Capítulo 38

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— Capítulo 38 —

 Lado a lado, apenas Albus olhava ao amigo, que por sua vez não conseguia fazer nada além de brincar com as próprias mãos, frias e suadas. Esperava desesperadamente para que Albus dissesse qualquer coisa que fosse, porque tinha a sensação que pelo seu coração acelerado e tremores corporais, Scorpius não conseguiria dizer mais nada. Talvez sua voz não tivesse soado clara o suficiente, tornando-a indecifrável. Teria de repetir com mais clareza? Teria disposição para fazê-lo?

— Bem — Albus disse finalmente, o que aliviou Scorpius um pouco, embora a secura em sua boca e seus constantes engasgos ainda não tivessem passado. —, então estamos quites. Quero falar com você também.

Ele queria conversar também. Foi inevitável não entrar em desespero. Scorpius pensou que fosse cair do estofado do compartimento quando o trem freou levemente para fazer uma curva. O sol brilhante não aquecia a cabine, estava muito frio, mesmo naquele compartimento fechado e pequeno. Mas quando Albus se aproximou, Scorpius sentiu sua pele ficar mais quente. Só Albus conseguia o deixar assim tão nervoso.

— Pode falar primeiro. — a voz de Scorpius tremeu, mas Albus ouviu com muita clareza, igualmente ansioso para saber o que Scorpius queria tanto dizer a ponto de tremer.

— Diga você. — pediu. — Parece mais ansioso, muito mais ansioso. Não precisa tremer desse jeito.

O estômago de Scorpius deu um pulo quando Albus segurou em sua mão, mas ele concordou com a cabeça mesmo assim. "Não precisa tremer desse jeito", a voz ecoou. Realmente, ele estava certo. Mas era inevitável. Ele não sabia como começar. Como é que diria tudo o que queria? Tinha de organizar tudo, e depressa, porque a forma ansiosa pelo qual Albus o encarava parecia sedenta por saber. Então Scorpius suspirou, desviando o olhar para a janela, e deixou escapar o que estava o incomodando havia muito tempo, embora não soubesse se era o certo a se dizer, e embora tivesse vontade de se bater como um elfo doméstico logo ao dizer:

— Eu beijo mal?

Estava evidente no rosto de Albus que ele estava esperando tudo, menos aquilo. Scorpius sentiu vergonha, o rosto começou a queimar. E se tivesse falado besteira? Scorpius tentou não olhar para ele, muito menos quando Albus enrugou a testa e respondeu:

— Eu não sei.

Estava sendo sincero. Apenas achou estranho porque Scorpius perguntou aquilo justamente a ele. Seu melhor amigo.

— Seja sincero, Albus. — pediu o garoto, soando desesperado, e os olhos agora transbordando em lágrimas. — Não importa se a resposta for me machucar, eu só preciso saber da verdade. Porque se eu não souber é capaz que eu entre em desespero, não que agora eu não esteja, mas eu só preciso saber, então eu posso tentar consertar de alguma forma, não sei qual, mas vou descobrir. Apenas diga... eu beijo mal?

O rosto de Scorpius tremia tanto que Albus teve vontade de abraçá-lo, mas seu choque o deixou imóvel. Tinha a impressão que ouvia o coração de Scorpius.

— Sendo sincero — prometeu Albus. —, eu não tenho como saber.

— Como assim não tem como saber? — sua voz fina escapou-lhe de seus lábios. Respirou fundo, agora tendo coragem o suficiente para encarar Albus e perceber que o rosto do amigo demonstrava incompreensão real.

— Não tem como eu saber se eu nunca te beijei, Scorpius.

Se não fosse pelo seu real desespero, Albus até acharia que Scorpius havia inventado aquela história sobre beijar mal apenas para ter uma desculpa para beijá-lo. Mas Albus percebeu que aquilo não tinha indício algum de desculpa, e sim de ânsia por saber.

Love, AlbusOnde histórias criam vida. Descubra agora