nós só queremos cuidar de você

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Quando eles voltaram, estavam silenciosos como sempre e não se falaram em momento algum. Malmente olhavam no rosto um do outro. Mas em grupo, todos nós rimos e conversamos, inclusive eles dois. E quando Krystian teve que ir embora, Lamar estava no banheiro. Depois disso todo mundo foi embora, menos Noah e Lamar, e me fizeram dormir com um copo de leite e carinho na cabeça. O leitinho foi por conta de Lamar, já o carinho foi Noah. Dormi que nem Bela Adormecida.

Agora sinto-me estranho, exausto e abatido. Sei que já é manhã, porque os pássaros lá fora cantam, mas aqui dentro ainda está escuro e eu estou exausto. Meu corpo está dolorido, mas mesmo assim eu me sinto da mesma maneira de ontem. Só me sinto mais cansado. Bem mais cansado. Como se algum parasita tivesse arrancado toda a energia. Quando olho ao redor, percebo o quarto, o meu quarto, e ao lado da cama tem a bancada com uma cartela de remédios e um copo vazio. Provavelmente tomei remédio de madrugada. Não sei. Acho que não ando me recordando muito bem das coisas.

Dizem que nós jovens temos memórias frescas, mas a minha é muito seletiva. Acho que sou bom com receitas culinárias, mas no dia a dia não lembro de quase nada. Tenho ficado doente. Ou talvez eu me sinta doente agora. É, sim, deve ser esse gesso chato que não me deixa dormir deitado como uma pessoa normal. Dormi muito mal. Lembro de ficar encarando o teto boa parte da noite, e nem pude virar para os lados, porque não posso. Que ódio. Pior de tudo que não estou sentindo nada.

O despertador do celular de Noah começa a tocar. Ele se move lentamente na cama, o que me assusta de início, mas depois percebo que faz muito sentido ele estar dormindo aqui comigo. Pisco os olhos algumas vezes. O despertador continua tocando.

— Hm... que saco — resmunga baixinho com a voz rouquinha matinal. Ele desliga o despertador e senta-se na cama. — Bom dia, vida. Dormiu bem?

— Não.

— Poxa — sinto seu braço direito na minha cintura. — Meu carinho não te ajudou?

— Eu fiquei dormindo e acordando.

— Você tá bem? Você ficou chorando de madrugada, dizendo que estava sentindo muita dor e que o braço estava latejando   sem parar — ele desliza a mão até minha barriga e me faz um carinho gostoso. Estou deitado de barriga para cima ainda. Eu odeio ficar assim o tempo todo. — Fiquei muito preocupado. Mas você tomou o remédio e depois melhorou.

— Eu estou entorpecido — respondo.

— Entendi — ele solta um suspiro. — Fica aí, eu preciso tomar banho. Tenho que trabalhar. Tenta cochilar.

Eu balanço a cabeça positivamente e vejo-o se levantar todo desengonçado enquanto conserta a cueca. Ele vai ao banheiro e me deixa aqui. Não consigo dormir e isso não me surpreende. Estou com o corpo destruído, mas ao mesmo tempo está entorpecido. É difícil explicar. Acho que sei que posso estar sentindo dor. Eu sei que estou. E isso me deixa mais desesperado ainda. Eu odeio sentir dor.

Pensar nisso ocupa muito tempo, tanto que Noah já está saindo de toalha do banheiro. Ele vai até o closet e só sai de lá parcialmente vestido. Penteia o cabelo em literalmente quarenta segundos e usa um perfume que eu nem sabia que ele tinha trazido para cá. É legal assistir alguém se vestir. Só que tem um problema... eu não estou fazendo nada para me vestir também.

— Ai, esqueci de trocar de roupa! — projeto meu corpo para frente, com o intuito de sentar. Sinto-me levemente zonzo (porra de remédio filho da mãe), mas nada que uns segundos parados não resolvam. — Vou sair também.

— Ah, você não vai — Noah diz.

— Vou, sim — deslizo o corpo pela cama até pôr os pés no chão. Sinto-me meio tonto, mesmo assim caminho para o banheiro. Estou vestindo a mesma roupa de ontem que os meninos levaram ao hospital. Se eu não tomar banho e me vestir rápido, consigo descer a tempo.

crises et chocolat  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedDove le storie prendono vita. Scoprilo ora