DEZESSEIS

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Contém Gatilho.

RUEL

— Se você fizer uma careta, eu juro que gravo o seu rosto. — Julie disse me encarando e rindo fraco.

— Não viaja, Julie... — falei. — Aguentei inúmeras agulhas me furando por horas sem parar... Não irei aguentar apenas uma que iria durar míseros segundos? — ela riu e deu de ombros.

Eu estava deitado na maca preta do estúdio. A body piercing me encarou antes de pegar a agulha esterilizada, como se tivesse perguntando se eu tinha certeza, então assenti como resposta, fazendo-a pegar os objetos e se aproximar. Julie estava do outro lado da sala, mexia em algo no seu celular enquanto o tatuador desenhava no seu braço esquerdo.

A mulher se posicionou em minha frente, pegando em seguida e com cuidado meu lábio inferior, furando a pele no local que ela havia marcado. Sua ação foi rápida. Também pegou outra agulha esterilizada e furou a pele da minha sobrancelha. Por último me deu um espelho, me fazendo olhar como ficaram os piercings, e como eu já esperava, estava do jeito que imaginei.

Não estava doendo. Ficou avermelhado ao redor do local, com certeza pela pressão. A body piercing me disse os cuidados, o que eu deveria comer e o tempo que eu deveria esperar para beijar novamente.

Horas depois, Julie também havia acabado. Ela desenhou uma cobra-preta no seu antebraço. Combinava com ela, admito.

— Não vai fazer outra? — me olhou e neguei.

— Por agora não. — falei. — Tô de boa!

Ela deu de ombros. Há um mês, fiz nas costas. Eram dois dragões, um preto e outro vermelho. Não tinha nenhum motivo ou significado para ela, simplesmente a desenhei quando avistei o desenho. A única que viu foi a Julie. Ela disse que havia ficado foda e que também estava considerando fazer uma.

— Os piercings ficaram bonitos. — comentou a morena quando saímos do estúdio. — Sério...

— Eu sei! — soltei uma piscadela. — Sua tatuagem também ficou.

Rolou os olhos e entrou no carro. Fiz o mesmo e fomos para a casa do seu irmão, o Jacob. Eram três da tarde. Julie disse precisar pegar algumas coisas suas e levar para sua casa nova. Ela iria morar sozinha.

A casa era ótima para ela. Não era muito grande, os cômodos eram medianos, mas ela era bem espaçosa. A garota pegou as últimas caixas e colocou no chão, fazendo uma cara de cansaço depois. Os móveis estavam nos seus devidos lugares, até a TV já estava presa na parede. A única coisa que faltava, era arrumar as coisas que estavam dentro das sete caixas.

— Caramba! Preciso comer algo! — disse suspirando. — Tô morrendo de fome.

— O que quer comer? Pedirei alguma coisa...

— Pode ser massa! — respondeu simples enquanto dava de ombros e andava pela casa. Acho estarem tentando se acostumar com o novo ambiente.

A comida chegou trinta minutos depois, o que me surpreendeu. Normalmente demoram uma hora ou mais. Sentamos no chão e comemos sem trocar uma palavra, a fome falava mais alto. Agora deitados, encarei o teto, descansando o corpo.

Julie tinha sua cabeça no meu peito enquanto encarava o teto branco de gesso. Não estávamos juntos ou nada do tipo. Nos aproximamos após a overdose que sofri. Começamos a trocar mensagens, até um dia saímos para uma festa de um amigo do seu irmão. Devo dizer que nos consideramos muito amigos.

Ralph pediu para que eu me afastasse da Lore por um tempo, o que foi fácil, já que depois que a salvamos, ela se afastou completamente por vontade própria. Imagino o quanto que ela deve ter lutado para superar o que passou e como ela está diferente agora. Ontem, ao vê-la no colégio, vi que a garota tinha um sorriso esforçado no rosto enquanto conversava com suas amigas. Fingia estar bem.

A MENTIRAWhere stories live. Discover now