TREZE

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Contém Gatilho.

LORE

Havíamos chegado em Boston na manhã do dia seguinte e ficamos por dois dias, logo indo para outra cidade próxima. Ficamos nisso por quase duas semanas, e a cada vez mais nos distanciamos de Nova York. Estávamos em um prédio meia boca, e pela péssima estrutura, dava para perceber o porquê que ninguém se hospedava aqui. As paredes estavam manchadas, fazendo o branco da tinta parecer mofado. O piso também não era limpo, era escuro. Sua poeira fazia qualquer um espirrar o dia inteiro.

Dave, o velho, não era de ficar muito no quarto, na maioria do tempo, eu ouvia a porta ao lado sendo batida, provando que ele saía. Lola, que dormia na cama ao lado da minha, chegou a comentar que o tio ficava fora para resolver algo que nem ela sabia o que era. Simon, o responsável pela marca horrorosa no meu pescoço, dormia com o Dave e às vezes ele ficava tomando conta de mim enquanto sua irmã saía.

E hoje foi um desses dias. A Lola havia saído com seu tio, dizendo que iria comprar comida e mais roupas para mim. Ela sempre fazia isso sempre que chegamos a uma nova cidade.

Simon estava sentado na cadeira que ficava no canto do quarto. Assistia um seriado qualquer que passava na televisão fixada na parede em nossa frente.

Eu estava sentada na cama, com as costas apoiada na cabeceira de madeira. Pernas cruzadas e mãos juntas. Só pensava em conseguir fugir. Não sabia o que tinha que fazer. Sempre que pensava em alguma coisa, Dave e seus sobrinhos me arrastavam para outro lugar, como se eu fosse uma encomenda.

Ainda não acredito que meu pai tenha matado alguém, ou que tenha mandado outra pessoa fazer isso. O Benjamin poderia ser tudo, menos assassino. Não consigo pensar que o homem que me criou e me ensinou tudo que sei hoje, conseguiria matar uma pessoa.

A minha aparência estava horrível. Olheiras grandes e fundas. Eu não conseguia dormir bem, na verdade, ninguém conseguiria dormir nessa situação. A marca da mão do Simon ainda estava visível no meu pescoço. Boca ressecada e o cabelo sujo. Meu corpo parecia desidratado. Mas o que eu poderia fazer se o que me dão para comer é apenas salgadinhos, chocolates e uma pequena garrafa de água?

Uma bituca de cigarro apagado pousou no meu colo, então desviei meu olhar para Simon que me fitava de longe. Ele costuma fumar no quarto. Talvez seja para se certificar que eu não tentasse fugir como da última vez.

— O que foi? — perguntei, com a voz baixa e hesitante.

Ele me olhou de olhos estreitos e riu.

— Pega o controle para mim.

Suspirei cansada e me levantei. Peguei o controle que estava em uma cômoda abaixo da TV e entreguei para o garoto sentado na cadeira.

Simon sempre se mantinha calado. Só falava comigo na maioria do tempo quando me pedia para fazer algo ou pegar alguma coisa, como aconteceu agora. É como se sua mão caísse se ele se levantasse da cadeira e pegasse o controle que estava só a alguns passos em sua frente.

Seus dedos mexiam desesperadamente nos botões do controle. Sua impaciência por não encontrar um canal bom só fazia que ele se irritasse ainda mais, então a TV foi desligada e mais um cigarro colocado em sua boca.

— Tá olhando o quê? — murmurou.

Despertei e neguei com a cabeça.

— Nada. — respondi. — Vocês planejam me levar com vocês até quando?

— Não sei. Não temos um tempo estimado. — acendeu seu isqueiro. — Só até seu pai fazer o que a gente quer.

Engoli seco e assenti. Eu sabia que eles queriam que meu pai assumisse que matou sua mãe.

A MENTIRAWhere stories live. Discover now