12.2 Don't Give It To Me

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O jantar é extremamente silencioso.

Como todos os outros.

E eu estou sentada na cadeira, hiperventilado, duas gotas de suor escorrendo pelas minhas costas enquanto revejo todo o plano em escapar antes das dez e meia de casa e ir para o estúdio de dança.

Oliver está do meu lado, me dando espiadas pelo canto de olho, com certeza pensando que vou estragar o plano – plano em que ele está envolvido também – e perder para as Hot Angels antes de tentar reverter a situação.

Encaro o relógio no pulso do meu irmão.

Nove e dez.

Levanto da mesa, surpreendendo a todos.

– É... – coloco as mãos atrás do corpo, sentindo um arrepio por toda extensão, não posso estragar tudo – Pai, vou dormir mais cedo.

Sair da mesa quando todos ainda comiam, mesmo no final da refeição, é o mesmo que querer começar uma guerra com meu pai. Ele sempre preservou os momentos com todos reunidos mesmo que fosse silencioso e se você era o primeiro a terminar, não interessava, precisava ficar na mesa até que todos terminassem.

– Dormir mais cedo? – Margaret repete minhas palavras com desdém, porque todo mundo da casa sabe que sou desleixada, sem falar que eu sou uma das últimas a dormir e terminar o jantar.

– Sim – engulo em seco – como sabe, pai, comecei a academia ontem e minha professora me instruiu a dormir sempre mais cedo, no máximo as nove e meia, para ter oito horas de sono no mínimo e acordar de manhã para começar a praticar exercícios aeróbicos no meu próprio quarto... Ou caminhada.

Diane arqueia a sobrancelha direita, com o copo perto da boca, mas algo a faz desistir e colocar as mãos debaixo da mesa.

– Está levando a academia muito a sério, Lola – minha irmã mais velha diz, com um sorriso nada agradável – será que isso não tem nada haver com o St. Martin?

Diane está se referindo a competição, engulo em seco porque meu pai está encarando a minha irmã, como se não estivesse entendendo absolutamente nada.

– O que quer dizer, Diane? – meu pai indaga, deixando os talheres ao lado do prato.

– Nada, papai – Diane dá um sorriso venenoso e eu começo a tremer por inteira – acho que Lola entrou na academia porque... – ela olha para mim – As aulas de educação física do colégio são bem deficientes, falta mais investimento por parte da administração.

Eu quase dou um longo e alto suspiro de alivio, mas me seguro muito para meu pai não perceber nada de errado. Diane não sabe nada do estúdio de dança, não ia falar para o meu pai sobre as líderes de torcida, com certeza não iria falar, porque ela está envolvida e se meu pai soubesse a origem da competição, uma guerra de comida no refeitório? Com certeza ficaria furioso... Entretanto, pelo sorriso no rosto, ela se divertiu fazendo isso, me colocando em maus lençóis, ou quase.

– Então, realmente estava na hora de cada uma de vocês encontrarem uma atividade física, Lola na academia e Diane voltou para o tênis – meu pai diz orgulhoso – tudo bem, filha, está liberada, tenha uma boa noite e lembre-se da nossa conversa.

– Claro, papai – falo sorridente demais e quando saio da mesa, quase tropeço entre meus próprios pés, mas recupero o equilíbrio e continuo em pé – eu vou colocar uma música clássica no meu quarto, minha professora da academia disse que estimula o cérebro, baseado numa técnica recente... Chinesa – chuto sentindo os olhos de Oliver urgente, implorando para que eu parasse de falar – enfim, boa noite, espero não ser incomodada.

Teoria da Serendipidade [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now