QUARENTA E NOVE

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LORE

A claridade da lâmpada batia no meu rosto, fazendo-me tremer as pálpebras ainda fechadas pelo cansaço e esgotamento. Meu corpo todo doía, assim como o ombro. Minha cabeça latejava como se estivesse levado uma pancada forte. A secura arranhava a minha garganta. Eu precisava de água.

Movi lentamente os dedos das mãos enquanto abria os olhos lentamente, estreitando-os em seguida devido à luz que vinha do lustre e do abajur. Percorri o local, confusa encarando o meu quarto. Tudo no seu devido lugar, me deixando embaraçada por não saber o porquê de eu estar aqui e não no hospital, já que o Ruel estava me levando para lá.

Lembro de tudo do dia anterior. Do Benjamin. Da história dele não ser o meu pai. Do Thomas gravemente machucado por minha causa. Do Riki me tocando. Do olhar perturbado do Vincent enquanto presenciava as mãos do japonês pelo meu corpo. Do tiro que levei. Do Ruel chorando desesperado enquanto me olhava. Tudo estava vívido em minha mente.

Sentei na cama sentindo a tontura me pegar, mas continuei saindo do colchão branco debaixo do meu corpo. Meus pés descalços fizeram contato com o piso frio e liso, fazendo minha pele arrepiar com o contato. Era noite e fazia frio. A chuva caía loucamente lá fora. Com a mão direita me apoiei na parede do banheiro e entrei no mesmo, encarando a minha situação.

Rosto pálido e boca ressecada. Olhos fundos como sempre devido às olheiras escuras. Eu usava uma camisola de seda cinza. Meu braço direito tinha alguns arranhões, mas também notei algumas marcas em minha barriga quando suspendi o tecido que me cobria. Meu ombro estava enfaixado por causa da ferida que provavelmente estava fechada. O lugar estava dolorido, mas insisti em levantá-lo e passar uma faixa branca no pescoço, deixando meu antebraço suspenso e preso.

Meu cabelo estava amassado e bagunçado devido ao travesseiro.

Voltei para o quarto, vendo a garrafa de água em cima da escrivaninha e então não demorei para bebê-la, já que minha garganta pedia pelo líquido. Agora satisfeita, saí e encarei o corredor vazio. Minhas pisadas fofas não faziam barulho nenhum. Desci as escadas e passei pelo vestíbulo dourado, logo procurando alguém, mas ninguém estava aqui. Eu estava sozinha?

Respirei fundo e subi novamente os degraus, notando vozes irritadas e altas vindo do corredor médio que levava para o escritório do Benjamin, o que me fez engolir seco. Eu não sabia se ele estava morto ou não. Eu atirei nele, mesmo que tenha sido no ombro, ele pode ter morrido por perda de sangue. Ou não.

Apertei o gatilho e atirei no meu próprio pai. Quer dizer, pai não. Ele não era e deixou bem claro enquanto dizia que me odiava por todo esse tempo. Isso era triste, mas eu não tinha mais lágrimas para chorar. Não tenho mais. Meu corpo estava esgotado.

Ainda andando até as vozes que ficavam próximas a cada minuto que eu me aproximava, parei em frente a porta de madeira escura. Molhei os lábios antes de reconhecer a voz da Carla e do Ralph. Levei minha mão na maçaneta redonda e girei a mesma. Lá estavam eles. O Evans, minha mãe e o Thomas. Nenhum ouviu a porta ser aberta.

O cheiro do cigarro de menta surgiu e então corri os olhos para o canto da sala, vendo Ruel encarando a chuva pela janela. Estava com o seu cigarro na mão, fumando enquanto observava os pingos grossos e fortes descerem em sincronia. Usava sua calça de alfaiataria escura, com o cinto preto na cintura e sua camisa branca. Os pés livres de sapato ou da sua bota. Sorri fraco, lembrando de quando me declarei.

Eu o amava e tenho total certeza. Eu estava disposta a me sacrificar por ele se isso garantisse a sua segurança. Me vi louca quando a possibilidade de perdê-lo rondou minha cabeça. Vincent precisava saber que eu sentia isso por ele. Precisava saber que era amado por mim. Ele era tão quebrado e não sabia como é ser amado, e mesmo que sua avó Clary e o Shawn o ame mais que tudo, Ruel ainda se sentia vazio.

A MENTIRAWhere stories live. Discover now