43. In your time

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B E C C A

Eu ando de um lado para o outro dentro de casa, com um rato procurando a saída dentro da sua gaiola. Faz pouco tempo que cheguei, mal consegui jantar ou sequer pensar nas provas que tenho nos próximos dias – e com as minhas notas, é algo que eu deveria estar preocupada – porque tudo ao meu redor está voltando na briga da Lola.

Uma parte minha diz que eu estou exagerando. Que eu conheço a Lola, sei que ela não fez isso por mal. Mas a outra parte – a predominante e a mais racional, como também a mais orgulhosa – lembra que ela ficou meses sem falar a verdade sobre quem estava criando as coreografias.

Meses.

Ela disse que era um segredo que prometeu guardar, mas fica complicado quando esse segredo envolve a mim e mais outras pessoas. Quando nós estamos envolvidos nisso. E o que mais me deixa puta da vida é saber que ela cogitou acobertar um menino e jogar o resto de nós na fogueira.

É só um castigo – um castigo bem bosta que vai sujar o currículo de quem lutou anos para manter na linha, diga-se de passagem – mas o que me incomoda, além de saber que vão infernizar nossas vidas no colégio, é o significado de tudo isso: doze pessoas são menos importantes que um garoto?

Então sim, eu tenho o direito de ficar puta da vida com isso. E por mais que eu ame a Lola eu não sou trouxa a ponto de aceitar tudo isso com sorriso no rosto.

E pensar que ela mentiu pra mim e pra Tessa. Não somos confiáveis? Ela acha que iriamos sair pra todo mundo que quem fez a coreografia foi o namoradinho dela? Que iriamos espalhar? Se ela acha isso tudo porque nomeia a gente de melhores amigas?

E isso não é o pior.

Não mesmo.

Foi só uma continuação de uma grande bomba de bosta de dia.

Parece que o dia estava propício para dar tudo errado.

Antes de vir para o colégio, algo bem pior aconteceu.

Após acordar depois do alarme ficar tocando a cada cinco minutos, me arrumei rapidamente, feliz por não estar atrasada e depois desci as escadas com o meu mal humor rotineiro misturado com minha postura energética. Quando cheguei a mesa, eu sabia que tinha algo de estranho. A mesa estava posta, panquecas, manteiga de amendoim e meu pai todo sério com o prato liso.

Com os braços cruzados enquanto olhava para o nada.

– O que aconteceu? – indaguei puxando uma cadeira para sentar. – Alguém morreu e eu não fiquei sabendo?

Meu pai não disse nada. Ele tirou uma foto da cadeira ao seu lado e a colocou em cima da mesa. Eu não entendi o que ele queria até ver o conteúdo da imagem. Era uma foto pega de câmeras de segurança de locais públicos, sempre tinham uma distância por normalmente serem colocadas no alto das paredes.

Porém, era nítido ver as pessoas naquela imagem.

E uma delas era eu, beijando outra garota.

A foto é do ano passado, teve um show de rock que eu estava muito animada para ir. Não tinha ninguém para me acompanhar, mas fui sozinha como uma boa fã faria. Chegando lá, tive um dos melhores shows da minha vida. A banda ainda era recente, mas eu gostava muito do som deles, dos covers e até as letras da própria autoria.

E durante o show, eu conheci Gabrielle. Ela também era fã, bem mais velha, nos conhecemos no bar quando pedimos a mesma bebida. Começamos a conversar e no meio do show, ela me roubou um beijo que eu aceitei com agrado.

Teoria da Serendipidade [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now