava de tempo. - João fala, tentando manter a voz calma e serena. - Eu precisava de tempo para assimilar tudo que estava acontecendo, e eu sei que eu poderia falar com você, eu sei que fiz a escolha errada ao escolher me isolar, mas… - Ele suspira. - Eu fui estúpido.

Ele faz uma pausa, seus olhos se fechando. As palavras estão subitamente saindo incontrolavelmente. 

— Eu preferi passar por isso sozinho em vez de conversar com alguém. - Ele respira fundo. - Eu não queria te encher com os meus problemas.

Rafael fecha os olhos e sua expressão revela o quanto isso realmente está afetando ele. Quão sozinho ele se sente. Rafael volta a observá-lo, sem dizer nada. Finalmente, ele se move, as mãos torcendo com raiva. Quando os olhos de João pousam em seus pulsos, ele sente uma ardência forte do lado direito do rosto. 

Rafael deu um soco em João. Foi mais pelo choque, do que pela força, que enviou João tropeçando para trás.

— Seus problemas?! - Rafael falou, seus olhos claros brilham de raiva: - São meus problemas também seu idiota! - Rafael empurra João. - Você acha que eu não fiquei preocupado com você? - Outro soco. - Eu me importo com você!

Quando João não responde, Rafael aponta para si mesmo com raiva: 

— Eu fiquei a semana inteira me perguntando o que havia de errado com você, me perguntando se você estava bem toda vez que você saia e voltava de madrugada completamente bêbado e encharcado de sangue, e quando você resolve se explicar você diz que “não queria me encher com os seus problemas”?! - Ele aponta para João agora, a voz subindo uma oitava. - Também são meus problemas sim! Você não pode dizer que isso não é problema meu, porque é! Porque eu me importo com você! Você quer se jogar de cabeça nessa luta infernal! Você e apenas você! Sem ninguém mais!

João abre e fecha a boca várias vezes, ele não sabe o que dizer e a sua voz parece inexistente naquele momento. Ele não sabia que Rafael se sentia assim.

— São meus problemas também, e eu quero que você entenda que não está sozinho! - Rafael o observa, os olhos se movendo levemente. A raiva não desaparece, mas há algo a mais. - Você é como um irmão mais velho para mim, às vezes até mesmo a droga de um pai!

Rafael avança para perto de João com o punho fechado levantado, João segura o seu pulso, o impedindo de socá-lo. Rafael não desiste no entanto, ele levanta o outro punho, mas João também segura o outro pulso. Rafael se impulsiona para longe de João, mas João o mantém no local.

Os seus olhos se encontram e finalmente João sabe o que é a outra coisa além da raiva. É medo.

O medo está criando raízes em Rafael agora. Medo do que está por vir, medo de ficar completamente sozinho. Ele não pode deixá-los levar João para longe dele, ele não pode ficar sozinho, não pode deixar que levem alguém que ele considera um irmão mais velho para longe dele. Ele não vai deixar.

— Agora eu entendo. - João afirma, quebrando o silêncio pesado. Rafael o observa e João continua falando, nenhum dos dois se atreve a quebrar o contato visual: - Eu sinto muito, eu não sabia que isso te afetava tanto.

Rafael se solta do aperto de João nos seus pulsos e vira de costas, deixando a cabeça levemente inclinada para o lado para conseguir observar a expressão facial de João.

— Agora você sabe.

João abre a boca para responder mas Rafael se move, subindo as escadas, não dando chance para João falar absolutamente nada.

Talvez os dias de tratamento silencioso não tenham acabado ainda.

A Sereia - JotakaseWhere stories live. Discover now