Quattordicesimo Capitolo

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Soren Oliveira

Um Mês e Meio Depois

Dês de que eu acordei eu me sinto vazio, é como se uma coisa estivesse faltando dentro de mim, sei bem o que está faltando, mas com essa falta não consigo continuar com a minha vida, ou ir atrás de uma mudança, é como se eu tivesse empacado, é uma falta que durará para o resto de minha vida.

Eu nem fiquei muito perto do menino que veio visitar Heitor e as crianças esses dias, até ficaria e conversaria um pouco, mas ao ver o pequeno bebê nos seus braços, que não parecia ter mais de dois meses, me fez sentir uma grande dor dentro do coração, um vazio ainda maior.

A conversa com Heitor sobre ir ao psicólogo não me agradou muito, mas eu sei que preciso. Então depois de um mês e meio de relutância eu finalmente estou sentado na sala de espera de um dos melhores psicólogos do Rio de Janeiro.

Heitor queria vir comigo, porém, eu não me sentiria bem se ele parasse seu dia para vir comigo.

- Soren Oliveira – sou chamado alguns segundos depois de chegar.

Olho para frente é uma recepcionista, sigo ela até a sala do psicólogo.

Assim que entro vejo um homem de uns vinte e sete anos, sentado em uma poltrona, na sua frente um sofá branco, onde eu logo me sentei.

A sala e toda branca com detalhes em cinza, além da cadeira e do sofá tem uma mesa, o que dava a súbita sensação de paz.

Me sento no sofá na frente do psicólogo que até agora se manteve calado só me observando cuidadosamente.

Ele fica me olhando e eu fico olhando-o, o clima não era agradável, mas também não era de tensão.

Depois de uns dez minutos e de não aguentar mais ficar em silencio eu me remexo no sofá e finalmente ele começa a falar.

- Estava esperando você começar a falar – disse ele dando um suspiro e logo depois um sorriso – eu, como você bem sabe sou Fredericco Santinelle, mas queria saber mais sobre você – quando eu ia começar a falar ele conclui – não se apresente Soren, fale tudo que quiser no seu tempo, sempre teremos uma próxima semana.

- Eu realmente me acho azarado – digo de repente depois de um tempo – tipo, meus pais não me quiseram, me deixaram na frente da casa de estranhos, talvez até torcendo para que eles fossem bons o suficiente para não me jogar no lixo, e eles até foram nos primeiros anos, mas depois.... – dou um longo suspiro.

As lagrimas já estavam quase caindo do meu rosto por lembrar de tudo o que aconteceu no meu passado.

- Você já me conhece – digo olhando para ele – você leu minha fixa, sabe das idas e vindas dentro de reformatórios, sabe que eu fui uma criança problemática.

- Eu não o acho uma criança problemática – respondeu ele de repente – acho que você não estava em um lar adequando para uma criança, tanto que você conseguiu se formar em medicina sem nenhuns problemas com a faculdade ou os professores.

- Eu sofri para terminar os meus estudos – digo finalmente depois de um tempo – e foi no meio do meu sofrimento que eu conheci o Pedro.

Olhei um pouco para ele, que me deixava a vontade, o que me agrada.

- Pedro foi como uma luz na bosta da minha vida, e quando ele mostrou interessem em mim depois de tanto me ajudar, eu realmente pensei que eu poderia amá-lo, mas nunca aconteceu. Eu fui levando o nosso relacionamento por anos, até que um dia ele fez algo que eu achei o fim de tudo – conto dando um suspiro.

- O nosso tempo acabou – disse ele me olhando – se quiser voltar a semana que vem.

Analisei um pouco as probabilidades de voltar na próxima semana.

Claro que eu estava com receio de falar sobre a minha vida, nunca é fácil falar sobre ela, ainda mais depois de um grande trauma.

Sei que é um trauma, eu já me dei conta disso dês do momento em que eu acordei. Mas uma coisa e saber que você tem um trauma, outra e querer falar sobre ele.

- Talvez eu volte – digo me levantando.

Saio do escritório sem deixar ele falar mais nada.

Assim que estou fora do consultório, vejo Heitor com Agatha nos braços.

Assim que a mesma me vê, sorri grandemente para mim, o que inconscientemente me faz sorrir também. Os filhos de Heitor estão sendo a luz da minha vida nesses tipos difíceis.

Vou até ele, e dou um beijo na bochecha de Heitor e pego Agatha no colo, a menina está a coisinha mais sapeca do mundo. Assim que pego ela no colo a menina me dá um beijo babado na bochecha que eu acho a coisinha mais fofa, e logo devolvo o beijo na sua bochecha.

- Coisinha mais linda do mundo – digo dando vários beijinhos na bochecha dela, fazendo ela gargalhar.

Cinco Meses Depois

Nem acredito que já faz seis meses. Mesmo com o tempo a dor parece não passar de jeito nenhum, mesmo que agora esteja controlado.

Nesse tempo meu relacionamento com Heitor vem evoluindo, eu ainda me iludo, como sempre me iludi discretamente sobre ele.

No fundo do meu coração eu sempre alimentei aquela paixão secreta por ele, dês do nosso primeiro encontro, mas eu sempre esperei e fiz de tudo para manter isso o mais fundo de mim possível, nunca deixando aparecer, ou deixando aparecer para mim mesmo.

Mas nesses últimos meses, vivendo sobre o mesmo teto que ele, vivendo sobre uma constante rotina e muito bom, mas ao mesmo tempo muito ruim.

Com a nossa rotina, parecemos um casal feliz com três lindo filhos, o que definitivamente não somos.

- Oi – sou tirado dos meus pensamentos por Heitor chegando em casa.

Agatha, Adam e Amalia já estão dormindo, eu não tenho, mas plantão essa semana, eu já cumpri as minhas setenta e cinco horas semanais em dois plantões, e como e sábado eu acabai me perdendo em pensamentos e pensando sentado na sala e só sai deles quando ouvi a voz de Heitor. Vejo que já são três da manhã, e eu nem mesmo estou com sono, isso é impressionante.

- Achei que já estavam dormindo – disse chegando perto de mim.

- Estava perdido em meus próprios pensamentos – digo sorrindo para ele.

- Como foi hoje no psicólogo? – ele perguntou sentando-se ao meu lado.

- Ele voltou a falar sobre os meus pais biológicos – digo dando um suspiro pensado – eu não os conheço, mas ele acha que falando sobre ele talvez me ajude com esse pequeno trauma.

- Já pensou em procurar por eles? – pergunta ele me olhando.

- Eu pensei nisso quando eu era mais novo – digo desviando o olhar – lá com os meus quinze ou dezesseis anos, mas depois de um tempo eu parei de pensar nisso. eles me deixaram a muitos anos e quando eu entendi que isso não importa mais, eles me deixaram então que dizer que não me querem, fim da história – digo mais do que só decidido.

- Já pensou na possibilidade deles não terem tem deixado?

- Quem roubaria um menino mediano dos pais e me colocaria com pais como os que eu tive? – pergunto baixinho.

- Só vai saber se for atrás deles.

Finalmente volto a olhar para Heitor, aqueles lindos olhos e o cabelo perfeito, maldição gente, maldição de homem bonito.

Olho os lindos lábios, carnudos e vermelhos, antes de finalmente ceder a um desejo e me laçar em seu beijo. 

Aquele Garoto (Trilogia Meu Criminoso - Livro 03)Where stories live. Discover now