nós devíamos morar aqui

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Eu e Noah nos sentamos no que sobrou da casa. Só tem galhos, restos mortais de insetos, algumas sujeiras e, sobretudo, ramos de árvores. Tenho medo dessa coisa cair, mas eu acho que não tem como. Vi que a estrutura ainda está bastante firme quando subi, dei alguns pulinhos para me certificar. Claro que Noah ficou choramingando dizendo que a madeira iria romper, iríamos cair e quebrar a fíbula — por que tão específico, sendo que esse papel é meu? Ok, deixando isso de lado, acontece que não vamos cair tampouco quebrar a fíbula (seja lá o que isso seja). Estamos bem e vivos aqui 🤠.

— Nós devíamos morar aqui — ele comenta, olhando ao redor, o vento surrupiando a camisa que eu lhe arranjei no meu quarto. — É espaçoso, tem uma bela vista para a casa e é cheio de natureza.

— Incrível — deito os olhos numa parte da casa que conseguimos ver. É as costas da biblioteca.

— As crianças viveriam bem — Noah põe a mão sobre a minha. Começou o grude...

— Que crianças?

— As nossas.

— Tá maluco, maluco? — agora nem estou tão focado na conversa, porque de longe eu vejo minha mãe com meu avô conversando ali perto do pátio. Hm...

— Eu estou maluco por você... — eu acabo não percebendo a movimentação de Noah, senão teria impedido-o com suas intenções em me beijar o rosto.

— Ok... — não tiro os olhos do meu avô, porque agora ele apresenta um papel a minha mãe e ela fica lendo com a maior atenção do mundo. Hm... Acho que já sei do que se trata tudo isso. Acho.

— O amor da minha vida, razão do meu viver, oxigênio do meu H²O... — Noah continua com os beijos e carícias, porém só me incomodam ao ponto de eu tentar me afastar, porque estou me distraindo com a espionagem.

Droga, era para eu ter um binóculos! Eu tinha um binóculos quando era menor, agora não tenho mais. Mas não tem problema. Eles estão conversando... Conversando... E enquanto isso, Noah chega mais perto e fica beijando meu queixo, sussurrando coisas carinhosas... Eu não consigo prestar atenção em duas coisas ao mesmo tempo, por isso prefiro olhar meu avô. Ele tira o telefone do bolso, cutuca alguma coisa e... Porra, meu celular começa a tocar! Ele está me ligando!

— Shh... Noah — me afasto do americano e pego meu celular. Respiro bem fundo antes de atender. — Vovô, oi...

— Você está namorando com aquele menino, é? — ele nem me cumprimenta, já vai direto ao ponto. Sempre foi assim.

— Quem te disse? — a egípcia é minha melhor amiga.

— Sua mãe me contou — e, como esperado, é o que me diz. — Você disse anteontem que não iria namorar com ele, já que vai viajar ano que vem. Qual o sentido disso?

— Eu tomei uma decisão impulsiva — explico, virando-me para olhar Noah, que cutuca meus cadarços com um graveto. — Eu raramente fico agindo pela emoção... Mas dessa vez foi. Eu realmente estou namorando com ele.

— Você está sendo muito confuso e está se contradizendo, Josh — ele me alerta e é verdade.

— Desculpa, meu vô — suspiro.

— Seu pai vai chegar daqui a uma hora... E eu já contei a sua mãe. Então tudo vai estar resolvido em breve.

— Ainda tenho que pensar no assunto?

— Com certeza.

Ele desliga o telefone sem nem me deixar responder. Eu suspiro outra vez, agora Noah me pergunta qual o problema. Acho que está na hora de contar.

— Olha... — cruzo as pernas e olho nos seus olhos. — Eu tenho algo para te dizer.

— Vamos mesmo nos casar? — ele brinca.

— Não, Noah... — reviro os olhos. De vez em quando perco um pouco de paciência com ele. — É sobre uma proposta de trabalho que consegui.

— Oh... Tá tudo bem?

— Uhum — balanço a cabeça. — Mas eu vou precisar me ausentar — como ele não responde nada, continuo: — Por alguns meses... Então, eu não queria começar um namoro sem te dizer isso. O porquê de eu não ter pedido antes a você é que eu estava com medo de tudo terminar entre nós.

— Vai ser quanto tempo?

— Inicialmente, quase uns quatro meses — calmamente vou explicando. Eu não quero que ele fique triste ou chateado, porque está na cara a sua animação acerca desse nosso namoro. — Mas em algum outro momento do ano pode acontecer outra vez.

— Isso só vai ser ano que vem?

— Não, se renovarem uma nova temporada. Olha, é um programa de televisão que vai ser gravado em vários lugares e eu vou apresentar. Entendeu? — quando digo isso, ele aquiesce numa balançada de cabeça. Ele está sério. — Dessa vez eu quero te contar, ao invés de... Bem, deixar tudo para última hora e brigarmos de novo. Está tudo bem por você isso?

— Tenho umas dúvidas... — enquanto se distrai, ele acaba desmanchando o laço que fiz no meu cadarço.

— Eu entendo — me inclino para acariciar seu cabelo e ele me deixa realizar o carinho. — Olha... A gente vai poder falar por chamadas, mensagens... Que nem quando você foi ficar com sua família e eu tive de ir à Espanha.

— Acha que vai dar certo? — agora ele parece bem preocupado, vendo pela sua expressão. Ele está olhando para o meus tênis ainda.

— Se a gente tentar, vai dar certo — encolho os ombros.

Espero que dê certo. Realmente espero que dê certo. Eu posso tentar fazer dar certo. Posso tentar. Real. Se estivermos em horários opostos, nem que seja apenas meia hora, eu quero ligar para ele e perguntar qualquer coisa durante a madrugada. Eu ligá-lo durante algum intervalo, qualquer que seja. Porque, pela primeira vez na vida, eu sinto que tenho certeza de algo que fiz com base nas minhas emoções. E eu não queria pedir desculpas ao meu avô por isso, ainda que tenha feito. Eu tinha dito que não iria namorar, mas eu o fiz e está tudo bem. Não agi por impulso. Eu tive semanas e semanas para pensar, para considerar tudo... Só que, no final, eu decidi jogar tudo para cima e aceitar o óbvio: eu estou apaixonado por ele e quero ficar com ele.

— Vai dar certo, sim — eu repito, vindo até ele para abraçá-lo. — Fique comigo, por favor. Você ainda quer namorar?

— Claro, Josh. Não importa isso — sinto o beijo que ele deixa na minha bochecha. — Não se preocupe.

E, sinceramente, neste momento sou o homem mais feliz do mundo.

crises et chocolat  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedWhere stories live. Discover now