nós somos o prato mais bagunçado que surgiu do restaurante

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O restaurante está cheio. Eu estou feliz e não paro de sorrir. As pessoas mais importantes da minha vida estão aqui. Eu poderia dizer que foi sorte, mas seria um equívoco. Trabalhei muito para isso.

O homem que encaro no espelho é diferente do início, de quando tudo era novo demais e eu tinha certeza de como seriam os próximos cinco anos. Agora, não sei bater o martelo em relação a nada. Tudo pode mudar.

Ajeito o dólmã apressadamente. Tem um cara conversando no telefone dentro de uma cabine do banheiro e eu não quero escutá-lo falar sobre como a esposa dele fez o favor de não passar direito o seu terno. Apenas deixo o espaço, quero estar ao lado das pessoas que mais gosto.

Quando saio, o burburinho de outrora se torna uma espécie de megafone contra os meus tímpanos. Eu sorrio quando alguém me cumprimenta e eu acho que não poderia estar mais feliz. Passo por todo mundo, mas um fotógrafo me pega no meio do corredor e decide tirar uma foto minha. Eu sorrio. Não poderia estar mais feliz.

Sabe, estou mais leve e muito mais alegre. Entro na cozinha com entusiasmo e, caramba, eu estou tão entusiasmado! Nada parece me parar e sinto que estou a meio caminho andado de tudo que eu quis me tornar. Eu tenho uma casa incrível, um emprego incrível, meus amigos são incríveis e, embora boa parte da minha família não preste, neste momento eu nem estou ligando para eles.

— Joel — chamo-o. Ele se vira no mesmo instante. — Pode ir preparando o Petit Gâteau da mesa nove e a três?

— Sim, chef! — sua agilidade em separar os materiais ainda me surpreende.

— Erick — chamo-o. — Como está o molho para o Taeyonbokggi?

— Quase pronto, chef! Mais cinco minutinhos! — ele sorri ao levantar o olhar para mim.

Um chefe põe sobre o balcão dois pratos. Um é Cassoulet e o outro é Bucatini allamatriciana. Termino a apresentação de ambos e aciono um dos garçons para servir. Ele vem tão rápido que eu mal acompanho.

— Mesa... Quatro — checo rapidamente a comanda e entrego a ele.

— Sim, chef! — o garçom segura graciosamente a bandeja e coloca ambos pratos nela. Após isso, ele se afasta para servir.

Consigo escutar daqui a música vinda do palco. Eu não sabia que um violoncelo e um piano poderiam causar tanto num espaço. Sério, isso está incrível.

— Josh! — a voz de Lamar chama minha atenção, no instante em que estou provando o molho do Taeyonbokggi.

— Oi, diga — afasto-me dele só para pegar um pouco de sal. Salpico um pouco no molho, não preciso medir. Acabo fazendo pelo bom e velho olhômetro. Viro-me para Erick que, por algum motivo, está abrindo a geladeira. — Erick, fique de olho no sal.

— Perdão, chef! — o bestinha bate continência para mim.

— Mais atenção, mais atenção... — exponho minha advertência.

— Certo, chef — aquiesce ao inclinar a cabeça.

— Josh — Lamar me chama outra vez. Olho para ele, na porta da cozinha com seu terno branco e preto, o iPad e a Apple Pencil na mão. — Tem dois jornalistas querendo falar com você. E um dos críticos já chegou, então seria legal você ir lá cumprimentar. Ah, e Kristian e companhia limitada já estão aqui também.

Encaro-o por míseros cinco segundos em silêncio.

— Com companhia limitada você quer dizer...

— Sim, o Bailey e... Bem, você sabe... O Noah — sua hesitação ajuda-me para ficar meio sem reação, apenas olhando seu rosto e pensando no que responder. — Seria legal passar lá e dar um alô.

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⏰ Last updated: Nov 10, 2023 ⏰

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