QUARENTA E TRÊS

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Contém Gatilho.

LORE

Olhei novamente para o rosto sereno do loiro que agora estava dormindo. Ele só conseguiu pregar os olhos há uma hora antes. Seu corpo e sua mente o castigava. Ruel estava deprimido e triste, mas agora que sua mãe foi assassinada, ele parecia pior. Culpado e ressentido.

Levantei da cama e andei até o seu closet, onde peguei um moletom seu e vesti, juntamente com um short meu da cor azul de algum pijama que ainda estava por aqui. Talvez eu tenha esquecido ou ele tenha trazido da sua casa.

Peguei o telefone vendo que eram quase sete da manhã.

Entrei no banheiro, lavando o rosto e encarando o quarto assim que voltei. Observei o loiro mais uma vez quando sua mão rastejou pelo tecido branco da cama, provavelmente me procurando.

Andei até a sacada e olhei o céu lá fora pelo vidro fechado. As nuvens escuras, anunciando que iria chover o dia todo. Isso normalmente acontece quando ocorre uma morte. Por um lado, é triste e deprimente.

Peguei um dos cigarros da carteira do Vincent em cima da sua escrivaninha preta e também o seu isqueiro, colocando os dois no bolso do moletom. Acendi o tabaco com cheiro de menta e saí do quarto do loiro. Caminhei em passos preguiçosos até as escadas que logo me apressei em descer os degraus e passei pelo vestíbulo. Pisei fora, passei pelo jardim esverdeado e encarei a segunda casa que ficava atrás da principal. Como a janela estava aberta, presumi que o Ralph estaria lá.

Me aproximei com o pequeno rolo aceso nos dedos e empurrei a porta que estava encostada, vendo o Evans sentado na poltrona. Segurava um charuto na mão e um copo de whisky na outra. Seu olhar cabisbaixo encarava o chão escuro abaixo dos seus pés.

Levei o cigarro preto até meus lábios e traguei, observando a cena do pai do Ruel. Deprimido e angustiado, mas também com raiva e ira. Isso tudo era visível.

Me escorei na parede marrom e continuei fumando. O cheiro de mente pairou pelo local, fazendo o homem velho de cabelo grisalho levantar sua cabeça e me notar, mas logo me ignorou. Continuou na sua solidão que certamente duraria meses ou até anos.

Ralph amava a Kate, pena que o seu amor foi todo para ela e não para o seu filho. Eu não gostava do Evans, mas gostava da Kate. Meu coração aperta toda às vezes em que lembro da mulher incrível que ela era.

Puxei a fumaça mais uma vez ainda olhando o homem sentado na poltrona. Ele pegou sua arma em um banco alto que estava ao seu lado e destravou a mesma, logo apontando para a minha direção, mas não me mexi. Apenas esperei o que ele iria fazer e traguei mais uma vez.

— Toda vez que olho para você, lembro que o seu pai matou a minha esposa... — ele disse, com a voz baixa e cansada.

Permaneci calada e joguei o resto do tabaco já apagado fora. Andei até a mesa que ficava a garrafa da sua bebida e despejei um pouco no copo largo que também estava ali.

— Se você quisesse me matar, já teria feito isso, Ralph. — eu disse.

— Confio no Ruel! — falou. — Se ele disse que o Benjamin não ficará triste com a sua morte, é porque ele sabe de alguma coisa.

— Estive pensando... — comecei.

Ralph me olhou interessado.

— Irei te ajudar na sua vingança... — continuei. — Mas tenho uma condição.

— É claro que tem. — soltou uma risada amarga.

— Farei o que você pedir e quiser para conseguir se vingar pela Kate. — molhei os lábios balançando o copo, chacoalhando a bebida. — Tudo que precisar...

A MENTIRAWhere stories live. Discover now