VINTO E OITO

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Contém Gatilho.

RUEL

Passando pela sala de treinando, onde meu pai me fez treinar autodefesa e tiros, corri meus olhos pelos sacos de pancada, correntes, cassetetes e outras coisas. Olhei de relance para o pequeno armário, lá ficavam os kits de primeiros socorros, garrafa de água e mais objetos que são usados durante os treinos. A minha direita estava uma tabela grande, com cabines separadas e alvos em sua frente, quais são usadas para a prática de tiros. Os óculos, as proteções de ouvidos e as armas estavam guardados em outro armário.

Esse local resume toda a minha adolescência. Eu ficava muito tempo aqui, treinando e passando noites sem dormir. Era horrível, mas por um lado agradeço, já que sou ótimo em luta corporal, e com uma arma na mão.

Essa pequena residência com três cômodos fica situada no interior da casa principal, a qual se encontrava há alguns metros à frente. A primeira sala é usada para treinamentos, a segunda para o escritório do Ralph, e a do fundo aloja alguns dos homens que trabalham para o meu pai.

Cruzando o corredor, andei até a sala do Evans e bati antes de abrir a porta. Ele estava sentado em sua cadeira. Olhos focados na tela do computador em sua frente. Não se esforçou para levantar sua cabeça, pois sabia que a pessoa que tinha entrado era eu. Perto da janela, estava Kate, minha mãe. Parece que já fizeram as pazes.

A mais velha me olhou rapidamente e levou a taça em seus lábios. Cabelo de ambos estavam bagunçados. Ralph usava seus óculos. Ele suspirou e me olhou, esperando que eu falasse algo.

— Presumo que tenha vindo dizer alguma novidade... — comentou. — Algo que talvez você tenha descoberto.

Cocei a garganta.

— Quero pedir para deixar a Lore de fora. — disse simples. O homem me olhou com seus olhos estreitos e relaxou suas costas na cadeira. — Quando finalmente resolvermos isso do Benjamin, Lore fica de fora.

— Por quê? — perguntou.

— Porque ela não tem nada a ver. — respondi. — Ela não sabe de nada disso e nem sobre o pai.

— Por que está se preocupando com ela, Ruel? — indagou.

— Porque ela não sabe de nada. — falei. — Eu já disse!

Ele sorriu e negou devagar. Kate olhou para ele.

— Nunca pedi nada para você. — comecei. — Essa é a primeira vez...

— Está errado... — discordou. — Quando tinha doze anos, você me pediu um cachorro, mas eu não dei. — continuou. — Por quê? Não sei.

— Você sabe motivo. — ri sem humor. — Tudo que me faria feliz naquele tempo, você fazia questão de afastar de mim.

— Tem razão.

Eu te odeio.

— Filho... — disse Kate. — Há alguma razão especial para você pedir isso?

Assenti engolindo seco. Qual razão eu tinha? Só não queria que ela sofresse mais quando soubesse que seu pai era o chefe da máfia, assassino e culpado pelos últimos acontecimentos que a incluiu.

— Tenho uma razão, mas também tenho o direito de não falar qual é.

— Você está apaixonado por ela? — perguntou Ralph.

Neguei enquanto desviava meus olhos para ele novamente.

— Então você a ama? É isso? — riu com desdém. — O que você sabe sobre o amor? O que entende?

A MENTIRAWhere stories live. Discover now