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Eu sei que coloquei na minha cabeça que Josh não vai morrer sem mim. No entanto, devo ser sincero, aquele “preciso de você" foi o meu calcanhar de Aquiles. Depois que a palestra terminou, fiquei batendo papo no campus com Daniel e Johnny (ele também assistiu a palestra), chupando bala e trocando comentários cheios de palavras bonitas sobre o que ocorreu durante a palestra. Mas não consigo ficar assim de bobeira. Porque vai que o Josh realmente precisa de mim? Não quero desapontá-lo, eu simplesmente não sou assim.

— Galera, vou ter que ir — puxo minha mochila para perto. — Foi ótimo estar aqui com vocês.

— Já? Nem fomos jogar sinuca — a carinha do Daniel me faz rir.

— Jogar sinuca é tão coisa de velho. Mas eu gosto, porque consigo humilhar vocês dois — Johnny sorri alegremente.

Eu reviro os olhos e me levanto.

— Você não tinha que estar trabalhando?

— Estágio. Eu tenho quantidade de horas limites para trabalhar durante a semana. Está na lei, está na lei. Já cumpri minhas horas. Se quiser, eu caço alguém de Direito para te dar um lacre — a fala dele me faz gargalhar. Odeio sair desse corpo mole gostoso que fico quando estou batendo papo na faculdade.

— Ok, ok — ponho a alça da mochila nas costas. — Tchau, então. Tchau, Dan.

— Traz lanche para mim segunda? Ou pelo menos vamos sair juntos para comer depois da aula.

— Qual a sua última aula? — pergunto, já caminhando para trás.

— Antropologia, se me lembro bem.

— Qual prédio?

— O primeiro.

— Tá, eu passo lá quando eu voltar de Filosofia Política.

— Uhum!

— Bye, Noah! — Johnny dá um tchauzinho e eu sorrio ao retribuir.

Após alguma caminhada, eu saio da faculdade e pego um ônibus. Lembro que o Josh mencionou estar com dor de cabeça, então passo na farmácia assim que chego no seu bairro. Já é tarde, nem almocei, só comi pipoca e balas com o pessoal na faculdade. Também comi um pouco no coffee break, mas só foi um pãozinho e um copo de suco sem gosto. Eu deveria ter comido mais, só que não senti necessidade. Agora minha barriga está implorando por comida, mas eu só faço agradecer ao farmacêutico após pagar pelo medicamento.

Eu passo numa floricultura e compro um pequeno arranjo de astromélias amarelas. Alguns dizem que ela simboliza amizade duradoura, bom para presentear alguém que você ama bastante e quer que fique na sua vida por muito tempo. Outros dizem que ela simboliza saudade e agradecimento, perfeita para presentear alguém que não se vê há um tempo. Eu gosto de acreditar que são ambos, porque quero ambos. Foi cara para cacete também, porque ela prefere clima bem quente e equatorial, não foi cultivada aqui. Mesmo assim, eu quero dar isso ao Beauchamp. Acho que, em todo, ele não é uma má pessoa. Ele só faz escolhas ruins e acaba não pensando em como isso irá repercutir na vida de outrem.

Chego na sua casa e, ao invés de tocar a campainha, ligo para seu celular.

— Oi, eu tô aqui na sua casa. Posso entrar? — falo, assim que ele atende.

— Oi? Ah, sim, sim... Ahn.. pode sim, ok... — seu modo apressado e nervoso de falar me deixa com um sentimento estranho.

Desligo a chamada e guardo meu celular no bolso. Segurando o buquê numa mão só, digito a senha da sua porta e entro sem pestanejar. Não tem ninguém na sala, mas noto movimentação no andar de cima. Então eu tiro meu tênis. Aperto o buquê nos dedos e vou subindo os degraus.

crises et chocolat  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde as histórias ganham vida. Descobre agora