QUINZE

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Contém Gatilho.

LORE

O teto branco que eu encarava em cima de mim, me fazia acreditar que aquilo não era um sonho e que eu finalmente tinha conseguido fugir. Corri os olhos pelo quarto, logo vendo que ao meu lado estava Ruel sentado na sacada da janela. Ele segurava um cigarro ainda aceso nos dedos. Olhos fechados, como se estivesse descansando as pálpebras. Parecia estar dormindo.

Eu tinha tantas perguntas para fazer. Sobre como eles conseguiram me achar, mas meu corpo dolorido e mente cansada, não queria saber de nada por agora. O que mais martelava na minha cabeça era ter certeza de como Simon e a Lola estavam.

O carro dele havia dado algum problema, então tivemos que ficar por uma semana na cidade em que estávamos. Dave estava bastante estressado e o Simon muito pior. Ele entrou bêbado no meu quarto e tentou novamente transar comigo, só que dessa vez, o garoto estava pronto para tentar de tudo. Me empurrou contra parede do banheiro, me fazendo sentir todos os ossos do meu corpo doerem.

E quando eu o empurrei de volta, o alto me estrangulou e tentou descer o zíper da minha calça jeans. Por impulso bati uma garrafa na testa dele, fazendo o mesmo cair e bater a cabeça no vaso do banheiro. Uma poça de sangue começou a se formar no chão, o que me deixou assustada. Fiquei ali por minutos encarando o Simon e pensando no que eu havia acabado de fazer, mas um tanto gostando da sensação de vê-lo caído e ferido. E se ele morresse?

Depois sua irmã, a Lola, apareceu batendo desesperadamente na porta até conseguir abrir. Quando viu seu irmão no chão frio, a garota me olhou cheia de raiva no rosto e puxou meu cabelo. Com um canivete na mão, ela começou a se aproximar com intenção maldosa. A lâmina entrava e deslizava na minha pele, causando uma agonia dolorosa e insuportável. E isso foi a única que coisa que senti antes de reagir por desespero ou até mesmo adrenalina, eu reagi. Cortei sua perna com um caco de vidro, o qual eu havia pegado quando o espelho quebrou, fazendo-a cair e por último bati em sua cabeça com o seu próprio taco de beisebol.

Passei as mãos no rosto antes de conseguir correr e sair do quarto. Eu estava eufórica e meu peito pulava aliviado. O elevador parou quando eu me aproximava. O velho apareceu quando as portas se abriram, e então ele me olhou desconfiado e curioso, e logo corri para as escadas ainda com o vidro na mão. Ele estava atrás de mim. Corria para tentar me alcançar.

Eu estava esgotada e não aguentava mais correr. Minhas pernas doíam. Quando senti um corpo me puxar, eu levantei o braço para me defender, mas quando vi que era ele, eu gelei e chorei, era o Ruel. Meu coração se aliviou e o medo foi embora. Eu estava salva. E foi só isso que lembro antes do meu corpo cair leve em seus braços e acordar nessa cama.

Minha barriga ainda doía. Passei lentamente as pontas dos meus dedos no local ferido, e notei que ali tinha pontos. Alguém havia fechado meu ferimento. Quem? O Ruel? Acho que não. Talvez tenha sido algum médico que estava por aqui.

O hotel era luxuoso. Com detalhes e decorações douradas. O vento forte entrava pela janela, fazendo minha pele arrepiar.

Engoli seco e fechei os olhos enquanto tentava me levantar devagar. Gemi fraco ao sentir uma dor chata no abdômen, mas optei por continuar levantando. Em cima de uma cômoda, que ficava ao meu lado, estavam alguns frascos brancos que presumi que fossem comprimidos.

— O que foi? Está sentindo alguma coisa? — a voz grossa e cansada do Ruel ecoou atrás de mim. — Você precisa de alguma coisa?

Molhei os lábios e assenti.

— Minha barriga tá doendo e eu tô com muita sede... — falei virando o rosto.

Quando consegui sentar na cama, suspirei aliviada por saber que eu não tinha que fazer mais esforço. Peguei o copo que Ruel segurava em minha frente, juntamente com um comprido branqueado e agradeci com um leve aceno de cabeça, então finalmente levantei o rosto e olhei para ele. Sua expressão cansada e aliviada era notável. Me deu um sorriso fraco no rosto, como se estivesse se esforçado para dar essa curvatura mínima nos lábios.

A MENTIRAWhere stories live. Discover now