crises et chocolat ✰ Nosh ❖ Now United

nós somos tudo o que você queria ser

Ele me traiu. Eu não quero conversar sobre o que aconteceu. Não vai adiantar, ele vai fugir, eu vou ficar sendo paciente, no final tomo no cu e passo a noite inteira pensando em como abordar assuntos. É inútil. Ele me traiu e pronto.

Ele disse que não poderia me levar ao evento, mas levou o Christopher. Ficaram juntos o tempo inteiro, tiraram inúmeras fotos. Em algumas, estiveram muito próximos ao ponto de Christopher ter seu braço ao redor de Josh. Eles provavelmente beberam demais. Foram para a casa de Josh. Josh bêbado ama mais sexo do que o fato de estar vivo. Eles transaram. Dormiram juntos. Não sei se Josh se arrependeu. E então, quando eu disse que não poderia ir ajudá-lo com a televisão, ele chamou Christopher para ir no meu lugar. E eles não transaram. Eles quase transaram. Provavelmente estavam se agarrando na cama (única explicação para o lubrificante estar do lado de fora e Josh estar explicitamente excitado), prestes a transar, mas eu cheguei na hora errada e eles ficaram daquele jeito todo estranho. Tentaram disfarçar, mas não adiantou. Eu percebi. Simplesmente percebi.

Eu não contei aos meus amigos de início, mas depois de dois dias abri o jogo. Eles falaram que eu estou tirando conclusões precipitadas, mas eu não estou nem aí. Não quero ser tirado de otário. Não quero.

Não conversei com Josh depois disso. Ele me mandou mensagem um dia desses perguntando se eu queria ir ver um filme. Eu disse que não, que precisava estudar. Não era mentira, veja bem, eu não minto tanto assim. Precisei estudar. Saí com Daniel algumas vezes, com Johnny também. Bailey e Krystian são perfeitos para jogar e beber, mas são péssimas companhias para assistir um filme — não param de conversar. Eu preferi assistir com eles, porque eu ando com medo de ficar com o Josh. Bem, depois da traição, é difícil encarar alguém.

Mas não é só sobre isso. Ele vem me deixado de lado, eu só quero facilitar. Tem postado fotos tarde da noite e stories de comida regularmente. Acho legal, reagi algumas vezes, mas por dentro meu coração amarga e às vezes eu fico pensando em chorar baixinho, do tipo que ninguém escuta, mas dá vontade de gritar.

Eu tenho medo de sofrer e as pessoas acharem que fico me vitimizando.Tenho medo de sofrer e eu achar que estou me vitimizando. Então provavelmente eu esteja apenas ignorando meus próprios sentimentos com medo de me arriscar demais. Ninguém entenderia e, no fim, eu ficaria sozinho mesmo, porque nem o Josh me suporta às vezes. É estúpido pensar que amar alguém é aguentá-la em todos os momentos possíveis. Eu mesmo agora gostaria de meter minha cabeça contra a porta do meu quarto. Mas estou aqui, segurando um copo de vodca e pensando quais formas de matar a mim mesmo ainda restam para eu experimentar.

Veja bem, eu fumo, então posso ter câncer. Beber demais me dá cirrose. Já usei algumas pílulas, então poderia topar numa overdose. Eu vivo tropeçando pelos cantos, então cair em frente a um carro é moleza para mim. E se um dia eu deixar o cigarro aceso cair em algum lugar e não perceber, acho que verão meu corpo esturricado perto do sofá. Só estou levantando esses pontos porque é isso, eu sou muito bom em fazer mal a mim mesmo.

Envolvo-me em situações problemáticas e, aparentemente, com pessoas problemáticas. Vamos agora falar sobre mim, ok? Já não há mais espaço para falar do Josh. Comprei um perfume da Johnson's baby recentemente e, embora ele não resolva exatamente nada na minha vida, gosto de pensar que ainda sou um ser delicado que não sabe muito bem o que fazer da vida. Quero pensar assim sobre mim mesmo, porque no final sou eu quem me rotulo de qualquer modo. Eu não me considero assim problemático, é só que estou cansado de achar que o erro sempre sou eu porque as pessoas simplesmente põem a culpa em mim. Tudo bem, pode colocar. Acho que agora eu tenho noção do que é ego, realidade e insegurança.

Se eu tivesse um ego forte e grande, como lindamente diria Beyoncé, provavelmente eu não iria tomar partido de nada, não iria me responsabilizar, iria me achar muito bom para ter feito aquilo. E se eu continuar deixando minha insegurança me guiar, eu sempre vou achar que é culpa minha e vou me culpar. E não deveria viver assim, cruzes! Dizem por aí que insegurança se percebe. Eu não quero que as pessoas me leiam desta maneira. Sou mais que uma voz baixinha e trôpega ao perguntar ao funcionário onde fica o banheiro. Não é só sobre insegurança, é só... sobre mim. Eu, Noah, que sou mais que um namoro fadado ao fracasso e notas ligeiramente boas na faculdade. Sou mais do que uma noite de choradeira e apresentações esteticamente agradáveis. Talvez eu seja o Noah que canta de madrugada, escutando nos fones, no escuro do quarto, letras de rap cheias de apologias sexuais. Eu não sou tão santo assim. Não sou tão bom assim. E é legal ter minha própria presença.