TRÊS

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LORE

O vento que entrava pela janela do carro, fazia meu corpo se arrepiar. Estava frio e a chuva começou a cair minutos atrás. Fraca, na verdade, mas com certeza já engrossaria em segundos. O motorista dirigia tranquilamente. Minha mãe estava ao meu lado, e meu pai no banco da frente. Estávamos indo para o funeral de Edgar. Um homem que trabalhava com meu pai na empresa. Ele sofreu um infarto.

Quando acordei e desci para cozinha, onde pretendia comer alguma coisa. Vi Carla com um semblante triste. Eu estava arrumada, pois iria até a casa da Ariel para estudarmos, porém, desisti quando a mulher deu a notícia. Eu não conhecia Edgar, mas já o vi algumas vezes nos eventos e na empresa. Meu pai estava arrasado. O homem tinha uma muita consideração pelo Edgar. O falecido era praticamente como se fosse da família para ele.

Quando o carro parou, descemos e entramos no cemitério. A chuva começou a engrossar, e por sorte, lembrei de pegar o guarda-chuva. Quando nos aproximamos da família Miles. Meus pais abraçaram a viúva e uma garota, então fiz o mesmo, dando um sorriso reconfortante para a sua filha de nove anos, que chorava abraçada a sua mãe. Isso me fez chorar ao ver seu sofrimento, qual nunca me imagino passando.

A esposa do Edgar, Catarina, caminhou até a lápide do marido e colocou sua mão no peito. Ela suspirou fundo e fechou os olhos, no intuito de começar um discurso. Sua voz era sofrida, e lenta, cheia de dor e saudade. Suas palavras foram breves, mas dolorosamente lindas.

Meu pai desviou sua atenção para algo atrás de nós, e para matar minha curiosidade, virei a minha cabeça. O mais velho caminhou até a família que acabara de chegar, cumprimentando-os, e assim que eles se aproximaram, nos cumprimentaram também.

— Lamentável! — disse Ralph. — Que Deus conforte o coração da família, e guarde o falecido em um bom lugar! — acrescentou suspirando. — Eu nem tive a chance de conhecê-lo... — suspirou mais uma vez. — É realmente uma pena! — olhou triste para o chão abaixo dos seus pés. Ele parecia decepcionado.

Kate, sua esposa, se aproximou de Catarina, e abraçou a mulher. Levou sua mão até o ombro da viúva, e alisou o local enquanto conversavam.

O que me deixou curiosa foi o fato do Ruel não vir com os pais. Sei que ele não conhecia o Edgar, mas como sua família trabalhará com a empresa, seria legal se ele também viesse e prestasse apoio. Mas bom... isso era opcional.

Me ajeitei ao lado do meu pai, e voltei a olhar para o pessoal que estavam discursando. Agora eram os amigos. Segurei forte meu guarda-chuva, e também meu celular com a outra mão. O frio estava ficando pior. Eu estava com um vestido preto. Era um pouco justo no corpo e batia no meio das minhas coxas. Também um casaco escuro por cima, o qual passava um pouco do tecido do vestido. A bota preta que eu usava tinha um pequeno salto nós pés. Meu cabelo estava solto.

— Lore... Esse é o seu nome, certo!? — Ralph perguntou sorrindo, e assenti ao virar para ele. — O Ruel foi no banheiro, mas já faz um bom tempo... — murmurou. — Você poderia chamá-lo? — pediu, e pressionei os lábios, hesitante.

Meu pai olhou para o homem ao nosso lado com seu olhar era sério e o maxilar trincado. Logo olhou para mim com um sorriso pequeno, e assentiu, como se estivesse permitindo.

— Claro! Posso sim. — falei. Curvei um traço com os lábios e dei as costas.

Caminhei para onde ficava o banheiro. A grama e as gotas de chuvas molhavam as minhas botas. Acabei tropeçando em uma pedra, o que me fez revirar os olhos e xingar baixinho. Como não tinha nenhuma placa ou aviso, dizendo se era masculino ou feminino, entrei sem demora, logo vendo o loiro alto de costas para mim.

A MENTIRAWhere stories live. Discover now