3. Try

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– Eu acho que está pronto.

Viro a panqueca em direção ao prato e tenho uma visão melhor do café da manhã. Oliver estica o pescoço para poder ver e faz uma careta quando percebe que estão levemente torrados.

– Deveria estar tão escuros assim? – ele questiona agitado.

– Acho que deixei tempo demais, – respondo enquanto ele ajusta o aparelho na orelha – mas valeu a pena acordar mais cedo para fazer panquecas.

Quando chegamos aos Estados Unidos, Oliver e eu estávamos tentando testar nossas habilidades gastronômicas enquanto acostumávamos com a cozinha americana. Admito que prefiro a culinária do meu país de origem, principalmente os doces franceses: éclair que eu sempre dava um jeito de comer nas confeitarias que visitava frequentemente, mas, somos uma família americana agora, seria bom nos adaptarmos.

– Agora... – pego o chantilly na geladeira e despejo em cima das panquecas, meio emburrada ao ver que não fica no formato gracioso que eu tinha imaginado – Bon appétit, monsieur.

Levo o prato com as sete panquecas até a mesa do café da manhã que está sendo preparada pela empregada. Sento ao lado de Oliver que levanta os garfos, faminto para dar a primeira mordida.

– Claro! Vai ser ótimo, melhor notícia que eu poderia receber nessa manhã triste de terça – ouço a voz de Diane se aproximar – Podem contar comigo, com certeza – ela dá um sorriso meio forçado e desliga logo em seguida.

Diane está bem elegante nessa manhã, usando uma saia preta apertada, combinando com uma blusa de seda bem leve. Noto que é a primeira vez que usa os coturnos brancos que comprou na França, custou uma fortuna e sei que se ela está com eles, é porque quer impressionar alguém.

Fico com inveja doentia ao vê-la tão bonita, a roupa que lhe cai bem, as pernas são finas, a blusa de seda é solta e não faz o seu corpo aumentar de tamanho, como aconteceria comigo. Ela continua magra, bonita e radiante.

Comparar nunca é algo saudável de se fazer, mas antes que eu me impeça de fazê-lo, minha mente acaba me traindo e trabalhando contra os meus esforços.

– Bom dia, Diane – falo animadamente – panquecas?

– Diga ao meu pai que não vou poder ficar para o café da manhã, vou para o colégio mais cedo – ela dá um sorriso sem graça para mim e pega uma fruta em cima da mesa.

O desespero surge em meu rosto.

Faz duas semanas e alguns dias que estamos tendo aula e em todos esses dias, não consegui, uma vez sequer pegar carona com Diane para o colégio, ela sempre dava uma justificativa e eu era obrigada a aceitar e ir de bicicleta. Quando eu acordava no horário combinado, ela sempre estava de saída, nas poucas vezes que consegui acordar mais cedo que o habitual, ela disse que iria se atrasar para a primeira aula e disse para que eu fosse de bicicleta para que eu não tivesse problemas com papai. 

– Pensei que poderia ir de carro com você e...

– Que bom que tocou nesse assunto – Diane fala e ajeita o cabelo ao redor do rosto – prometi dar carona para umas amigas até o fim do semestre, elas moram longe do colégio e é complicado para elas, o carro vai ficar lotado, sem espaço para você... Mas, você entende, não é, Lola? Nem todo mundo tem a mesma condição que a gente.

Pisco os olhos, confusa.

– Claro – falo automaticamente, sem pensar muito a respeito, tentando sorrir mesmo quando sinto a garganta fechar – eu estou bem com a bicicleta.

Teoria da Serendipidade [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now